Quando uma nova série aterrissa em uma grande plataforma de streaming, a primeira medida de sucesso costuma vir do Rotten Tomatoes. A tradicional consulta ao termômetro da crítica especializada virou quase um ritual entre fãs e veículos da mídia, ansiosos para entender o impacto inicial de uma produção. Foi exatamente isso que aconteceu com O Eternauta, produção argentina da Netflix baseada na icônica HQ homônima. E não demorou para a série ser comparada a um dos maiores sucessos recentes do gênero: The Last of Us. O Eternauta e The Last of Us são comparáveis?
Logo nos primeiros dias após sua estreia, O Eternauta surpreendeu com uma respeitável aprovação de 89% entre os críticos no Rotten Tomatoes. Embora o número de avaliações ainda fosse modesto — apenas nove — esse percentual sinalizou que a produção havia deixado uma ótima impressão inicial. E, considerando o cenário competitivo e a exigência dos críticos em relação ao gênero pós-apocalíptico, esse é um feito nada desprezível.
Rotten Tomatoes: A Nova Batalha dos Mundos
A comparação direta com The Last of Us, da HBO, tornou-se inevitável. Adaptada de um dos jogos mais celebrados da última década, a série estrelada por Pedro Pascal e Bella Ramsey alcançou números impressionantes em sua estreia: 96% de aprovação crítica na primeira temporada e 87% de aceitação do público. A segunda temporada, embora ainda com boa avaliação crítica (95%), viu a aprovação da audiência despencar para apenas 50%, mostrando que nem mesmo grandes nomes e produções impecáveis estão imunes a polêmicas e divergências de opinião.
Já O Eternauta chega com menos holofotes internacionais, mas com uma proposta sólida e uma execução que conquistou, ao menos inicialmente, quem entende do assunto. Os 89% no Rotten Tomatoes, ainda que em estágio preliminar, colocam a série argentina em um patamar de qualidade semelhante ao de grandes títulos do gênero. Para um produto que não conta com o peso de uma franquia global como o videogame da Naughty Dog, isso diz muito.
O Peso de Uma Boa Primeira Impressão
O Rotten Tomatoes funciona como um aval imediato: quando a crítica se posiciona positivamente logo nos primeiros dias de exibição, cria-se uma onda de curiosidade e legitimidade em torno da obra. Com tantas produções lançadas semanalmente, é fácil que séries bem construídas passem despercebidas se não tiverem esse impulso inicial. Nesse sentido, O Eternauta começou com o pé direito.
Esse índice inicial robusto funciona como um selo de qualidade, um “vale a pena conferir” emitido por vozes especializadas. E em tempos de abundância de conteúdo, esse tipo de selo pode ser determinante para uma série que ainda busca conquistar o público fora de seu país de origem.
The Last of Us, com seu histórico no videogame, já chegou com uma base consolidada. O Eternauta, por outro lado, precisa conquistar o mundo do zero — mas se o Rotten Tomatoes for um prenúncio, está no caminho certo.
A Força da Ficção Científica Latina
A aposta da Netflix em O Eternauta é ambiciosa, mas não isolada. A plataforma já provou, com títulos como Round 6 e La Casa de Papel, que sabe transformar produções locais em fenômenos globais. A ficção científica pós-apocalíptica, gênero central de O Eternauta, tem apelo universal. Afinal, quem nunca se pegou imaginando como reagiria diante de um cenário de destruição iminente?
A série argentina acerta ao explorar essa atmosfera com uma identidade própria. Visualmente densa, carregada de tensão, e com um ritmo que mistura ação e drama humano, O Eternauta carrega consigo não só o peso do clássico que a originou, mas também o frescor de uma produção que sabe onde quer chegar.
O universo pós-apocalíptico pode parecer saturado, mas O Eternauta encontra espaço ao trazer uma abordagem distinta, enraizada na cultura e nos traumas sociais da América Latina. Isso dá à obra um sabor particular, uma espécie de tempero narrativo que a diferencia de produções norte-americanas que dominam o gênero.
Base Literária: O Eixo Central da Comparação
Um dos pontos em comum entre The Last of Us e O Eternauta é o fato de ambas se basearem em obras preexistentes. No caso da série da HBO, o material de origem é um dos jogos mais elogiados da história, com narrativa cinematográfica e emocionalmente carregada. O Eternauta, por sua vez, adapta uma HQ cultuada na Argentina, escrita por Héctor Germán Oesterheld e ilustrada por Francisco Solano López.
Enquanto o público global pode não estar familiarizado com a história do herói latino-americano que enfrenta uma nevasca mortal alienígena, os elementos de resistência, sobrevivência e crítica política são facilmente reconhecíveis — e atraentes — para qualquer espectador atento. A qualidade do roteiro original e sua relevância atemporal se tornam aliados poderosos na construção de uma boa adaptação.
Narrativa e Qualidade Técnica: Uma Produção Que Surpreende
A recepção crítica de O Eternauta também indica que a série não se apoia apenas na nostalgia ou na força de seu material de origem. Há méritos próprios em jogo. Direção competente, elenco afinado, e uma direção de arte que não economiza na criação de um universo visualmente impactante são alguns dos pontos elogiados. A ambientação fria, a fotografia sombria e a trilha sonora inquietante contribuem para uma experiência imersiva.
Além disso, a série parece evitar um dos erros mais comuns do gênero: o excesso de exposição ou explicações didáticas. O Eternauta respeita a inteligência do público e permite que a história se revele no tempo certo, mantendo o suspense e o interesse em alta.
Um Potencial Sucesso Global?
Se a história da Netflix com produções internacionais serve de guia, O Eternauta tem boas chances de seguir o caminho de obras como Dark, Lupin e Round 6. Todas elas começaram como apostas localizadas e acabaram dominando o debate cultural global. A diferença é que O Eternauta chega em um momento em que o público internacional está mais aberto do que nunca a histórias que venham de diferentes partes do mundo, desde que sejam bem contadas.
Com a recepção crítica inicial positiva, a série ganha fôlego para alcançar novas audiências. O algoritmo da Netflix e o marketing da plataforma são conhecidos por impulsionar títulos promissores com rapidez — especialmente aqueles que já apresentam índices de aprovação notáveis. E com um gênero que já possui público cativo, O Eternauta pode se tornar a próxima febre da ficção científica mundial.
The Last of Us Ainda é o Padrão Ouro?
Apesar de sua queda na audiência com a segunda temporada, The Last of Us permanece como referência em adaptações de obras geek. A série da HBO construiu uma base sólida de fãs e entregou uma temporada inicial praticamente irretocável. Mas isso não significa que não haja espaço para outras produções brilharem.
O Eternauta surge como uma alternativa interessante, não apenas por sua origem latino-americana, mas por sua proposta ousada e abordagem narrativa diferenciada. Se conseguir manter a qualidade nos próximos episódios e conquistar o público como já conquistou parte da crítica, poderá não só ser comparada a The Last of Us, mas também caminhar lado a lado no hall das grandes produções do streaming.
