Ensino da Língua na perspectiva de Irandé Antunes
O ensino da Língua Portuguesa, desde sempre, é questionado acerca da necessidade de melhorias no seu ensino público em todo o país. As dificuldades enfrentadas na escola, entre o primeiro ano do ensino fundamental até o 6° ano, é algo que reflete em uma alfabetização cada vez mais desfavorável.
Apesar de o ensino da língua ser fundamentado nos Parâmetros Curriculares Nacionais, no qual é dividido em duas fases, as dificuldades estão cada vez mais frequentes, pois ensinar os alunos a ler e escrever já não é uma questão apenas de ensinar em salas de aula um conteúdo descontextualizado, mas no contexto geral e social em que o aluno está inserido. Com base nisso, traz-se uma perspectiva para uma mudança, na visão de Irandé Antunes, após uma breve observação sobre os parâmetros em que se baseia.
Os PCN’s de Língua Portuguesa, conforme já mencionado, são divididos em duas fases, a primeira iniciando com a apresentação da área de Língua Portuguesa, na qual discute-se a natureza da linguagem, a relação do texto oral- escrito/ gramática, objetivos e os conteúdos ensinados nesta disciplina, levando em consideração a interdisciplinaridade para que o aluno considere a língua em sua visão mais ampla, a relação da disciplina com temas como: ética, saúde, cultura, meio ambiente, entre outros, mostrando que o texto pode ser visto como unidade de ensino, diversificando os gêneros na escola. A base para a formação do aluno também fica por conta da análise crítica e produção de textos. Já a segunda fase, trata-se da Língua Portuguesa no terceiro e quarto ciclo, em que serão trabalhados os conteúdos específicos, dividindo-se em prática de escuta e produção de textos orais e escritos, leitura e análise linguística.
Percebe-se que os PCN defendem um ensino mais amplo, onde a realidade e os temas sociais sejam trabalhados em forma de texto, ampliando a visão do aluno e fazendo com que eles se tornem críticos, ajudando e facilitando na compreensão da língua, produção de textos próprios, na análise linguística, textual e conteúdo contextualizado. Objetivando sempre oral e a escrita no ensino:
O domínio da expressão oral e escritas em situações de uso público da linguagem, levando em conta a situação de produção social e material (lugar social do locutor em relação ao(s) destinatário(s); destinatário(s) e seu lugar social; finalidade ou intenção do autor; tempo e lugar material a produção e do suporte) e selecionar, a partir disso, os gêneros adequados para a produção do texto, operando sobre as dimensões pragmática, semântica e gramatical. (p.49)
Ou seja, em relação ao ensino da Língua Portuguesa, percebe-se que os PCN estão fundamentados nos estudos da linguística textual, que por sua vez tem influência no gerativismo e estruturalismo, criando as gramáticas textuais e distanciando-se do sintático-semântico utilizados por volta da década de 60. Mas ao lermos o Livro Aula de Português de Irandé Antunes (2003), percebemos que na prática, o ensino da língua nem sempre segue a teoria.
No primeiro capítulo do livro, Antunes (2003) demonstra muitos pontos negativos das atividades pedagógicas, reconhecendo que os professores têm se esforçado bastante para trazer à escola mais qualidade e êxito no ensino, porém muitos aspectos devem ser revistos e melhorados.
Segundo ela, no ensino ainda prevalece a perspectiva pedagógica voltada para o ensino da palavra/frase descontextualizada, onde os professores deixam de lado a leitura e a oralidade. Partindo do ponto de vista defendido, a autora irá enfatizar a maneira como a oralidade, a escrita, a leitura e a gramática são trabalhadas, apresentando princípios teóricos que serão capazes de deixar o ensino da língua mais eficiente.
Oralidade:
Para Antunes (2003), os professores não trabalham a fala em sala de aula, colocando-a como ponte para os equívocos no que diz respeito a gramática, demonstrando assim, uma visão equivocada da parte destes profissionais, pois acredita-se que todo o erro acontece na fala. Ela chamará a atenção para este aspecto, pois em sua visão, é importante trabalhar com os alunos a oralidade, mostrando a fala formal e informal e os ambientes em que cada um deve ser utilizado. Aponta ainda para a questão de que a oralidade e a escrita não possuem diferença, pois ambas podem variar de acordo com a ocasião, ou seja, a escrita pode ser informal assim como a fala.
O Aluno deve também, ser capaz de entender o que o texto está passando, além de saber a diferença entre textos orais e escritos. Acrescenta que é necessário fazer com que o aluno compreenda que não é apenas o falar, mas também o ouvir, entender o que o outro está falando, desenvolvendo uma interação e defende que é importante trabalhar a interação entre os alunos, porque se não houver interação, não haverá ouvinte.
Escrita:
Sobre a escrita, a autora relata que os trabalhos com a escrita em salas de aula, muitas vezes ou quase sempre, acontecem de maneira descontextualizada, sem planejamento, no improviso e sem estimular os alunos. Alguns professores solicitam textos escritos com o objetivo de avaliar apenas a pontuação ou ortografia e quando corrige nem sempre devolve. A Linguista apresenta esse aspecto negativo no ensino, pois as atividades que apenas solicitam esse tipo de escrita não motivam o aluno a escrever, isso quando a escrita é trabalhada, pois muitas das vezes, é solicitado ao aluno apenas a criação de frases para fixar o conteúdo dado.
Irandé Antunes defende que o professor deve explicar ao aluno o objetivo da escrita e para quem ele escreve, como ele deve escrever e, especialmente, sobre o que ele deve escrever, tendo consciência de que a escrita não é algo fácil para alguns alunos, pois nem todos conseguem passar as ideias para o papel. Desta maneira, a prática da escrita deve ser trabalhada de forma contextualizada, em que o aluno sempre terá um leitor/destinatário e deverá passar por etapas como: planejamento, etapa de escrita e revisão, levando em consideração o tema, objetivo, gênero e o tempo, que muitas vezes é escasso.
Leitura:
A autora aponta observações em relação a leitura, que não é muito trabalhada em sala de aula, pois os professores acreditam que a leitura irá atrapalhar o andamento de suas aulas, ou seja, se for trabalhar a leitura de livros em sala, acaba que não sobra tempo para trabalhar a gramática, e a gramática deve ser privilegiada, segundo o pensamento de alguns professores. Outro equívoco é a leitura obrigatória, que torna raro o gosto pela leitura nas aulas de estudo da língua.
Segundo Antunes (2003), a leitura deve ser prazerosa e é para isso que existem os textos literários, como: romances, contos, poemas, etc…. Os textos não devem ser trabalhados com o único objetivo de análise sintática e ortográfica, pois isso anula a função poética do texto e pode ajudar na dificuldade que os alunos encontram na hora de produzir textos, no pouco contato que eles possuem com textos literários e a falta de aprofundamento destes textos, no que diz respeito ao lado semântico, a interpretação e sentido.
A leitura deve ser trabalhada em sala de aula em sua amplitude geral, estudando sim a gramática dentro dos vários gêneros que devem ser apresentados, mas não ficando apenas nisso, é necessário trabalhar a interpretação dos textos, levando em conta os textos em que os alunos se identifiquem, para tornar a leitura prazerosa, gostosa e incentivar o gosto pela leitura.
Gramática:
O ensino da gramática, atualmente, é trabalhado de maneira descontextualiza e fragmentada, carregada de nomenclaturas e pura prescrição, distanciando o ensino da realidade do aluno, fazendo com que o ensino da Língua Portuguesa perca o sentido para eles, ao perceberem que o conteúdo gramatical apresentando, cheio de regras, foge do conteúdo utilizado por eles no dia a dia, tanto na escrita quanto na oralidade. E essa falta de sentido, faz com que os alunos deixem de gostar das aulas de língua portuguesa, por culpa de um ensino equivocado. E em cima destas observações, irá apresentar sugestões para uma nova maneira de ensinar a Língua, fazendo reflexões sobre o ensino.
Parte do princípio de que não existe língua sem gramática, pois todos os falantes usam as regras de sua própria língua, pois esta é internalizada, porém a diferença é que as pessoas não se preocupam com a nomenclatura, apenas fazem o uso da língua. E a escola entra com a parte de ensinar a gramática, só que este ensino acaba sendo errôneo, por acreditar que ensinar nomenclatura é ensinar gramática. Para a autora a questão é que deve ser ensinado como se usa a língua em seus variados gêneros textuais orais e escritos.
Desta maneira, ela aponta que o professor deve ensinar a regra para a produção da leitura, de resumos, resenhas, entrevistas, entre outras, para aumentar e aperfeiçoar seu empenho comunicativo. Ensinar a produzir e interpretar diferentes gêneros de textos, o que será obtido com a leitura e produção destes gêneros, este seria um ensino de gramática mais eficaz, deixando claro a importância de explicar aos alunos que a norma padrão é de uso social, porém não é a única norma correta.
Considerações finais sobre a visão de Irandé Antunes
Pode-se perceber que o ensino da língua evoluiu, mas enfrentou e continua enfrentando dificuldades. Observou-se que a leitura não é trabalhada com importância dentro de sala, em muitas vezes, deixando de ser ensinado e a produção de textos também é esquecida pelos professores, que continuam focados no ensino da gramática normativa como norteio para os conteúdos diversos. Tal ensino, conforme apresentado, é um imenso erro, pois além do ensino maçante de uma nomenclatura desnecessária na visão dos alunos, os conteúdos aparecem descontextualizados.
Irandé Antunes (2003), apresenta um ensino de língua ainda arcaico, focalizando nas melhorias que podem ser realizadas, fazendo com que seus leitores – acadêmicos e professores – reflitam sobre a maneira com que a língua é ensinada e questionem-se a si mesmos sobre qual a melhor maneira de ensinar. Apresentou-se os pontos importantes sobre o ensino da oralidade, em que é importante tirar do pensamento a ideia de que a fala sempre estará errada e a escrita sempre estará certa, da escrita, em que os alunos precisam ter objetivos e destinatários para seus textos e que faz-se necessário um planejamento e tempo para a produção de seus textos, da leitura, na qual é de extrema importância trabalhar com gêneros em que os alunos se identifiquem e diversos gêneros, e da gramática que pode ser trabalhada sim, mas em um contexto que insere a realidade do aluno.
Tais observações e sugestões apresentadas têm como objetivo a melhoria do ensino da língua portuguesa, fundamentada nos PCN’s, a autora propõe uma nova maneira de ensinar a língua com eficácia e facilidade, fazendo com que os alunos se interessem mais pelas aulas de língua portuguesa, aprimorando todos os aspectos descritos ao longo deste artigo.
Por Aline Ribeiro.
REFERÊNCIAS:
MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental: Língua portuguesa. Brasília: 1997.
ANTUNES, Irandé. Aula de Português: Encontro & interação. São Paulo. Editora Parábola. Ed. 3. 2003.
Teoria e Prática no Ensino de Língua Portuguesa: OS PCN e a Realidade Escolar. Disponível em: http://www.filologia.org.br/xvi_cnlf/tomo_3/247_B.pdf Acesso em: 27 de Setembro de 2016.
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Concordo plenamente nas questões abordadas nesta maravilhosa reflexão, em que a lingua portuguesa é palco de discussão benéfica, para a promoção de um ensino mais produtivo e eficiente.