Aleluia! — por Zé Ciabotti
Samuel, quarenta e poucos anos, missionário e pastor daquela igreja de nome pomposo, vidro espelhado e vinte minutos na tevê em horário nobre. Estufa as veias da garganta pra condenar homossexualismo, feminismo e o divórcio. “É errado, está tudo na bíblia”. No último culto, emocionado e de joelhos, pastor Samuel pediu aos fiéis que abrissem o coração e, com a humildade de quem almeja a salvação, paraíso, doassem ao templo. “Vamos desapegar pela salvação”, gritava com a voz embargada. Pastor estava aceitando cheque e cartão, afinal, precisa angariar fundos: o filho mais novo quer estudar no Canadá, a filha está de casamento marcado e, sua esposa, quer fazer plástica nos seios e visitar Nova Iorque.
E claro, tem também a grana para Maria, a empregada da família, voltar pra sua cidade natal e ficar de bico calado. Ninguém pode saber do aborto que foi obrigada a fazer.