As pessoas nunca tiveram tanta informação ao alcance, mas não sabem usar

Thiago Kuerques

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Nunca estivemos com tanto conhecimento a tão mínima distância. Seja o que for, por mais peculiar que seja, há alguém ensinando na internet. Com seus benefícios e malefícios, a internet está aí para ser o ponto de ápice da difusão do conhecimento moderno. Ao contrário de cerca de meio século, quando a informação era concentrada em meios acadêmicos e de comunicação, estamos imersos ao turbilhão de informações. Há um mundo imenso de tutoriais, inclusive sobre como criar tutoriais.

No século XVIII, ainda no Brasil Colônia, os livros eram proibidos pela metrópole. A elite intelectual, sobretudo de Vila Rica (atual região da cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais) e Rio de Janeiro, mantinha volumes de Voltaire, Crébillon, Diderot e Rousseau. Exemplares trazidos da Europa por filhos da elite que buscavam formação acadêmica nas universidades portuguesas e francesas. Vale registrar que não havia ainda ensino superior no Brasil. Em meio à Inconfidência Mineira, por exemplo, as forças de repressão do governo encontraram vastas bibliotecas entre os poetas árcades, como Silva Alvarenga, Luís Vieira da Silva e Alvarenga Peixoto. Aconteceu o mesmo na Conjuração Carioca com o bacharel Mariano José Pereira.

Voltando para os dias atuais, em livro intitulado “Plano de Ataque”, o autor Ivan Sant’Anna afirma que os terroristas do 11 de setembro de 2001, pilotos inexperientes, só conseguiram sequestrar os aviões no ar e fazer com que colidissem nos alvos por terem treinado em um simulador de voo (Flight Simulator) na internet. É, possivelmente, um dos relevantes exemplos da expansão do ensino ao estilo self-conhecimento da internet.

Há, por outro lado, as consequências positivas para essa onda de tutorais sobre tudo e devemos nos concentrar nelas. Caso deseje aprender a tocar violão, tutoriais dos mais diversos sobre o aprendizado. Não sabe calibrar o pneu do carro de forma correta, tem tutorial. Não sabe tirar a mancha do piso novo, tutorial. É o mesmo para quem deseja escrever um livro, fazer algum prato a base de batata, reaproveitar meias rasgadas, dar nova utilidade para aquele macarrão de piscina, entre outros.

Mas e a educação formal no meio desse contexto todo? Um professor sincero perguntou essa semana aos alunos qual era a importância dele em sala de aula, já que todo o conteúdo está disponível de forma gratuita no YouTube. Os alunos não souberam responder. O professor sim. Não basta ter o conteúdo. É preciso raciocinar sobre ele, debater, compreender a sua aplicação. É espetacular termos tantas possibilidades ao nosso alcance. Mesmo em um festival de self-service de conhecimento, devemos nos perguntar o que podemos fazer com isso tudo para termos uma vida melhor.

2 comentários em “As pessoas nunca tiveram tanta informação ao alcance, mas não sabem usar”

  1. Bravo! jovem Thiago.
    A Web, “este mar de conhecimento compartilhado” (nos termos de um de seus criadores, Sir Berners-Lee) é como uma grande metrópole, há uma para cada viajante. O viajante inexperiente precisa de mentor, tutor etcétera. Há os que só vão aos bordéis da cidade grande, há os utilitaristas, e há uma cultura do subsolo, perigosa e invasiva. Há de tudo, mas sobre tudo e sobretudo, paira soberana a figura Humana do que assiste e assiste a(o) Outro.
    Abraço fraterno do Beto.

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