Viagem de domingo à tarde II

Farrel Kautely

Viagem de domingo à tarde II

Felipe ocupa um cargo de alta confiança na empresa do tio, a BookBox, empresa que envia, mensalmente, um box com livros e brindes ligados a eles para seus assinantes.

Felipe era meio que um gerente, e descobriu na manhã do domingo passado que, por uma distração boba, não tinha transferido os R$7.000 para uma prestadora de serviços da BookBox. O dia seguinte, no caso a segunda-feira, era feriado. Ainda assim, o dinheiro deveria constar no caixa da prestadora na segunda, pois seria o dia que esta começaria a produção das caixas de papelão que seriam utilizadas no embalamento dos livros do mês. Isso era um problema grande, pois o atraso de um dia poderia provocar um atraso de mais de um dia no envio dos livros.

A esposa de Felipe tentou persuadi-lo a esperar até a terça-feira, mas ele concluiu que a melhor opção era pegar o dinheiro e dirigir 327 quilômetros para entregar os sete mil na fabrica de caixas na manhã seguinte.

Passou no banco, sacou os sete mil e colocou-se na estrada.

A estrada estava como ele esperava que estivesse: suave, tranquila. Dirigiu serenamente. O trafego estava limpo, quase não foi ultrapassado.

Estava na metade do trajeto quando contou a quinta ultrapassagem. Achou aquilo interessante por algum motivo, o que acabou chamando sua atenção para o carro que estava logo atrás do seu. Ora, aquele carro não estava ali quando saiu de Bela Vértice?

Sim. Era ele mesmo. Vira o carro posicionar-se atrás do seu no momento que virara o trevo para pegar a rodovia. Estaria sendo seguido? Não tinha outra explicação. Não passou dos 80km/h desde que saíra da capital. Seria coincidência estar o carro atrás dele durante toda a viagem, sem ultrapassá-lo, porque o outro motorista também estava “de boa” para dirigir? Seria coincidência o carro ter um insufilm que o impedia de ver os ocupantes?

Esse pensamento apoderou-se da mente de Felipe. Decidiu colocar-se à prova. Acelerou o carro. Foi de 76 para 107 de uma só vez.

O carro de trás acompanhou sua aceleração.

“Puta que pariu!” Felipe pensou, olhando para o porta luvas, lugar onde guardara os sete mil reais.

Os filhos da puta estavam seguindo ele desde Bela Vértice. Felipe não conseguia ver a coisa de maneira diferente. Os desgraçados sabiam que ele tinha bastante dinheiro ali. Decidiu que entregaria tudo, até o carro.

Olhou então o carro novamente. Viu uma ponta cilíndrica e metálica saindo pela janela do passageiro.

– Pu-ta-que-pa-riu!

Felipe não conhecia muito de armas, mas só pode supor que aquilo era a ponta de alguma coisa grande. Deu seta para a direita e virou para o acostamento, para então frear o carro bruscamente.

Viu ter pego os ladrões de surpresa, pois eles desviaram para a esquerda de imediato, invadindo a contramão.

Felipe não estava interessado em fugir. Tirou o cinto ao mesmo tempo em que abria a porta e saiu do carro, levantando as mãos em sinal de rendição. Não havia mais nenhum carro na estrada, e Felipe viu seus perseguidores continuarem avançando, sem parar, até sumirem numa curva a mais ou menos um quilometro e meio, lá na frente.

Felipe não soube o que pensar.

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