Troco

Farrel Kautely

Meu avô dizia que a melhor maneira de enganar as pessoas é as convencendo de que estão saindo por cima.

Ele também dizia que é sempre mais fácil conseguir algo de alguém quando damos a entender que é a melhor coisa que esta pessoa pode fazer. O velho me ensinou que isso é possível quando nós mesmos damos as opções, instigando a pessoa a escolher uma das nossas e não pensar por conta própria.

Não sou do tipo que busca sempre levar vantagem prejudicando outras pessoas, acredite você ou não.

Por outro lado, utilizo esse conhecimento em escalas bem pequenas.

Por exemplo: sou apaixonado pelo Danix de morango, e como sempre que tenho a oportunidade.

Recentemente o biscoito diminuiu seu peso de 140g para 130g, o que me chateou bastante. O preço continuou o mesmo em todos lugares, mas na padaria que fica próximo à minha casa aumentou de 1,90 para 2,00, o que me deixou bem contrariado.

Há um jogo do bicho entre minha casa e a padaria, e notas de dois em minha carteira é tão comum quanto qualquer outra cédula.

Ainda assim, sempre que vou à padaria passo antes no bicho e peço para trocar uma nota de dois por moedas. Pego uma delas e coloco sozinha em um dos bolsos e as outras na carteira.

Quando chego no caixa com o biscoito, mostro 1,95 em moedas (às vezes 1,90) e uma nota (quanto maior, melhor) e digo algo como “tenho essas moedas e essa nota de vinte”, o que basta para a atendente cair no esquema do meu avô.

Hoje finalmente não passei no bicho antes de chegar na padaria.

Quando mostrei o biscoito e enfiei a mão no bolso para pegar as economias, a atendente já foi dizendo:

— Sim, pode ser as moedas. Não precisa mostrar a nota na carteira.

— Mas hoje eu não trouxe minha carteira — falei, entregando as moedas.

Desta vez eram exatos 2 trocado. Acho que é um ato para apaziguar minha consciência moral.

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