Desejo Fatal: A Série da Netflix que Objetifica as Histórias das Mulheres
A primeira temporada da série Desejo Fatal, disponível na Netflix, tem recebido bastante atenção. No entanto, após assistirmos a essa série, ficamos com a sensação de que se trata apenas de mais um entretenimento vazio. Embora os personagens cumpram seus papéis de forma competente e a trama não seja muito complicada, nos sentimos incomodados com a objetificação do desejo feminino presente na narrativa. O título e a história sugerem que o enredo se trata das consequências de desejos inapropriados, mas percebemos que há uma diferença significativa na maneira como homens e mulheres são retratados, negando assim a liberdade e a independência do desejo em si.
É interessante observar como as histórias com palavras como “fatal”, “atração” e “sedução” frequentemente envolvem um caso de traição conjugal, em que uma pessoa casada se envolve com alguém considerado altamente inadequado, como uma secretária, uma estudante ou alguém com quem não deveria se relacionar. Geralmente, essa pessoa tem algum problema de saúde mental e acaba se tornando obcecada pelo(a) amante, resultando no caráter “fatal” do caso. Há uma sutileza no sexismo presente nesses enredos, que é cuidadosamente disfarçada. Quando o homem trai, é porque ele estava buscando diversão fora da monotonia do relacionamento com sua dedicada esposa.
No caso de uma mulher traindo, ela é “resgatada” dessa monotonia trazida por um marido distante e por uma criança que está se afastando dela por algum motivo. Isso nos leva a refletir sobre como o que é considerado errado é retratado de maneiras diferentes para homens e mulheres, anulando assim a liberdade e a independência do desejo. A narrativa cria uma protagonista que o público possa gostar, pois as pessoas tendem a não aprovar mulheres que se comportam com a mesma liberdade que os homens.
Por exemplo, em outra série chamada The Affair, especialmente na primeira temporada, um homem trai sua esposa amorosa e seus filhos por causa de um parente irritante. Enquanto isso, a mulher justifica sua traição pelo marido distante e pela morte de um filho. Fica implícito que as mulheres só podem sentir desejo como um mecanismo de enfrentamento da dor e do luto. Vale lembrar que a personagem Nandi, de Desejo Fatal, estava passando por essas mesmas situações quando conheceu Jacob. Ela sabia que seu casamento havia acabado há anos, mas foram essas circunstâncias específicas que a levaram a se envolver com Jacob.
A narrativa foi escrita dessa forma para que o público pudesse encontrar uma desculpa para seu comportamento e torcer por ela. Sua tragédia deve ser suficientemente válida para justificar sua transgressão, enquanto os homens retratados na tela não precisam dessa validação. Eles podem fazer o que quiserem, e só percebem que foi um erro quando a pessoa com quem estão tendo um caso se torna completamente obcecada por eles.
Além da questão do desejo feminino, ficamos desapontados com o olhar masculino presente nas cenas de adultério. É uma constante surpresa ver como momentos que supostamente deveriam empoderar as mulheres são, na verdade, comercializados para o consumo masculino. Se observarmos exemplos como The Affair, Reasonable Doubt e até mesmo Desejo Fatal, veremos que as cenas íntimas em que uma mulher supostamente está tomando a iniciativa são adaptadas para a imaginação masculina. Por outro lado, se buscarmos cenas íntimas criadas para o olhar feminino, encontraremos séries como Outlander e Fleabag. A mente da mulher é uma parte importante do desejo feminino, e uma série intitulada Desejo Fatal, que tem como base uma mulher, não deveria ter negligenciado esse aspecto.
No que diz respeito à história em si, podemos afirmar que é simples e previsível em muitos aspectos, especialmente depois de assistir a três ou quatro episódios. É louvável que a personagem Zinhle, filha de Nandi e Leonard, não seja uma adolescente insuportável como vemos em outras séries do gênero. Leonard é retratado como um machista previsível, enquanto Nandi é uma pessoa presa no meio de todos os conflitos. No entanto, não gostamos da forma como sua personalidade é construída como alguém que é constantemente influenciada pelas circunstâncias. Ela suspeita que seu marido está tendo um caso e, por isso, decide ter um caso também.
Quando as coisas se tornam claras para ela, ela se reconcilia com o marido, mesmo tendo os papéis do divórcio prontos para assinar. É uma coisa não se sentir culpada pelo caso, mas a indecisão e o jogo de atração e repulsa que ela tem com Jacob nos irritam. Além disso, talvez devido ao nome da série, parece que todos os personagens já tiveram algum tipo de envolvimento íntimo entre si em algum momento. Essas séries que exploram a intimidade podem nos deixar cautelosos, mas, a menos que sejam abordadas com bom gosto, o constrangimento pode surgir rapidamente.
Embora a primeira parte de Desejo Fatal não tenha mostrado todos os detalhes da trama, sabemos que estão por vir na segunda parte, e já estamos temendo o que está por vir. Acreditamos que a primeira parte poderia ter sido resumida em cinco episódios, pois não havia necessidade de prolongar a construção da tensão, considerando a previsibilidade da história. As idas e vindas do relacionamento de Nandi e Jacob são especialmente irritantes devido à indecisão da personagem principal.
O caso não deveria ser irritante, mas algo pelo qual secretamente torcemos. É isso que torna uma sedução e o que a torna tão perigosa. Infelizmente, a série não conseguiu encontrar um equilíbrio adequado, e ao final da primeira parte da temporada, ficamos nos perguntando o que restará nos próximos episódios. Talvez a série pudesse ter sido mais concisa se fosse composta por oito episódios de 40 minutos cada, considerando a simplicidade do enredo.
Ao concluirmos estaanálise crítica, é importante ressaltar que embora tenhamos encontrado diversos aspectos a criticar em Desejo Fatal, ainda assim reconhecemos que pode ser uma opção razoável para assistir sem se preocupar muito. É uma série que pode servir como um entretenimento superficial, algo para assistir enquanto realiza outras tarefas. Existem apenas alguns momentos em que é realmente necessário prestar atenção, e o restante pode ser assistido de forma mais casual. Recomendamos essa série para esse tipo de ocasião. No entanto, é importante observar que nossa opinião pode mudar com o desenvolvimento da história nas próximas partes.
Uma cópia da série desejo sombrio… Imitão certinho porém não fica boa quanto desejo sombrio