Demolidor Ep. 6 mostra Rei do Crime em cena brutal com machado?
Dois episódios lançados de uma só vez pela Disney+ marcaram um ponto alto na temporada de Demolidor: Renascido. Demolidor Ep. 6 e 5 , embora tragam propostas distintas, se complementam de forma surpreendente, formando um combo envolvente que fortalece a série e avança sua trama com intensidade, ação e profundidade emocional. De um lado, um episódio quase autônomo, focado em um assalto a banco com pegada cômica; do outro, o retorno sombrio de grandes ameaças e uma virada violenta que coloca Matt Murdock e Wilson Fisk novamente em rota de colisão.
Um roubo à moda antiga e um Matt Murdock perspicaz
O quinto episódio da temporada de Demolidor: Renascido é, por essência, um exercício estilístico. Saindo do clima de tribunais e intrigas políticas, o capítulo mergulha em um assalto a banco ocorrido em plena celebração do St. Patrick’s Day. Matt Murdock (Charlie Cox), em busca de um empréstimo para manter de pé o escritório de advocacia Murdock & McDuffie, vê-se recusado pelo gerente assistente do banco. O responsável pela negativa é ninguém menos que Yusuf Khan (Mohan Kapoor), pai de Kamala Khan, reaparecendo após sua participação em Ms. Marvel.

Essa conexão com o MCU é mais do que um fanservice superficial. O carisma de Kapoor e sua boa química com Cox proporcionam momentos leves e espirituosos, acrescentando ao episódio uma bem-vinda dose de humor. Quando o assalto começa e Matt, graças à sua audição aguçada, percebe o ataque em curso, o episódio assume seu tom de thriller urbano. O personagem se infiltra entre os reféns, agindo discretamente para sabotar os planos da gangue de criminosos irlandeses liderada pelo enigmático Jesse James (Cillian O’Sullivan).
A presença de Jesse, associado a Luka (Patrick Murney), que tenta saldar uma dívida com a máfia russa utilizando um diamante roubado, reforça o tom quase cinematográfico do episódio. É um típico caso em que a tensão cresce a cada minuto, com Matt usando suas habilidades não apenas físicas, mas também intelectuais e jurídicas para desestabilizar os criminosos. O episódio é autossuficiente, com início, meio e fim, e mesmo sendo praticamente um desvio da trama central, se destaca pela qualidade narrativa e pelo ritmo bem conduzido.
Muso surge como nova ameaça sinistra em Demolidor Ep. 6

Se o episódio cinco é um alívio elegante e inteligente, o sexto retoma a densidade da série e empurra a história com força em direção ao clímax. Começando com Matt em um momento íntimo com Heather (Margarita Levieva), sua namorada, a trama explora a psicologia dos vigilantes. Heather, ao revelar estar escrevendo um livro sobre o tema, propõe entrevistar não só o Demolidor como também o Justiceiro, figura que Matt defendeu no tribunal. Esses diálogos mais introspectivos ajudam a construir o dilema interno do protagonista, especialmente após os eventos traumáticos dos episódios anteriores.
A dualidade entre o advogado e o vigilante volta à tona com força, impulsionada por novos desdobramentos na trama política de Wilson Fisk. Agora prefeito, Fisk enfrenta a pressão de um submundo que não o respeita tanto quanto ele gostaria. Quando Luka o confronta para tentar reduzir sua dívida, o vilão responde com frieza e aumenta o valor para US$2.8 milhões. A tensão só cresce durante o jantar com a elite nova-iorquina, onde reaparece Jacques DuQuesne (Tony Dalton), o Espadachim, para mostrar que Fisk ainda é visto com desconfiança pelos ricos da cidade.
Mas o verdadeiro estopim do episódio vem com a revelação completa sobre Muso (Hunter Doohan), um personagem enigmático que vinha sendo sugerido desde os primeiros capítulos. Descobre-se que Muso é o responsável por grafites espalhados pela cidade com rostos de figuras importantes do universo Marvel, como o próprio Fisk, o Tigre Branco e o Justiceiro. O detalhe macabro: ele utiliza sangue humano como tinta, proveniente de pelo menos 60 vítimas.
A tensão cresce com a força-tarefa de Fisk
Essa descoberta empurra Fisk para uma decisão drástica: montar uma força-tarefa com os elementos mais violentos e controversos disponíveis, entre eles policiais simpatizantes do Justiceiro e o brutal Powell, responsável por prender Hector (Hamish Allan-Headley). A série volta a tocar em temas sensíveis, como o abuso de poder policial, que já haviam sido abordados nas temporadas anteriores, reacendendo uma importante camada crítica.
É neste momento que Angela (Camila Rodriguez), sobrinha de Hector e possível herdeira do manto de Tigresa, entra em ação. Ela descobre com impressionante facilidade o esconderijo de Muso em uma estação de metrô abandonada, depois de dicas passadas pelo próprio tio. Embora a agilidade com que a personagem encontra o vilão pareça apressada e pouco crível, serve como gancho para a reentrada de Matt em sua identidade heroica.
O retorno do Demolidor — e do Rei do Crime violento
Matt, ao perceber o desaparecimento de Angela, se transforma novamente no Demolidor. A série faz questão de mostrar que não se trata de uma reação impulsiva ou baseada em raiva, mas de um instinto protetor. Ele invade o covil de Muso e protagoniza uma sequência de ação intensa e violenta, paralela ao momento em que Fisk, do outro lado da cidade, resolve seus próprios assuntos com brutalidade.
Fisk atrai Adam (Lou Taylor Pucci), ex-amante de sua esposa Vanessa, para uma armadilha. Em uma cela, deixa um machado ao alcance do homem, esperando uma reação que justifique uma retaliação feroz. Adam morde a isca, e o Rei do Crime mostra novamente sua face sanguinária. Ele não mata o rival, mas chega perigosamente perto disso.
O contraste entre os dois personagens é proposital e eficaz: Matt luta para salvar uma vida, enquanto Fisk se entrega à sua sede de poder e vingança. Os dois homens caminham por trilhas semelhantes, mas suas decisões os posicionam em lados opostos da balança moral.
Referências ao MCU e construção de universo

Além das tramas centrais, os episódios não economizam nas conexões com o MCU. Além da presença de Yusuf Khan, há menções diretas a Kate Bishop e aos Campeões, grupo jovem de heróis que parece se formar lentamente nas entrelinhas da série. Já o Justiceiro, embora ainda não tenha aparecido plenamente, tem sua presença sentida — tanto na força-tarefa montada por Fisk quanto na mente de Heather, que estuda sua motivação como vigilante.
Esses elementos mostram o cuidado da produção em manter coerência com o universo compartilhado, sem depender excessivamente dele para avançar a própria história. Demolidor: Renascido prova que pode funcionar muito bem como uma peça independente dentro do grande tabuleiro da Marvel.
A estética sombria e o ritmo narrativo
Visualmente, os episódios seguem apostando em uma estética urbana, suja e melancólica, como é tradição nas histórias do Demolidor. A fotografia aposta em sombras marcantes, cores frias e cenários que valorizam o submundo nova-iorquino. A direção é segura, especialmente nas cenas de ação, que não exageram na pirotecnia e focam no impacto físico dos confrontos.
O roteiro sabe dosar momentos de leveza com tensão crescente. O uso de humor no quinto episódio, por exemplo, jamais compromete a seriedade da série, funcionando como respiro narrativo. Já o sexto episódio acelera o passo com decisões dramáticas fortes, cenas violentas e revelações perturbadoras. Juntos, os dois capítulos entregam uma das melhores sequências da temporada até agora.
O que esperar daqui pra frente?
Com a volta do Demolidor devidamente estabelecida, os próximos episódios prometem intensificar o embate entre Matt Murdock e Wilson Fisk. A presença do Justiceiro se aproxima, e a força-tarefa violenta de Fisk já aponta para confrontos que testarão os limites morais de todos os personagens envolvidos.
Angela deve ganhar mais destaque, talvez assumindo de vez o legado de Tigresa, enquanto Muso, ainda à solta, continua sendo uma ameaça imprevisível. A série começa a construir sua reta final com equilíbrio entre drama, ação e crítica social — uma fórmula que já se mostrou eficiente nas melhores fases do personagem nos quadrinhos e na televisão.
Ao lançar dois episódios distintos e impactantes juntos, Demolidor: Renascido reforça sua proposta ambiciosa de ser mais do que apenas mais uma série de super-herói. Ela é uma análise do homem por trás da máscara, do sistema que ele enfrenta e das sombras que o cercam.