“Baudelaire” biografia em forma de poema escrito por Rilke

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“Se não for Baudelaire eu nem leio”

É, parece que Rilke partilhava dessa ideia, e quem não compartilha? Afinal, Baudelaire é realmente um dos nomes mais icônicos da poesia (sou só eu que acho isso?). No entanto, apesar de receber aplausos, Baudelaire recebeu também muitas vaias do público conservador de sua época e teve muitas críticas ruins com relação ao que escrevia. Tendo isso em mente, observemos o poema de Rilke, “Baudelaire”:

“Somente o poeta juntou as ruínas
de um mundo desfeito e de novo o fez uno.
Deu fé da beleza nova, peregrina,
e, embora celebrando a própria má sina,
purificou, infinitas, as ruínas:

assim o aniquilador tornou-se mundo.”
Tradução: José Paulo Paes.

Para aqueles que são leitores de Baudelaire fica clara a relação com sua biografia, pelo menos para mim ficou. Atente para o terceiro verso “deu fé da beleza nova, peregrina”, essa beleza nova e peregrina faz referência às inovações poéticas praticamente lançadas por Baudelaire.

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O poeta francês foi inovador no que diz respeito à temática, já que trouxe para seus poemas um elemento diferente: o grotesco, o feio, o horrível, retratado na forma mais bela possível. Eu fui a única que pensou no famosíssimo poema “Uma carcaça”? Pois é, nele, Baudelaire descreve uma carcaça em processo de putrefação com mínimos detalhes, o que é inusitado para a poesia que estava sendo produzida na época. É aí que entra esse verso do poema de Rilke, essa beleza nova é o elemento grotesco, ou melhor, o elemento não explorado na poesia até então.

Quando a voz lírica diz que o poeta celebrou a própria sina, ao meu ver, podemos interpretar de duas maneiras: primeiramente, o poeta se refere à crítica e às vaias que Baudelaire recebeu com suas inovações poéticas. Baudelaire fez questão de dar uma resposta à essas vaias a partir de sua poesia, eu me refiro especificamente ao poema em prosa “O cão e o frasco”, onde o poeta deixa bem clara sua indignação com relação à ignorância da maioria do público do período:

“[…] Ah, miserável cão! se eu te houvesse oferecido um embrulho de excrementos, decerto o cheirarias com delícia e talvez o tivesses devorado. Assim, ó indigno companheiro de minha triste vida, tu te assemelhas ao público, a quem nunca se devem apresentar perfumes delicados, que o exasperam, mas imundícies cuidadosamente escolhidas.”
Tradução:Aurélio Buarque de Hollanda.

Outra possível interpretação para o quarto verso é que a celebração da própria ruína seria uma metáfora referente aos desprazeres tematizados por Baudelaire em sua poesia. Ele faz retratos da morte, da putrefação e da desgraça, ou seja, traz para seus versos a ruína da humanidade, assim, celebra-a (metaforicamente falando, é claro).

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Quanto ao quinto verso: “purificou, infinitas, as ruínas”, seguindo as duas interpretações anteriormente expostas, é possível entender que Rilke fala da inovação de Baudelaire, as ruínas são um símbolo daquilo que já havia sido escassamente feito na literatura. Além disso, esse verso possui uma possível relação com o título da obra “As flores do mal”, pois esse título é uma metáfora que apresenta uma disparidade de termos, as flores representando a beleza da poesia e o mal que simboliza a temática diferenciada de Baudelaire. As flores são associadas à purificação e o mal às ruínas infinitas.

No tocante ao último verso “o aniquilador tornou-se mundo”, bem, esse se explica sozinho, não é mesmo? Baudelaire tornou-se um ícone, tendo influenciado a produção poética a nível internacional. Rilke, inclusive, bebeu das águas que escoam da magnífica cachoeira chamada Baudelaire.

 

 

 

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