Cleber Pacheco, a esmeralda de Esmeralda e o Livro dos Livros
Um pequeno postal que serve apenas para chamar a atenção para o “Livro dos livros” do Cleber Pacheco. Voltarei a este autor, que faz o favor de ser um irmão, demorando-me como ele merece não só pelos muitos livros que vai acumulando, todos de excecional qualidade, mas porque o futuro, uma vez mais, me dará razão: estamos na presença de um dos últimos gigantes da Literatura – diria do século XX.
Entre muitas outras coisas, Cleber Pacheco é um gigante porque é um resistente, numa época onde todos vendemos, consciente ou inconscientemente, a alma a algum diabo. Resiste aos ditames do mercado, resiste aos (pseudo) valores instituídos, resiste ao fascismo emergente, resiste ao facilitismo na arte, resiste ao açucareiro literário.
Percorrendo a obra do Cleber, e eu conheço em cada livro a génese, produção e edição, não se encontra sombra da mediocridade moderna. Não há sombra de pensamento positivo, auto-ajuda, pseudo-espiritualidade, hiperbolização dos dramas amorosos urbanos, pornografia, narcisismo ou escândalo à procura de palco fácil.
Cleber Pacheco está na senda do imaginário de Lewis Carrol, onde os mundos macrocósmicos e microcósmicos, oníricos e reais se cruzam; de Hermann Hesse, em que se respira o ambiente puro académico-espiritual de Castália do Jogo das Pérolas de Vidro; de Borges, com o imaginário das bibliotecas e mundos perdidos de poções mágicas; tem um cocktail de conhecimentos profundos que a mim me surpreende a cada passo de Madame Blawatsky, Rudolph Steiner, hermetismo, espiritismo, hinduísmo, etc., mas, a sua escrita e imaginário, bebem das fontes e das tradições, não é filho de um New Age para consumo de fúteis; está, também, na senda da Literatura Infanto-Juvenil, fonte sempre eterna de encantamento e de cariz universal – escreve para a nossa angústia de adultos usando o nosso imaginário juvenil. Os leitores dos seus livros são um misto de crianças e iluminados.
Este postal serve também para agradecer a delicadeza de me atribuir um conto, não por acaso lhe dá o título de “apocalíptico”. Cleber nunca fala e escreve do que se vê, é um alquimista natural que capta imediatamente os mundos e os “arcanos” que estão ocultos no inconsciente de cada indivíduo e situação. Não me vê como um macaco de circo ou guia turístico que sabe dizer uma frase instantaneamente em diversas línguas, mas percebe que essa faculdade tem origem num cruzamento cultural e familiar e que não passa de um instrumento de acesso a diversos mundos heterogéneos, “perdidos”, inconscientes e meta-físicos.
Abrir o Livro dos livros é mergulhar num mundo de menorás, de livros, de alfabetos, de Adão e Eva, paraísos, anjos, demónios, poetas, Frank Wans, de florestas encantadas, de livros herméticos, de velhos sábios acompanhados de uma jovem linda, de sibilas, de conjuras, de invocações, de escaravelhos e múmias, de encantamentos, de Devas e Djins, de universos paralelos, de mitologias e teologias, de poções mágicas, de elixires, de labirintos, de poderes mágicos, de tapetes voadores, de múmias e de faraós, de manuscritos, de poços, de palácios e ilhas encantadas…
É por autores e livros destes que o mundo é um local ligeiramente menos sombrio.
E adivinha-se um livro “Kolossal” em breve…
Eu assino cada palavra escrita neste comentário. Cleber Pacheco é um escritor que define o amor pelas palavras, tornando-se um senhor contador de histórias, carregadas de emoção e verdades. Li vários de seus livros, é estou na fila a espera de muito mais. Parabéns!!! Você merece.
Muito grato, Priscila. Sua sensibilidade lhe proporciona uma visão privilegiada das coisas. Grande abraço.