Conheça o romance francês com mais de 220 páginas que não utiliza a letra E

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O escritor francês Georges Perec (1936 – 1982) fez o inimaginável em sua obra “O Sumiço”, publicada pela primeira vez em 1969: escreveu um romance inteiro sem a letra E. O livro foi recentemente traduzido (pela primeira vez) para o português por José Roberto Féres, o Zéfere, mestre em literatura comparada pela Sorbonne, em tradução literária pela Paris 8, doutor em literatura e cultura pela UFBA, professor e também poeta.

Conheça o romance francês com mais de 220 páginas que não utiliza a letra E 1
Foto: Reprodução

A narrativa, lançada aqui pela Autêntica, conta a história do sumiço de Anton Voyl, um entusiasta de jogos de palavras. Não por acaso, evidentemente, a vogal mais utilizada na língua francesa também desaparece das páginas da obra. “A ambição do ‘Scriptor’, o propósito, digamos, o alvo, sua visada contínua, foi, acima de tudo, criar um produto final tão original quanto instrutivo, um produto apto a propulsionar ou, quiçá, a vir a proporcionar um impulso instigador à construção, à narração, à fabulação, à ação, ou, digamos, numa palavra, ao padrão da narrativa longa atual”, escreve Perec, também autor de “Prix Médicis: A Vida Modo de Usar”, dentre outros, no posfácio – que, como é possível perceber, também abre mão do E.


E quem imagina que o escritor optou por algo breve, o que poderia facilitar as coisas, engana-se: a história traduzida ocupa mais de 220 páginas. Com uma empreitada tão grande e desafiadora quanto a de Perec pela frente, Zéfere começou a verter “O Sumiço” para o português em 2008, enquanto fazia seu mestrado, e só foi conclui-lo em 2015. “Antes de mais nada, antes de estudar as minúcias do livro e investigá-las ainda mais nas dissertações de mestrado e tese de doutorado que escrevi em torno de Perec e sua obra, senti a necessidade de experimentar essa restrição com a língua portuguesa, fazer exercícios textuais sem o E. Meu primeiro teste foi, então, reescrever lipogramaticamente, sem a letra E, alguns versos de Manuel Bandeira, o que resultou em ‘Caio fora pra Pasárgada’’”, conta o tradutor.

E, ao cabo, o que Zéfere achou da experiência? “Uma coisa é certa: ninguém sai ileso de um trabalho como esse, e muito menos a língua! Foi engraçado me ver tão profundamente habitado por esse sumiço, que me peguei escrevendo até mesmo artigos acadêmicos em que eu evitava certas palavras, sem perceber, porque elas continham E”. Sorte que a vogal já voltou ao vocabulário do tradutor.

Da Redação
Fonte: Blog Página Cinco (Rodrigo Casarin)

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