Assédio

Farrel Kautely

Hoje fui tomar um acaí e fui atendido por uma moça muito gata e simpática.

Peguei meu açaí com leite condensado e sentei numa mesa próxima ao balcão para ler enquanto matava minha vontade de comer doce gelado.

Nos vinte e poucos minutos que fiquei ali, cinco caras fizeram pedidos, e a maior parte deles me pareceu muito interessada em cortejar a atendente.

— Tem milkshake de morango, linda?

— Ooooi, linda! Aqui, quanto é o acréscimo de leite em pó?

— Não, linda, eu só quero o de quinhentos eme-eles.

— Não, não. É só isso mesmo. Obrigado, viu?, linda!

Quando terminei o meu, joguei meu copo de plástico na lixeira perto do balcão e aproveitei para comentar com a moça:

— Ninguém merece, né?

Ela:
— O quê?

— Esse povo chato te assediando.

— Me assediando?

— Te chamando de linda.

Ela achou graça e me falou, apontando para o crachá que tinha no peito:

— Mas meu nome é Linda, mesmo.

Ambos rimos disso.

Estive prestes a falar que eu não tinha visto porque evito ficar olhando para peitos femininos por já ter sido confundido com um tarado após ficar muito tempo tentando entender uma frase sem sentido estampada numa camisa de uma mulher que conheci.

À Linda disse apenas que o nome fazia justiça a ela, agradeci pelo atendimento e vim embora.

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