Cuidado com as trevas

Farrel Kautely

Cuidado com as trevas

Tem uma pessoa que sempre que me vê me cumprimenta, pergunto como estou, pergunta da minha vida…

Tal figura mora no caminho entre minha casa e o resto do mundo, o que faz com que eu raramente não esteja com certa pressa pra passar por ali. Sequer sei o nome dela, e acho que ela não sabe o meu. Ela mora ali desde que sua casa passou a fazer parte dos meus caminhos, mas nossos nomes nunca foram falados, e isso me é uma certeza.

Hoje nomes foram perguntados. Ela perguntou da minha filha e da mãe dela. Carinhosa como sempre, vejam só. Convidei-a para vir conhecê-las quando tiverem alta do hospital, e ela disse que vem. Eu acho que não, que ela não virá, a não ser que eu a convide novamente.

Acontece que não convidarei. Vamos visitá-la, Nathália, Sarah e eu. E falaremos de amor, porque eu sei que ela me ama (de uma das várias maneiras que o amor se apresenta), e já pensei comigo mesmo várias vezes que a amava.

Não sei se haveria uma segunda visita depois… Meus caminhos já são tantos :'( Mas que os encontros rápidos serão ainda mais gostosos, ah, serão!

Além dela tem outras pessoas legais também. São tantos amores… Será que sou só eu? Porque sério, são TANTOS… Às vezes gosto de pensar que é porque sou um cara legal. Mas o que gosto mesmo é de saber que o mundo está cheio dessas pessoas legais, dispostas a tratar as outras bem sem qualquer motivo externo ou interno que não seja um tipo de, sei lá, altruísmo?.

Cheguei à conclusão de que pessoas podem sim ser naturalmente legais. Sempre detestei os que dizem coisas como “só gosto de animais, não gosto de gente porque gente não presta”, achava-as estúpidas ou (neste caso, seria uma justificativa válida) infelizes. Esse último porque implicaria que nunca conheceram pessoas legais. Acontece que esses casos são a minoria, pois pessoas legais estão por aí aos montes. Tem mais gente legal que filho da puta, não tenha dúvidas disso.

Então tenho essa conclusão: pessoas são legais. Mesmo que não com você, mas com os outros são.

Essa conclusão acaba com uma dúvida, que pega seu banquinho e vai embora. E, como é natural, outra dúvida senta com seu banquinho no espaço recém liberado. Vi-me então diante da seguinte: Mas e as exceções? Há muitas exceções por aí. Está cheio de monstros na sociedade.

Siiiim… de fato. Há aos montes. Essa se referiu aos monstros de verdade, sei disso. Tipo o vampirão do Temer e o teninte* do Cunha. Monstros que parecem ter certo gozo em fuder com os outros, como se tivessem orgasmos diante de uma idosa lavando roupa no tanque, no braço, porque não tem dinheiro pruma máquina de lavar.

Daí minha hipótese: ganância. Acho que o problema do mundo são as pessoas gananciosas. O vampirão é legal com o filho dele, sei disso. Deve ser legal com uma galerinha aí também. Mas a ganância por poder (talvez), por influência (essa tenho certeza que sim), faz com que seja cuzão com toda uma outra galerinha aí.

Então fiquem com esse conselho m… ou melhor, fiquem com o conselho de George, em sua música “Beware of Darkness” (cuidado com as trevas):

Fique atento, tome cuidado!
Cuidado com os líderes gananciosos
que levam você pra onde você não deve ir
enquanto choram os cedros de Atlas.
Eles só querem crescer… crescer e crescer.
Cuidado com as trevas!

*O que é um teninte?, você me pergunta? Bem, isso é explicado no meu livro "Repim, o teninte" (ainda não publicado).

 

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