Como a Pandemia Mexeu com a Nossa Percepção de Tempo: Uma Explicação de um Neurocientista

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A pandemia global de COVID-19 trouxe consigo não apenas desafios de saúde e sociais, mas também um impacto profundo em nossa percepção do tempo. O que costumava ser uma noção estável e previsível de passagem de tempo de repente se tornou uma montanha-russa de experiências temporais. Neste artigo, vamos explorar como a pandemia bagunçou nossa percepção de tempo e como isso está enraizado na nossa mente e experiências cotidianas.

O Jogo Complexo da Memória e Tempo

Como a Pandemia Mexeu com a Nossa Percepção de Tempo: Uma Explicação de um Neurocientista
Como a Pandemia Mexeu com a Nossa Percepção de Tempo: Uma Explicação de um Neurocientista. (Imagem: Getty Images/Reprodução)

A ideia comum de que a memória é uma fita de vídeo que reproduz fielmente o passado é simplista demais. A memória é um processo criativo, influenciado por nossas emoções, experiências atuais e vieses. Isso tem um impacto direto em como percebemos a passagem do tempo. Quando temos mais memórias disponíveis para recuperar, nossa sensação de tempo tende a se esticar. Da mesma forma, nossos estados de espírito e emoções moldam a riqueza das memórias que evocamos.

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Aqui entra o papel das notícias, eventos atuais e tecnologias, como a internet. Eles moldam a intensidade com que lembramos as coisas e, por sua vez, influenciam nossa percepção de tempo passando rápido ou devagar. Mas, apesar de nossa intuição, os cientistas ainda têm muito a aprender sobre como essa interação complexa funciona.

A Pandemia e a Dança da Memória e Tempo

A inesperada erupção da pandemia em 2020 não apenas causou mudanças drásticas em nossas vidas, mas também criou uma rica fonte de dados para entender a relação entre memória e tempo. A neurocientista cognitiva Nina Rouhani e sua equipe mergulharam nesse desafio, explorando como a pandemia influenciou nossas memórias de 2020 e, por consequência, nossa percepção do tempo.

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O que eles descobriram é intrigante. A pandemia parece ter encurtado a distância entre os eventos lembrados, como se estivéssemos comprimindo uma mola. Isso significa que, em nossas memórias, o tempo parecia mais compacto, embora na realidade ele tenha passado na mesma cadência. Isso levanta questões sobre como essa compressão afeta nosso entendimento de eventos passados e como ela se relaciona com a monotonia.

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A Monotonia Versus a Surpresa

Enquanto os eventos surpreendentes geralmente dividem nossas memórias em segmentos distintos, criando “fronteiras de eventos”, a monotonia parece fazer o oposto. Durante os lockdowns, nossos dias muitas vezes pareciam fundir-se em uma única massa de atividades repetitivas. Essa falta de diversidade de experiências levou a uma sensação de tempo encolhendo, como se os dias estivessem se sobrepondo.

Isso nos lembra da importância das mudanças de contexto para a nossa percepção de tempo. Quando experimentamos coisas novas e diferentes, nossa mente cria mais memórias, fazendo com que o tempo pareça se alongar. Por outro lado, a monotonia nos leva a criar menos memórias distintas, encolhendo a sensação de passagem do tempo.

Emoções, Memória e Tempo

Além disso, nossas emoções desempenham um papel crucial nesse complexo cenário. Eventos carregados emocionalmente, sejam positivos ou negativos, são mais propensos a serem lembrados. No entanto, durante tempos negativos, como a pandemia, o estresse crônico muitas vezes bloqueia a formação de memórias. Isso pode resultar em uma lembrança embaçada e fragmentada dos eventos.

Curiosamente, mesmo que as emoções negativas levem a um maior volume de memórias evocadas, a qualidade dessas memórias pode ser prejudicada. Isso significa que, embora possamos lembrar mais eventos, nossa compreensão detalhada deles pode ser comprometida.

Utilizando o Passado para Moldar o Futuro

Entender como a pandemia mexeu com nossa percepção de tempo não é apenas uma curiosidade científica, mas também pode ter implicações em nossa saúde mental. A falta de detalhes em nossas memórias estressantes pode levar a gatilhos emocionais no presente, gerando memórias repetitivas e debilitantes.

No entanto, há esperança. A memória é flexível e constantemente reinterpretada pela nossa mente. Intencionalmente lembrar eventos estressantes com detalhes vívidos pode desfazer seu poder sobre nós, permitindo-nos imaginar futuros mais brilhantes e alternativos. Isso pode ser feito através de técnicas como journaling, conversas com amigos ou terapeutas, ou simplesmente lembrando sozinho.

Considerações Finais e Oportunidades de Pesquisa

Embora tenhamos feito progresso na compreensão de como as emoções e as experiências cotidianas afetam nossa percepção do tempo, ainda estamos nos estágios iniciais de desvendar essa complexa relação. Estamos na iminência de uma nova era de interfaces cérebro-máquina, que pode trazer uma série de novas perguntas e desafios relacionados à memória e ao tempo.

A pesquisa de Rouhani e sua equipe nos lembra da riqueza de nossa mente e de como ela influencia nossa experiência do mundo ao nosso redor. A próxima vez que você se perguntar por que o tempo parece voar ou arrastar, lembre-se de que a resposta pode estar não apenas nos ponteiros do relógio, mas nas intricadas teias da memória e da emoção que moldam nossa percepção única de tempo.

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