A adjetivação “exagerada” em Senhora, de José de Alencar

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Lançamos um desafio literário: encontrar na obra “Senhora” um período onde não haja um adjetivo. Difícil? Com certeza! Afinal, José de Alencar é conhecido por sua larga caracterização de cenários, ações e personagens em suas obras. Entretanto, pode-se dizer que em “Senhora” temos um recorde. Muitos leitores acham essa característica da obra um fator cansativo e distrativo. Eu não concordo, acho que acrescenta à obra justamente aquilo que a torna específica entre outras de Alencar. A grande questão é: que especificidade é essa? Qual o objetivo do autor em inserir tantos adjetivos em suas descrições?

O centro da obra é o “romance” de Aurélia e Fernando, que é contado desde o começo, anos antes de se dar início ao momento em que a história é retratada. Nesse ponto, ambas as personagens fazem questão de deixar claro o ódio e o ressentimento que sentem uma pela outra. Porém, é possível interpretar que na verdade a paixão ainda estava presente nos corações dos protagonistas, apesar de eles tentarem esconder isso por puro orgulho. Aurélia almeja vingar-se do amante e por isso mantém sua atitude fria e cruel durante os acontecimentos, tendo sua recaída nos momentos finais descritos por Alencar. Fernando, sentindo-se usado e envergonhado pela atitude vingativa da amante, muta-se para o mesmo tom de ameaça e guerra dela.

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É fácil perceber que Senhora retrata uma relação de amor e ódio entre um homem e uma mulher, o que cria uma forte tensão e uma grande guerra de sentimentos e emoções sendo lançados de um extremo ao outro. Cria-se um grande vapor, como na mistura de fogo ardente e água gelada.

A exacerbação de adjetivos e classificações de que Alencar fez uso pode não ser apenas um recurso estilístico do romantismo, mas também uma forma de representar e apresentar toda essa onda emotiva e sentimental que as personagens trazem. O autor utilizou-se de um vocabulário tão cheio de detalhes para estar ao nível daquilo que ele queria retratar, para dar um toque verdadeiro do choque de euforia e do ululante fervo aos quais as personagens se entregam. Pode-se então dizer que em Senhora temos o caso de uma obra exacerbada ao extremo, romântica “demais” até mesmo para o Romantismo.

 

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