A cachorra do Alvorada

Cássio de Miranda

A cachorra do Alvorada

Havia uma história contada pelos primeiros habitantes de uma terra tupiniquim, cuja lenda rezava que os governantes daquele país, invariavelmente, agiam com plena justiça.

Para você, caro leitor, ter certa noção do que digo, ou melhor, revivo, é que não haviam nesse espaço geográfico qualquer nativo que chegasse perto da miséria, muito pelo contrário, havia ali divisão de renda, moradias para todos, acesso à educação, saúde e segurança.

Trabalhava com afinco o governante-mor deste estado de sucesso, um senhor cujos hábitos eram considerados, no mínimo, noturno, taciturno… Não obstante, o vampiro, digo, o presidente dessa província tinha o dom da oratória, do convencimento, do uso correto-padrão-presidenciável da língua, da mesóclise, uma belezura que qualquer um ficar-lhe-ia maravilhado.

Bom, mas o mais pomposo e luxuoso e recatado e do lar era a primeira-dama. Caramba, a primeira-dama! Essa sim, justiceira. Protetora dos cãezinhos… Pois é, a história narra que ela era o principal alicerce dessa terra bem-sucedida, era ela na terra e Deus no céu. Odiava injustiças, como você já deve imaginar.

Num dia, a cachorra do Alvorada passeava, tranquilamente, pelo bosque, quando sua dona, quer dizer, quando a cachorra real pulou no lago pois já não mais aguentava o calor do centro-oeste daquela província e, mesmo sendo ela uma expert em natação, a primeira-dama, num súbito instante, mergulha (as olimpíadas tá logo aí) para salvar o seu cãozinho. Uma fofura!

Porém, a pouco prudente da sua agente pessoal não foi capaz de ajudá-la, muito pelo contrário, assistiu, tipo num pey-per-view, a cena da sua chefe se estribuchando contra aquele lago imenso e refrescante. Não deu outra. A toda poderosa da província tinha que dar o exemplo, lógico, até por que ela os têm em casa, com o seu esposo, o dono da porra toda.

A agente foi demitida, a cachorra está sã e salva (ainda bem), o presidento exercendo, legitimamente, o seu mandato e distilando a sua inteligência pra lá e pra cá, e a primeira-dama está, neste momento, seca. Fim da história.

 

 

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