Retrocedendo: as mídias e a cultura vintage – Parte 4

Encerrando nossa viagem ao passado, hoje vamos tratar das mídias sonoras e de outras, isoladas, mas bastante usadas nas décadas de 1980 e 90.

Naquela época, o disco de vinil era muito comum. O primeiro LP (Long Player) que comprei para chamar de meu foi Seu Espião, da banda nacional Kid Abelha e Os Abóboras Selvagens (Fig. 1). Guardei esse disco e ainda ouço, de vez em quando.

Retrocedendo: as mídias e a cultura vintage – Parte 4
Figura 1: LP Seu Espião, lançado em 1984. Imagem disponível em:  https://www.tremdas7.com.br/peca.asp?ID=10576555

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 Eu tinha apenas 10 anos e estava naquela fase de transição da infância para a pré-adolescência, pois, na mesma época, em visita à Feira Estudantil do Livro, realizada anualmente, na Praça Osório, comprei o single do Repórter Bem-Te-Vi, que falava contra a poluição e o desmatamento. O disco era pequeno, por ser single, e o vinil era verde (Fig. 2):

Figura 2: Single O Repórter Bem-Te-Vi.  Imagem disponível em:  https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1183351562-vinil-compacto-o-reporter-bem-te-vi-_JM

Um long player tinha cerca de cinco faixas em cada lado do disco (lado A e lado B). Já o single tinha apenas uma ou duas faixas em cada lado. Aliás, o segundo single que teve um papel importante em minha vida tinha duas valsas, o Parabéns a você e aquela música tradicional de “Feliz ano-novo”. Lembro que havia rosas vermelhas na capa e esse disco foi especial, porque foi um dos únicos presentes que ganhei de um tio meu. Evidentemente, esse não era um presente típico para crianças, mas esse tio tinha certa erudição e eu entendi que as valsas, sobretudo, eram um convite para eu conhecer um tipo de música diferente daquelas que meus amigos costumavam ouvir.

Na década de 1980, as fitas K7 também eram moda. Comprávamos e gravávamos várias, fazendo nossa própria seleção dos sucessos que tocavam no rádio. Graças a isso, aprendi que, quando a fita enrolava, tínhamos que ter uma caneta Bic sempre à mão. E, quando acontecia o pior e a fita arrebentava, precisávamos fazer um remendo perfeito, usando fita Durex. No Natal de 1985, eu e meu irmão ficamos muito felizes com nossos presentes, entre eles um walkman, aparelho que nos dava a chance de ouvir nossas fitas preferidas a qualquer hora e em todo lugar, andando pela rua, no ônibus ou passeando de bicicleta (Fig. 3):

Figura 3: Fita K7 e walkman.  Imagem disponível em:
https://www.turbosquid.com/pt_br/3d-models/walkman-cassette-3d-1268497

Como adorávamos música, meu pai comprou um 3 em 1.  Era um aparelho de som completo, com toca-discos, toca-fitas e rádio (Fig. 4). O nosso era da marca Gradiente e tinha uma elegante porta de vidro, já que, na base, havia lugar para guardar os discos e eles precisavam ficar bem protegidos. Por isso, o 3 em 1 era bem grande. O nosso tinha 1,5 m de altura, sem contar as caixas de som, que ficavam ao lado do aparelho.

O CD (Compact Disc) veio muito tempo depois, na década de 1990, e um dia demos muitas risadas, quando uma pessoa pediu que tocássemos o outro lado do CD… Impossível, porque, diferente do LP, o CD não tem dois lados! Imitando o walkman, depois que o CD foi lançado chegou a vez do discman e, mais tarde, a moda passou a ser usar o iPod, que reproduzia tanto músicas quanto vídeos.

Passando agora a outros tipos de mídia, nos anos 1980, algumas famílias tinham filmadoras. Nós tínhamos uma e filmávamos vários de nossos passeios. Um deles foi ao Zoológico de Curitiba. Meu pai usava filme de rolo 16 mm e, alguns dias depois da gravação, ele projetava o filme na parede de nossa sala de jantar (Fig. 5). Fiquei muito triste quando um dia ele emprestou nossa filmadora para um amigo e esse amigo nunca mais a devolveu…

Quando eu tinha uns 14 ou 15 anos, trabalhei no escritório de contabilidade do meu pai e lá tive a oportunidade de usar aquelas calculadoras grandes, com bobina (Fig. 6). Elas eram de fato profissionais, porque só existiam nos escritórios, no comércio em geral ou nos bancos. Até hoje acho que não temos uma calculadora tão luxuosa quanto essa dos anos 1980, afinal podíamos imprimir e destacar as contas, mas não usávamos o verbo imprimir. Dizíamos tirar a nota

Figura 6: Calculadora de mesa com bobina.  Imagem disponível em: https://iobonlineregulatorio.com.br/melhor-calculadora-com-bobina/

Outra mídia que usei no escritório do meu pai foi a impressora de formulário contínuo, também chamada de matricial. O papel usado era bem específico − mais largo (com 30 ou 40 cm) e com linhas finas, que alternavam as cores verde e branca. Precisávamos deixar uma pilha imensa desse papel embaixo da mesa da impressora, em uma caixa. Depois que imprimíamos algo, em uma linha pontilhada, destacávamos as páginas do restante do maço (Fig. 7).

Figura 7: Papel para impressora de formulário contínuo.  Imagem disponível em: https://www.papelecompanhia.com.br/formulario-continuo-80cl-2v-zebrado-1350jg-1507-5-daily-forms-moore

Ainda relacionado aos computadores, cheguei a utilizar o MS-DOS, um sistema operacional da Microsoft usado nos primeiros PCs lançados pela IBM. Essas máquinas só se popularizaram no Brasil na década de 1990, época em que a tela era preta com as letras verdes (Fig. 8). Posteriormente, a tela passou a ser azul com letras brancas ou cinza. 

Figura 8: Tela do sistema operacional MS-DOS.  Imagem disponível em: https://betawiki.net/wiki/MS-DOS_1.25#/media/File:MS-DOS-1.25-Interface.png

Mais ou menos nesse mesmo período, conheci a agenda eletrônica, mas não me tornei uma fã desse dispositivo. Ainda tenho uma, que dei para meu marido, mas ele também não a usa! Até hoje prefiro a agenda de papel, na qual escrevo todos os meus compromissos. Isso mesmo! Para mim, nem mesmo o popularíssimo aplicativo Google Agenda pode ser comparado à boa e velha agenda de papel.

E assim chegamos ao fim desta visita às mídias mais antigas… Espero que vocês tenham ficado ao menos curiosos por usar algumas delas. Portanto, se alguém quiser saber mais, acesse estes links (https://recortelirico.com.br/2021/veronicadanielkobs/nas-ondas-do-radio/ e https://recortelirico.com.br/2019/veronicadanielkobs/telefone-analogico-fax-e-page-um-elogio-as-midias-vintage/), nos quais contei um pouco sobre a era do rádio e sobre outras mídias que participaram da minha história, como, por exemplo, o fax e o pager

O antigo faz parte de nossa tradição e de nossa cultura. O antigo somos nós! Aliás, o novo só existe porque um dia o antigo foi novidade. Por isso, empresto alguns versos de Arnaldo Antunes, que, em 2021, publicou o poema intitulado “al(anti)go”:

algo antigo
[...]

inimigo 
da rotina 
que prossegue

[...]

fita analógica
película fotográfica
célula fixada em fóssil

algo em ocaso
parnaso
utensílio em desuso
relíquia ou ruína

marfim da China
carteiro, cheiro
de naftalina

[...]

cravo na lapela
letra obsoleta
na tela
do laptop

algo antigo
evocado
ao olvido

alfabeto de Gutenberg
derretido
iceberg (ANTUNES, 2021)

Até nosso próximo encontro, com um novo tema (ou… nem tanto!), aqui, na coluna Há arte em toda parte.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, A. Algo antigo. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. Parcialmente disponível em: 

<https://books.google.com.br/books/about/Algo_antigo.html?id=XIITEAAAQBAJ&source=kp_book_description&redir_esc=y>. Acesso em: 12 mar. 2023.


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