O que há de incrível no aclamado The Whale (A Baleia)

Estreia hoje nos cinemas brasileiros o já aclamado filme The Whale (A baleia), do diretor Darren Aronofsky, o mesmo que fez Mother (2017) e Cisne Negro (2010), e estrelado por Brendan Fraser e Sadie Sink.

O filme conta a história do professor de Inglês Charlie que após a morte do seu namorado engorda mais de 200 kgs, causando-lhe graves problemas físicos e mentais, o que é somado aos problemas recorrentes da primeira família, sobretudo com a sua filha, que foi abandonada por ele quando Charlie decidiu sair de casa e viver o seu novo relacionamento.

Somos apresentados a Charlie já de começo em seu lugar habitual, no sofá e dando aula. Em sua sala de aula virtual, o professor se nega a ligar a sua câmera e a justificativa é uma falha na mesma. Por falar em câmera, o filme The Whale tem uma proporção de tela de 1.33 : 1, o que acaba causando maior efeito de estranheza e um certo incomodo nos planos fechados.

O que gostei e não gostei no aclamado The Whale (A Baleia)

Ao lado da única pessoa que hoje está presente em sua vida, a enfermeira Liz (Hong Chau, indicada à melhor atriz coadjuvante por sua atuação em The Whale), Charlie tem uma rotina muito bem estabelecida e consiste basicamente em dar aulas, ler livros, comer muito e constantemente recitar um ensaio sobre Moby Dick, o famoso romance do escritor estadunidense Herman Melville.

A ironia do nome do filme leva-nos a acreditar que trata-se do próprio Charlie e o seu sobrepeso ou ao fato da baleia ser a própria personagem do romance de Melville. A dualidade nos sentidos é feito de uma forma rica e eu acho que esse é um fato de valor na obra de Darren Aronofsky. Temos aqui situações bem exploradas, como a sexualidade e o desejo sexual que são presentes no protagonista, muito embora exista certo paradigma com pessoas obesas não terem libído aflorado.

Esse triunfo do filme é bem explorado muito em função da atuação de Brendan Fraser, que foi inclusive indicado ao Oscar como melhor ator. The Whale sem dúvida alguma o recoloca na primeira prateleira depois de muitos anos de ostracismo. Uma atuação e um roteiro que traz bem a história de um homem com sobrepeso, porém não sem críticas. Muitos grupos acham que a forma da absorvição do peso, a alimentação compulsiva e o monotonismo são exarcerbados, o que pode ser um tema sensível para muitas pessoas.

O que gostei e não gostei no aclamado The Whale (A Baleia)

E de fato é sensível. Não tem como assistir The Whale sem o olhar de estranheza, acomodado. O que está na tela provoca o espectador mesmo, e em muitos outros temas. A presença do missionário Thomas (Ty Simpkins) que tenta “evangelizar” Charlie a qualquer custo é uma clara crítica aos limites religiosos que nos são impostos. O versículo destacado na bíblia do companheiro de Charlie, em Romanos 8-12, 13, causando-lhe dor ao fato de estar se relacionando homoafetivamente é uma crítica muito clara ao que o texto biblíco diz sobre o tema:

Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis.
Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus.
Romanos 8:13,14

A dosagem que pode ser o maior entrave no arco de Thomas. A mensagem evangelística por parte dele é sempre de amor e compaixão à alma de Charlie, e ele se mostra sempre muito disposto a ajudar. Entretanto, no final, o que vimos é outra face de um Thomas preconceituoso e quase que asqueroso. Uma antítese exagerada da personagem.

Entretanto o tema mais sensível e importante em The Whale é como Charlie convive com os erros do seu passado e os traumas que isso ocasionaram em sua vida. O relacionamento que ele tem (ou melhor, não tem) com a sua filha Ellie (protagonizado pela excelente Sadie Sink) e como o ato de ele a ter abandonado desperta o rancor nela. Ellie não tem nada mais do que interesse no dinheiro que Charlie juntou a duras penas, mesmo precisando seriamente de tratamento médico, abdicou disso para cuidar, pelo menos, do futuro de sua filha.

A trama se desenrola e o que vemos é que as coisas só pioram e a maldade presente na adolescente Ellie pode vir a ser de raízes tão profundas quanto as presentes em Charlie. Na realidade ele é de certo modo o principal responsável por isso. Entretanto Charlie quer se redimir, e ele afirma categoricamente em uma das cenas mais pesadas do longa: “eu preciso saber que eu fiz uma coisa certa com a minha vida”.

Charlie vê pureza em Ellie. Charlie acredita que as pessoas são boas. É isso que difere Charlie de todos os outros personagens aqui. No final, sabemos os motivos pelos quais ele fica repetindo e repetindo a análise de Moby Dick: “porque eu sabia que o autor estava apenas tentando nos salvar de sua própria história triste”, quando o seu escritor descreve as baleias.

E The Whale é sobre isso. Sobre Charlie tentando salvar a sua filha da sua própria história triste e do seu fim trágico. The Whale é sobre todo mundo precisar de ajuda e todos, a sua maneira, tentar ajudar. Com pouca empatia, muitas vezes, é claro. The Whale é um filme surpreendente, com poucos erros e muitos acertos. Com atuações incríveis dignas de Oscar. É forte, intenso e muito, mas muito real.


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