‘Estômago’ apresenta Curitiba sob a perspectiva da culinária, da traição e da vingança
O filme Estômago, dirigido pelo curitibano Marcos Jorge, apresenta, entre outros tantos assuntos relevantes, a comida. Tema tão corriqueiro em nosso dia a dia, que pelo mesmo motivo acaba passando um tanto despercebido quanto ao seu poder de influência em nossas vidas. O longa-metragem trás exatamente esse contexto. Raimundo Nonato (João Miguel) é um imigrante nordestino que tenta a sorte em Curitiba, que, diga-se de passagem, fotografa e contracena perfeitamente com os personagens, e por acaso do destino, vai parar na cozinha de um botequim em troca de alimento e moradia.
O filme já apresenta aí contextos atuais quanto à dificuldade de firmar-se frente a um exílio regional, fato tão comum em nosso país. Ao desenrolar da trama, o novo ‘’cozinheiro do pedaço’’ faz muito sucesso com os seus quitutes e desperta o interesse de um grande empresário da culinária curitibana, para o qual começa a prestar serviços e desenvolver recursos ainda mais refinados em seus pratos. Entre as madrugadas frias e solitárias do sul do país, Raimundo conhece a prostituta Íria (Fabíula Nascimento, curitibana – nota-se aí a forte identidade regionalista do filme) com quem desfruta dos prazeres do seu corpo, enquanto a mesma é enfeitiçada por seus pratos suculentos e deliciosos.
O filme é atemporal e mostra o cozinheiro encarcerado, mas sem deixar de praticar seus exercícios culinários, chegando até a preparar banquetes para chefes de milícias internas. O poder da comida, exílio regional, prostituição e características culturais do sul do Brasil são temas que envolvem brilhantemente o filme, que foi aclamado popularmente e inclusive recebendo grandes prêmios no Brasil e em partes da Europa. Estômago está aí para acabar com a ‘’mesmice’’ do cinema nacional e, também, de certa forma, provocar com a nossa fome.