Tragédia em Mariana inspira escritora Ana Rapha Nunes em livro infantojuvenil

Redação Recorte Lírico

O Projeto Recorte Lírico inicia essa semana mais uma nova pauta em suas plataformas,   é o Recorte Entrevista. E para iniciar com o pé direito, escolhemos a escritora Ana Rapha Nunes para dar o pontapé inicial em grande estilo. Carioca, professora da área de Letras, leciona tanto para alunos do ensino fundamental quanto para graduandos, principalmente na formação textual. Seu novo projeto traz uma história que ainda está vivíssima nos noticiários e na lembrança do povo brasileiro, trata-se da tragédia ocorrida na cidade de Mariana, onde o rompimento de uma barragem de uma mineradora ceifou dezenas de vidas inocentes.

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Ana autografou o livro que sortearemos no Facebook.
Um dia após lançar o seu primeiro livro “A lua que eu te dei”, Ana foi impactada pelas notícias da tragédia e imediatamente imaginou convicta: “Escreverei sobre Mariana”. Não demorou muito tempo e a autora nos contou sob a perspectiva da personagem homônima que um olhar inocente pode enxergar esperança em meio ao caos. E o livro “Mariana” nos revela um caráter guerreiro que existe não só na personagem principal da narrativa, mas também se confunde com a vida e os desafios enfrentados por Ana, que perdeu sua mãe ainda muito jovem e nos conta histórias de esperança muito em função disso.

Ana Rapha Nunes nos confidenciou suas motivações e influências literárias, que passa por Guimarães Rosa, seu favorito, Cortázar, Monteiro Lobato, Machado de Assis, Clarice Lispector, entre outros. O bate papo foi bacanérrimo e você pode conferir aqui.

RL – A obra Mariana retrata por meio dos olhos de uma menina de 12 anos a tragédia na cidade mineira de mesmo nome. Conte-nos sobre o processo de criação da personagem principal.
Ana – Esse acontecimento em Mariana foi um fato que me marcou muito, pois aconteceu um dia após o lançamento do meu primeiro livro “A lua que eu te dei”, então eu estava em um momento muito feliz da minha vida e aconteceu a tragédia, neste instante eu disse que iria escrever sobre isso. Poxa, tem uma cidade chamada Mariana e uma menina chamada Mariana que é convencida a mudar devido ao nome da cidade. O momento mais difícil de escrever foi o da tragédia, não queria fugir da realidade, mesclando o lado doce, inocente e esperançoso com o trágico, da perda.

RL – Como é tratar um assunto tão verossímil, trágico e emblemático em um livro infanto-juvenil. Afinal esse público tem uma mentalidade muito peculiar; como suavizar esse tema?
Ana – Eu tentei dosar a tragédia com a vida de Mariana, pois o livro fala sobre a vida da personagem. A tragédia aparece somente em trechos do livro. Então, basicamente o livro fala de sonhos, fala de superação e coragem, este é o tema principal da obra. Ao passo que acontecem coisas ruins também ocorrem coisas boas em meio à tragédia, e a ideia não é esquecer o fato, mas sim lembrar e mostrar que há esperança.

RL – Sobre o fator psicológico da Mariana, o que você tem a dizer?
Ana – Muita gente pergunta se a Mariana sou é, a resposta é que não. Obviamente tem coisas minhas, mas em geral ela é uma menina doce, cheia de sonhos, carinhosa, esperançosa, mas tem um lado “revoltadinha” da adolescência. Então essa personalidade tem um pouco de muitas pessoas que conheci ao longo da vida, especialmente os meus alunos.

RL – Falando um pouco da parte de mercado, quais são suas expectativas quanto ao alcance do livro?
Ana – O meu sonho, por falar em sonhos (risos), é que meu livro chegue ao Brasil todo, principalmente em Mariana. Gostaria muito que os mineiros soubessem que têm um livro sobre eles e para eles, que alguém quer falar sobre aquilo que aconteceu e quer divulgar o sofrimento deles. E trazer para as crianças essa realidade para que eles cresçam sabendo o que acontece no país e para que aprendam a lidar com as coisas que podem acontecer ao longo de suas vidas. Eu tenho vontade de retratar coisas cotidianas, tragédias e catástrofes que não são naturais, até para reavivar a literatura nacional mesmo.

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Ana com a equipe do Recorte Lírico
RL – Sabemos que a tecnologia chama muito a atenção dos adolescentes, com seus tablets, smartphones, notebooks, etc, fazendo com que eles percam o interesse pelos livros. Como professora, você acha que a literatura está perdendo espaço para o mundo da tecnologia?
Ana – Realmente, os adolescentes querem smartphones e notebooks. Eu acho que tem outro lado, que se a escola tem recursos, você pode incentivar trazendo um vídeo, trabalhar com e-books… Dá para aliar uma coisa à outra, o que falta é a escola se adaptar, pois ainda estamos no tradicional, no mundinho da escola, e o adolescente vive em outro mundo. Então, são dois universos paralelos e aí não dá certo mesmo. Há essa necessidade de adaptação da escola sim, ela precisa enxergar que a tendência é ser cada vez mais virtual. Claro que ainda existe aquele fetiche de pegar o livro, cheirá-lo e analisar a capa, até porque muitos não conseguem ler um livro em PDF. E tem números que dizem que os livros impressos ainda são superiores aos virtuais. Então, a proposta é adaptar-se.

RL Existem muitos escritores que estão iniciando suas carreiras no país. Poderia deixar um recado ou uma dica para que eles mantenham esse sonho vivo de publicar suas histórias?
Ana – A dica é não desistir, pois não é fácil, é um trabalho árduo, mas recompensador se for persistente. Você nunca deixará de ser escritor, é todo dia. E tem uma dica que eu ouvi e nunca mais esqueci e levo para a minha vida: É que o escritor tem que estar sempre divulgando um livro que acabou de lançar, com outro prestes a publicar e escrevendo uma nova história. Esta é a fórmula! 

O texto é uma produção colaborativa da equipe Recorte Lírico.

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