Vitor Hugo e o espiritismo

Frank Wan

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Se Alan Kardec é o pai do espiritismo, Vitor Hugo é o seu adepto mais talentoso e famoso.

Após o golpe de estado de Bonaparte, Vitor Hugo refugia-se na Bélgica e depois em Jersey, local onde viverá numa casa isolada, sombria, rodeada de mar e rochas dantescas, onde ecoam todas as tempestades da Mancha.

A época é conturbada, Vitor Hugo esteve na frente de muitas batalhas literárias e políticas, mas a faca que lhe atravessa o coração é a morte por afogamento da filha Léopoldine com 19 anos, entre todas, a sua filha mais querida.

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A casa de Vitor Hugo é frequentada por muitas personalidades de relevo e, no ano seguinte à sua chegada, 1857, num grupo grande de hóspedes está Delphine Gay, poeta muito conhecida na Paris da época por causa dos dotes literários e por ter um grande “Salão” visitado por quase todos os grandes escritores e artistas, de Balzac a Musset, passando, entre muitos, por Téophile Gautier ou Liszt.

Nesta época, o mundo anglo-saxónico tinha sido varrido pela moda do que chamaremos, em geral, de “espiritismo”, vindo dos Estados Unidos, na Inglaterra da época praticamente não havia uma casa que não fizesse “sessões”. Em França, Hyppolite Rivail, oriundo de Lyon, descobre que é a reencarnação de um druída celta e é ele que, sob o nome de Allan Kardec, se tornará o fundador do movimento espírita que depois terá uma larga expansão no Brasil.

Vitor Hugo e o espiritismo 2

Delphine Gay convence os hóspedes a iniciar sessões noturnas nas famosas mesas e numa das primeiras sessões de forma evidente e fulgurante dá-se a manifestação do espírito de Léopoldine Hugo. Grande parte dos convidados era cético em relação às espiritualidades, lembremo-nos que pairava no ar o espírito positivista, mas depois passa de cético a perturbado com o desenrolar dos acontecimentos. Delphine parte passado uma semana, mas deixa a semente bem plantada: durante quase três anos, todos os dias se realizarão sessões e muitas vezes até havia duas ou mesmo três por dia.

Nestas sessões, bem documentadas, vão desfilar todas as grandes personalidades mortas e até o “duplo” de personalidades vivas, como é o caso do próprio Napoleão.

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Muitas vezes, Vitor Hugo participa ativamente, sentado à mesa, mas, na sua grande maioria limita-se a estar à parte e a registar tudo o que se passa. Estranhamente, mesmo quando Vitor Hugo não está sentado à mesa, as mensagens têm sempre um cunho do estilo do escritor, o que leva alguns a pensar que as sessões, de alguma forma, eram sempre “canalizações” do carisma de Vitor Hugo.

O registo escrito das sessões é gigantesco e, se se contar o tempo de resposta da putativa entidade espiritual com o tempo de decifração e escrita, normalmente entregue a Vitor Hugo, mesmo com duas sessões diárias e apesar das sessões durarem, em média, 3 horas, nunca se obteria este acervo gigantesco: o que leva alguns a pensar que deve ter havido aqui um fenómeno associado de “escrita automática” por parte de Vitor Hugo: provavelmente, o início da resposta era mera decifração da mensagem vinda da mesa e o escritor escrevia o resto da mensagem já em modo automático.

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O livro de poesia Contemplações (Contemplations) é escrito durante este período e está, portanto, eivado de mensagens espirituais, resta um gigantesco acervo deste período que está quase todo por classificar, ordenar e ser alvo de estudo sério. Esta é, claramente, a parte da herança de Vitor Hugo menos conhecida e estudada.

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