Mais um dia de um livro que não foi lido, mas nunca esquecido

Cássio de Miranda

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Todos os capítulos do mundo de um livro com as histórias mais desgraçadas, tristes e lindíssimas do universo e por fim o que reverberá, sempre, será o próprio livro em si.

Os perdidos personagens dessas histórias descabíveis permanecerão enterrados nos fundos das escrivaninhas sujas nos quartos dos andantes que nem um dia sequer ousaram lê-los.

Todos os fatos ficcionais impregnados em cada vírgula da nada interessante vida de um Zé qualquer da tal obra importante misturam-se às histórias e vivências holofotizadas dos best-sellers americanizados (embora nacional e contemporâneo) dos títulos ao lado.

Essa ideia universal que não tolera – por nada – ser impugnada se perpetuará nas salas frias e nos corredores vazios de sua mente até que você se dê conta de que é mais um leitor que não está nem um pouco se importando com o que se lê, mas quem se lê.

Isso quando se lê, veja bem, o título disso (seja lá o que isso seja) aponta para uma versão, pelo menos, da história que nunca foi lida, a da parte interna, de dentro, sim, do personagem, as entrelinhas… As entrelinhas são muitas vezes tão importantes quanto a linha, mas essa sempre é mais importante do que o livro, o autor, e tudo o que o cerca.

E assim ficamos no infinito vazio das nossas almas refletidas em nossas estantes cheias de livros que nunca foram lidos, de histórias que nunca foram contadas e ensinamentos que nunca foram compreendidos.

Mas o livro, por fim, reverberá, sublime e intocável, literalmente.

2 comentários em “Mais um dia de um livro que não foi lido, mas nunca esquecido”

  1. Caro amigo Cássio: reverbera Jorge Luis Borges, falando de Bernard Shaw:
    “um livro é mais que uma estrutura verbal, ou que uma série de estruturas verbais; é o diálogo que trava
    com seu leitor, e a entonação que impõe a sua voz, e as mutáveis e duradouras
    imagens que ele deixa na memória. Esse diálogo é infinito; as palavras “amica
    silentia lunae” significam agora a lua íntima, silenciosa e resplandecente,
    enquanto na Eneida significaram o interlúnio, a escuridão que permitiu aos
    gregos entrar na cidadela de Tróia…
    A literatura não é esgotável, pela suficiente e simples razão de que um único livro não o é. O livro não é um ente incomunicado: é uma relação, é um eixo de inumeráveis relações.” De “Outras inquisições”.

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