POP Nobel: Por que Bob Dylan não é digno do Nobel de Literatura – por Fabio Campana

Redação Recorte Lírico

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O músico sofre forte rejeição da crítica quanto ao Prêmio Nobel. (Foto: Reprodução)
Confesso minha surpresa. Bob Dylan, músico e compositor pop, ganhou o mais prestigiado prêmio literário do mundo. Ora, pois, fico a pensar que há escritores que merecem mais do que Dylan essa glória e essa grana. Philip Roth, para dar um único exemplo. Bob Dylan ganhou antes os que correspondem ao que faz. Oscar, Grammy, Globo de Ouro e até uma citação especial do Pulitzer. Meus amigos pops, folks, punks e que tais vibraram com a novidade. Atribuem ao compositor qualidades de ativista revolucionário e de cantor que nada tem a ver com o que compreendo por literatura. Quando tentei ouvir, induzido pela contracultura nos anos 60, senti um ranço piegas que não suporto. Foi só. Eu não conheço o trabalho do Dylan que não é da minha família literária, musical, poética, política ou teatral. Sei que é um nome conhecido no mundo e pelas massas. Ora, pois, não estariam os suecos procurando dar ao prêmio uma extensão mais ampla nesta época de sociedades de massa e de alcances globais. Me dizem que até os aborígenes da Austrália sabem quem é Bob Dylan e conhecem suas baladas. Há críticos e acadêmicos com quem converso e que agora consulto que se apressam em me dizer que as qualidades do compositor ultrapassam os limites das simples letras populares. E para me sensibilizar juram que as canções folk de Dylan na década de 1960 misturavam o tom místico dos simbolistas franceses, Baudelaire e Rimbaud, com parábolas bíblicas e a poesia beat de Allen Ginsberg. Resisto e para o meu próprio consolo lembro que o Nobel não é um reconhecimento perfeito da literatura em nenhuma época. Não o deram a Borges por motivação política. E o deram a Pearl S. Buck, medíocre escritora, o que levou o genial Norman Mailler a cunhar, anos depois, uma frase antológica. “Os Estados Unidos foram vítimas de duas grandes tragédias, Pearl Harbor e Pearl Buck”. Concordo e volto a ler Borges, que em uma página me diz mais que toda a cultura de meia confecção produzida para as massas nos úlimos cem anos. O que não me impede de cultivar um gosto depravado pelo jazz e pela nossa música popular. Digo mais, entre Dylan e Cartola, daria o Nobel ao Cartola. Agora, uivem.

Texto do jornalista e escritor Fabio Campana.

Da Redação

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