Rei Leão, uma fanfic que deu certo
Quem aí gosta da Disney?
Bem, a Disney, apesar de ser uma empresa comercial, já produziu algumas animações de altíssima qualidade: O Corcunda de Notre Dame, Mulan, Tarzan, citando os melhores exemplos. Hoje irei tratar sobre uma que é, em especial, um “clássico” da Disney: Rei Leão.
Rei Leão foi lançado em 1994, obtendo grande sucesso de bilheteria, com uma equipe de dublagem ótima, trilha sonora muito boa e uma produção excelente. É realmente um desenho de qualidade, não poderia ser diferente, não é mesmo? Já que foi baseado em uma obra do nosso queridíssimo Bardo, isso mesmo! Vamos para a análise:
Primeiro, podemos começar atribuindo as personagens do desenho às da peça, comecemos por Simba, que é, obviamente, a releitura do Hamlet. Por quê? Bem, tanto Hamlet quanto Simba são príncipes de seus respectivos reinos e ambos possuem tios malvados que assassinam os seus pais. Isso, indubitavelmente, faz do Scar a releitura de Cláudio, tio do Hamlet. Mufasa é o fantasma e Sarabi é a Gertrudes. Nala, então, é a Ofélia e o Rafiki, é o Horácio. Olha só, encaixou direitinho, à exceção de alguns personagens que variam de um obra para a outra (afinal, estamos falando de uma fanfic, não de um plágio).
Agora, tratemos do enredo: Hamlet e Simba estão muito bem, até que seus tios, Scar e Cláudio, matam os seus pais e ninguém fica sabendo da verdade. Esse tio perverso assume o poder do reino e os príncipes parecem enlouquecer. No caso de Simba, fugindo para longe e se esquecendo do passado (Hamlet também se distancia de seu reino por algum tempo, apesar de ser bem mais curto). Mufasa inicia o desenho ainda vivo, enquanto o rei Hamlet já está morto no começo da peça, no entanto, ambos aparecem como fantasmas, trazendo a verdade aos seus filhos e guiando-lhes para que vinguem-nos e tomem os reinos para si. Rafiki e Horácio são servidores das famílias reais, responsáveis por mostrar a Simba e Hamlet, os fantasmas de seus pais.
É muito interessante reparar que a aparição dos fantasmas causam em ambos os filhos a mesma reflexão: ser ou ser, eis a questão. É claro que no caso do Hamlet, esse problema causa um aprofundamento psicológico muito maior, mas Simba enfrenta também essa dúvida: continuar na vida fácil que levou com Timão e Pumba e ignorar sua ascendência real ou retornar para revelar o assassino de seu pai a todos e tomar seu lugar como rei? Querendo ou não, ele poderia ter perguntado a si mesmo “ser ou não ser rei?”, mas talvez a referência ficasse óbvia demais (o que não me incomodaria nem um pouco).
É claro que existem diferenças de uma obra para a outra, afinal, estamos falando de uma peça escrita por um dos maiores nomes da literatura mundial e de uma animação destinada a crianças, produzida no final do século XX. entretanto, as semelhanças já citadas apontam para uma muito possível influência do drama no desenho, como se esse fosse uma releitura (ou uma fanfic) daquele. Felizmente, a produção de Rei Leão foi consciente o suficiente para transformar um dos maiores clássicos da literatura em uma animação divertida, cheia de canções e com um final que não envolve a morte de todo o elenco (o que não seria muito apropriado para crianças).
Eu, particularmente, sou apaixonada por ambas as obras, já assisti muito esse desenho e também já li a peça algumas vezes. Se tenho um preferido? Bem, hoje em dia prefiro a peça, porque o filme não tem mais a mesma graça de quando eu era criança. E você, leitor, se ainda não leu Hamlet, leia! Se ainda não assistiu Rei Leão, assista! Depois venha conversar comigo para discutirmos mais sobre um ou outro, Hamlet, especialmente, dá pano para muita roupa!