A Tempestade de Shakespeare: Explorando as Dualidades Humanas | Anjos, Bestas e a Natureza Humana

Entre as obras-primas imortalizadas por Shakespeare, “A Tempestade” se destaca como um microcosmo da complexidade da natureza humana. Os temas entrelaçados de anjos e bestas emergem das profundezas da trama, revelando as dualidades inerentes à nossa existência.

Neste artigo, mergulharemos nas camadas dessa peça emblemática, explorando como personagens como Calibã, Ariel e Ferdinando iluminam a rica tapeçaria da condição humana.

A Tempestade de Shakespeare: Explorando as Dualidades Humanas | Anjos, Bestas e a Natureza Humana
Uma cena de “A Tempestade” de William Shakespeare, Ato 1, cena 1, em uma gravura de Benjamin Smith baseada em uma pintura de George Romney. Publicado por J. & J. Boydell na Galeria Shakespeare, Londres.

Calibã: A Besta Interior e o Instinto Primitivo

No centro da exploração da natureza humana em “A Tempestade” encontra-se Calibã, uma figura que personifica os instintos mais primitivos e brutais. Seu nome ecoa a palavra “canibal”, sugerindo uma ligação com a selvageria. Como metade homem, metade animal, Calibã transcende os limites entre humanidade e bestialidade, explorando a tênue linha que separa esses dois estados.

Calibã representa a nossa essência terrena, ancorada em desejos e impulsos animais. Sua história começa com origens obscuras, nascido de uma bruxa e um demônio. Essa herança sombria lança uma sombra sobre sua jornada, antecipando a dualidade que o define. Educado por Próspero, Calibã sucumbe à tentação de seus instintos primitivos, tentando forçar-se sobre Miranda, a filha de Próspero. Esse ato cruel e lascivo destila sua identidade: a besta interior e sua falta de controle.

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Antônio: O Mal Calculado e a Ambição Desenfreada

Em contraste com Calibã, Antônio personifica uma outra faceta da natureza humana: a ambição desenfreada e a maldade calculada. Astuto e racional, ele trama para usurpar o poder, traindo seu próprio irmão Próspero. Antônio usa a racionalidade como uma ferramenta para alcançar seus objetivos egoístas, sublinhando como nossa inteligência pode ser moldada para o mal.

Antônio explora a dualidade da mente humana, demonstrando que o mal não se limita aos instintos brutais, mas pode ser formulado através do pensamento meticuloso. Essa capacidade de usar a razão para objetivos egoístas destaca a complexidade das escolhas humanas, revelando que a natureza da besta pode se esconder atrás das aparências racionais.

Ariel: A Busca pela Liberdade e a Espiritualidade Elevada

Ariel, por sua vez, emerge como uma figura que transcende as limitações da existência material. Sua natureza etérea e espiritual é simbolizada por seu nome, que evoca o elemento “ar”. Ariel personifica a busca pela liberdade e transcendência, ansiando por se libertar dos grilhões de Próspero.

A dualidade de Ariel está nas próprias amarras que o ligam a Próspero. Enquanto ele busca a liberdade, sua lealdade e serviço a Próspero representam a luta entre o desejo de autonomia e a necessidade de propósito. Ariel personifica a tensão entre o desejo humano de liberdade e a busca por significado e pertencimento.

Ferdinando: O Equilíbrio Entre Anjo e Besta

O personagem de Ferdinando sintetiza as dualidades presentes na natureza humana. Como filho do rei Alonso, ele é lançado à ilha pela tempestade, separado de seu pai e crença de que todos os outros morreram. Em sua jornada solitária pela ilha, Ferdinando representa a solidão inerente à experiência humana.

A ligação entre Ferdinando e Miranda introduz uma dimensão adicional. Miranda, que nunca havia visto outro homem além de Próspero, encontra em Ferdinando a personificação da humanidade. Através dos olhos de Miranda, vemos a dualidade de Ferdinando: ele é tanto a figura desconhecida e misteriosa quanto um ser humano comum e vulnerável.

Conclusão: A Reflexão Sobre a Natureza Humana em A Tempestade

“A Tempestade” de Shakespeare é uma obra-prima que explora as dualidades intrínsecas à natureza humana. Através dos personagens de Calibã, Antônio, Ariel e Ferdinando, testemunhamos a complexidade de ser humano: a luta entre instintos primitivos e razão calculada, o desejo de liberdade e a necessidade de pertencimento, e a busca por transcendência espiritual enquanto estamos ancorados em nossos corpos terrenos.

Em última análise, Shakespeare nos lembra que nossa humanidade é definida por essas dualidades, e é nas escolhas que fazemos que moldamos nosso destino. À medida que exploramos as profundezas de “A Tempestade”, somos convidados a contemplar nossas próprias contradições e a buscar o equilíbrio entre nossos anjos e bestas interiores.

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