Lucas Buchile lança primeira obra com temas infantojuvenis

Redação Recorte Lírico

O autor curitibano Lucas Buchile lançou no dia 05 de março o seu primeiro livro, o “Enquanto eu crescia”, na IV Festa Literária da Editora Inverso. O livro narra a história de um menino que tinha o desejo de ser grande, que tinha olhos de girassóis e bichos na barriga. Buchile nos contou em um bate-papo como começou a escrever histórias infantojuvenis, com forte carga emocional presente no enredo da trama. Além de falar do livro, o autor nos confidenciou histórias familiares que o motivaram a sair um pouco do teatro, no qual é ator e diretor, e ingressar de vez na arte da escrita, ao qual já tem certa familiaridade atuando como contador de histórias. 

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Lucas Buchile lançou em 2016 o seu primeiro livro. (Foto: Acervo Pessoal)
RL – Para iniciar, queremos saber um pouco do Lucas, sua carreira como ator e quando começou a produzir literatura infantojuvenil.
Buchile – Então, eu nunca trabalhei diretamente com a produção literária, eu tenho formação em artes cênicas, fiz uma primeira graduação em interpretação teatral e outra em direção, mas desde cedo eu já trabalhava com o teatro e dialogava com a literatura. Trabalhei em um museu, na casa que o Monteiro Lobato nasceu, então lá a gente trabalhava às obras cênicas a partir da obra do Lobato, então a troca com a literatura aconteceu muito antes do livro que publiquei, mas na época nós fazíamos uma troca, por que não costumo falar que traduzíamos para o teatro, nós respondíamos cenicamente a leitura da obra do autor, inclusive isso se confirmou na “Iluminados”, companhia teatral que participo, onde quase todas as produções partem da literatura. Quando eu comecei a trabalhar no projeto “Curitiba lê”, o meu contato com a literatura ficou mais forte, quando comecei a atuar como contador de histórias para crianças, tive experiências fantásticas, por que a literatura tocava uma zona de subjetividade nelas que eu achava incrível, eu lia para as crianças e elas respondiam de uma maneira muito simbólica para mim, eram leituras muito complexas. Quando eu percebi o alcance dessa zona de subjetividade nelas, e a complexidade que existia nisso, senti, imediatamente, vontade de dialogar mais com essa zona de sensibilidade, porém se eu dialogasse diretamente com elas, seria muito invasivo, pois quem as sensibilizava era a literatura, então a minha produção literária surgiu desse interesse em estabelecer um diálogo mais amplo com essa parte sensível da criança.

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O autor também atua como contador de histórias para crianças. (Foto: Acervo Pessoal)
 RL – Como o público que você dialoga é o infantojuvenil, como escolheu a melhor linguagem para estabelecer uma aproximação com essas crianças?
Buchile – Para ser sincero, eu ainda tenho muitas dúvidas a cerca da linguagem que eu uso. Eu escrevi esse livro da forma que tive condições de escrever, pelo menos naquele momento. Eu até tentei colocar o livro em uma linguagem mais coloquial, cotidiana, mas tudo o que eu escrevia dessa forma eu não gostava. Sabe quando parece que não atinge um resultado satisfatório?! Eu lia, jogava fora, e isso se repetiu várias vezes. O meu medo era não estabelecer esse diálogo, que fosse abstrato demais a linguagem… Mas apesar de não ser tão coloquial, o livro não tem uma linguagem rebuscada, complexa demais, inclusive tem uma linguagem muito lúdica, se você for pensar na criação de imagem, mas reconheço que não é uma linguagem que a gente trata com a criança no dia-a-dia. Todavia eu tenho experiências com a leitura infantil, de escritores melhores do que eu (risos), que também não me subestimavam. As imagens metafóricas que na época de criança eu não alcançava, de alguma forma faziam sentido para mim, e isso era fundamental.

RL – Falando um pouco do livro, nos conte sobre as inspirações que motivaram a escrita e o desenvolvimento da história.
Buchile – O “Enquanto eu crescia” ele surgiu muito de uma experiência pessoal, mas ele não se intitula como um livro autobiográfico, por que de fato não é a minha história, mas é ao mesmo tempo, entende? (risos). A gente escreve mentiras para falar sobre as nossas verdades. Então, tudo partiu da forte relação que eu tive com a minha avó materna, inclusive a dedicatória é para ela, e quando eu ainda tinha dois anos, o trem passou por cima do pé dela, e ela quem cuidava de mim na época, e ela me dizia que quando o trem estava passando por cima do pé dela, e ela viu o pé sendo decapitado, ela olhou pro céu e viu a minha imagem – isso ninguém sabe – e durante muitos e muitos anos eu cresci com esse estigma de ser o neto predileto, como se fosse o anjo da guarda dela, e isso era uma responsabilidade que eu achava demais para mim, esse “lugar” de ser o preferido era algo muito desconfortável, e eu a amava muito… E quando ela morreu, eu descobri o luto, pois nunca havia tido experiência de morte na minha vida, e a morte dela foi muito difícil, por que apesar do amor que eu sentia por ter sido cuidado por ela enquanto minha mãe trabalhava fora, tinha também um pouco do alívio desse peso de ser o neto predileto, pois não tinha a figura dela e eu não precisaria ser predileto para mais ninguém. Isso eu não tinha consciência na época, só descobri esse conflito recentemente, fazendo trabalho de auto-análise. Daí um dia no ônibus eu falei “nossa, acho que é essa questão aí, de ser predileto, acho que seria muito legal escrever sobre isso”. Mas como eu não queria que o livro fosse uma terapia para esse problema, eu me afastei por um tempo desse tema, e só retomei um ano e meio depois, quando já tinha experiência suficiente para falar desse conflito, porém sem ser a minha história. O livro parte de uma experiência pessoal que eu tive com a minha avó, mas exigiu um deslocamento de tempo para eu ter o distanciamento necessário. E o Bartolomeu Campos de Queirós foi determinante, linguisticamente, para o meu livro, tão determinante que me incomoda um pouco, acho que preciso me afastar um pouco, mas como na época que escrevi eu lia muito esses caras, ainda não tinha uma identidade como autor, isso só deve acontecer no próximo livro, que está por vir.

Da Redação. 

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