Crush
Na primeira vez que participei da roda de conversa acabei perguntando qual era a vertente ideológica da galera. Quando perguntei pro Guilherme, Jão respondeu por ele:
— Guilherme? Guilherme era de esquerda, mas agora é de direita porque o chefe dele é de direita.
— Não é bem assim — o Gui se defendeu. — Eu era muito de esquerda e depois que ele me falou algumas coisas que fazem sentido passei a ser centro-esquerda.
— Ah, deixa disso! Seu crush nele é tão forte que você não escutava sertanejo e agora escuta.
— Eu escuto todo tipo de estilo musical, meu querido, sou eclético. Gosto de rap e meu chefe não gosta, por exemplo.
— Ah, tá! Então agora você vai dizer que não assinou Netflix só porque seu chefe vive falando que gosta de Dr. House?
— Nada a vê! Eu tenho Netflix pelo mesmo motivo que todo mundo tem Netflix. E se você ficar me enchendo o saco eu troco a senha e quero ver como você vai assistir Hannah Montana. Eu não faço ou deixo de fazer as coisas só porque o Alberto faz ou não. Ele está indo pros Estados Unidos para abrir uma filial e você não está me vendo fazer as malas, está?
Achei graça, mas não dei muita atenção pra discussãozinha.
Ontem fizemos outra roda de conversa enquanto fazíamos sinal de fumaça e acabei comentando, zoando:
— Já repararam que agora o Gui tá parecendo um coach? Toda hora enfia um termo em inglês no meio da fala.
— Aposto que o chefe dele voltou dos Estados Unidos — Jão disse, rindo.
Gui sequer tentou negar.