Pipa — por Zé Ciabotti

Redação Recorte Lírico

Pipa — por Zé Ciabotti

Cauã comemorou a paralisação dos professores por melhores salários, afinal seriam dois dias sem aula. Apanhou as moedas das sobras do seu trabalho como entregador de panfletos e correu pra papelaria. Comprou vareta, papel de seda, cola e linha dez. Sentado na calçada, como um artesão, confeccionou uma bela pipa. Corriam de um lado para o outro, embriagados pelo vento, Cauã e a pipa. A poucos metros dali, também contra o vento, Carlos Eduardo acelerava o Audi que ganhara de presente da mamãe. Pisava fundo.
O carro no cio acertou Cauã, lançando-o na calçada, já morto. O sangue procurava uma valeta para se esconder, a pipa balançava nos fios dos postes e, de dentro do Audi, Carlos Eduardo ligava para o papai senador e cheio de amigos importantes.

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