Resenha – O Lago dos Cisnes no teatro Guaíra
O Lago dos Cisnes é tradicionalmente uma das peças de balé mais conhecidas do mundo, tendo sido encenada pela primeira vez em 1877, na Rússia, com a honra de ter por compositor o nosso queridíssimo Tchaikovsky. Desde então, essa apresentação já foi reproduzida inúmeras vezes em vários países, com diferentes orquestras, bailarinos, diretores e produções de cenário, música e figurinos. Você provavelmente já ouviu falar dessa peça, seja por meio de filmes onde ela é comentada ou retratada ou por outros meios.
Foi celebrada recentemente, aqui em Curitiba, mais uma série de apresentações do Lago dos Cisnes, no teatro Guaíra, o mais famoso e renomado da cidade. O evento foi realizado com participação da orquestra sinfônica do Paraná e do grupo de dança do teatro Guaíra, durante a última semana do mês de Junho de 2018. A recepção do público foi excelente, os ingressos esgotaram já no primeiro dia e os curitibanos lotaram o teatro em todos os dias de apresentação. Eu também prestigiei o trabalho dos artistas e da equipe que foi responsável pelos shows e gostaria de compartilhar minha opinião.
Sob direção e coreografia de Luiz Fernando Bongiovanni, regência do maestro Luís Gustavo Petri, apoio do Ministério da Cultura e do Governo do Paraná, o espetáculo Lago dos Cisnes foi certamente de altíssima qualidade. Eu não afirmo isso só porque a execução de fatores como figurino, iluminação, coreografia, música estavam acima da média, mas porque esse espetáculo trouxe ao público uma versão bastante contemporânea da apresentação. Como já dizia Manuel Bandeira em seu poema “Poética”: “Estou farto do lirismo comedido/do lirismo bem comportado”, parece que Bongiovanni incorporou esses dois versos e desenvolveu uma apresentação bastante diferente do padrão. Eu, pelo menos, esperava assistir a um espectáculo fiel à versão original, porém, foi uma belíssima surpresa ver uma coreografia que, ainda que atida ao balé clássico, possuía momentos de descontração, com movimentos mais soltos. Os dançarinos, mesmo que seguindo uma coreografia muito bem trabalhada e técnica, também fugiam desse padrão rígido do balé para chutar, girar, pular de forma mais livre, mas ainda sim muito bem calculada.
Outro aspecto que me surpreendeu foi o figurino: os cisnes brancos, ao invés de terem um figurino bonito, com adornos de plumas, tinham seus corpos todos pintados de branco, simplesmente. A tinta não havia sido regularmente aplicada, dando um aspecto menos elegante. Eu acredito que isso tenha sido um fator intencional do figurinista William Pereira, a fim de transmitir realmente a essência da peça, uma vez que os cisnes são, na verdade, pessoas amaldiçoadas. Um figurino pomposo, como era na peça tradicional, não conseguiria exprimir essa ideia da mesma forma. É também interessante pontuar que a princesa Odete possuía exatamente o mesmo figurino que os demais cisnes.
Ainda no que tange aos cisnes brancos, foi muito interessante assistir a uma peça onde havia um grande número de bailarinos homens, que tiveram cenas para exibir sua dança em pares. Tradicionalmente, no balé, os pares são exclusivamente formados por um homem e uma mulher. Ver um espetáculo que conseguiu extrair o talento dos bailarinos de forma tão inovadora (pelo menos comparado às outras peças) foi muito gratificante. Retomando ao poema de Bandeira, o espetáculo fugiu ao padrão comedido, preso às tradições e isso faz muito sentido, já que o público de hoje quer essas inovações, enquanto um público de alguns anos atrás não teria uma recepção tão grande à elas.
Bom, para fechar, é importante elogiar novamente a apresentação, que estará de volta aos palcos do teatro Guaíra em Dezembro, até lá, a peça será realizada em Maringá e Cascavel. Foi realmente um espetáculo muito bem executado por toda a sua equipe, tanto por parte da orquestra sinfônica do Paraná quanto por parte do pessoal do teatro Guaíra. Minhas congratulações estão, portanto, expostas a partir dessa resenha.