“Muito tempo atrás” de The Last Of Us: análise do EP 3

O terceiro e tão aguardado episódio de The Last Of Us (Muito tempo atrás) não decepcionou. Tem sido um martírio aguardar toda a semana para uma pílula de entretenimento de qualidade, mas o que nos resta é esperar. Pelo menos sabemos que, com The Last Of Us, tarda, mas não falha.

Começamos o episódio com Joel e Ellie, agora sozinhos, após a morte da Tess. Eles estão já há alguns quilômetros de Boston e a missão é peregrinar em direção ao tão desejado laboratório, para que a “luz” enfim ilumine a escuridão, do Joel e do mundo.

Como não poderia ser diferente, em “muito tempo atrás” vemos Ellie cercada de curiosidade e fazendo as habituais perguntas, as corretas e as indelicadas. Por outro lado, vemos o Joel se esquivando de todas elas. Mas sempre a protegendo. É na estrada que ele quer preservar a memória da garota e evitar que ela se aprofunde tanto no mundo tenebroso pré-pandemia.

Entratanto Joel falha. Ellie e nós confirmamos a tese da dissseminação do fungo através do trigo e demais grãos e somos levados a um verdadeiro vale de ossos secos, onde ali encontramos pessoas inocentes, que foram encorajadas a deixar as suas residências para viver em abrigos, mas muitas não puderam nem chegar lá e foram mortas pelo exercíto, mesmo sem estarem doentes. Ellie fica abismada. Nós também.

"Muito tempo atrás" de The Last Of Us: análise do EP 3

E é assim que somos de fato levados a um período de “muito tempo atrás”, mais precisamente em 2003, no início da pandemia, em Boston. Estamos na companhia de Bill, um sobrevivente astuto que escapa do exercíto e consegue ficar em sua residência. Essa, pois, é cercada de apetrechos de segurança e Bill têm artilharia pesada, o que proporciona viver relativamente tranquilo, não sem receber alguns convidados ilustres, que acabam mordendo as iscas do sobrevivente no meio do caminho.

Esse flashback que a série nos dá é importantíssimo para entendermos a grande história que está por vir. Joel precisa ainda da tal bateria e só pode recorrer a Bill e… Frank. Sim, mais tarde, Bill acaba “capturando” um não-infectado, que precisa de banho e comida. O que começa com um medo e um clima de tensão, principalmente da parte do anfitrião, culmina em uma cena de amor. Vemos amor em The Last of Us depois de muito tempo.

No piano, Bill finalmente encontra um parceiro inesperado. Frank, que só ficaria mais alguns dias na residência, vive um relacionamento de quase vinte anos com o seu amado, e é nesse meio tempo, no rádio, que ele conhece Tess e Joel. Lembram da comunicação por hits de décadas, no primeiro episódio? Pois bem, é Frank quem combina com Tess. Por outro lado, a relação de Joel e Bill não é lá essas coisas. Bill é tão desconfiado quando o nosso querido Joel, mas há um respeito mútuo da desconfiança entre esses dois.

"Muito tempo atrás" de The Last Of Us: análise do EP 3

Ao final desse encontro, é Joel quem alerta Bill sobre o perigo de ser tão pouco receptivo. Joel, claro, quer fazer negócio. Bill, por sua vez, quer proteger a si e ao seu companheiro. Alguns anos mais tarde vemos a casa ser invadida. Era inevitável. Entretanto, como um guerreiro, Bill protege a sua propriedade, que fora da sua mãe, mas não sem tomar um tiro na altura do estômago.

Pouco tempo antes disso, vemos Frank fazer uma surpresa ao seu companheiro Bill. Um pé repleto de morangos frescos, sementes trocadas por uma arma com Joel e Tess. A cena deles desfrutando do alimento, provavelmente depois de uma década, é uma das coisas mais bonitas de The Last Of us e do episódio “muito tempo atrás”, inteiros.

Vemos aqui a beleza das pequenas coisas, dos pequenos sabores, dos detalhes sutis que a vida, em sua normalidade, nos proporciona. Estamos diante de um refresco de lindos momentos vividos por um casal extremamente felizes, diante de sua solidão interrompidas somente em alguns pequenos momentos. Com visitas desejadas ou não.

"Muito tempo atrás" de The Last Of Us: análise do EP 3

Somos levados a crer na morte de Bill, mas ao passar alguns anos desde a tentativa de invasão dos meliantes e o tiro que ele tomou, vemos é o próprio Frank em uma cadeira de rodas, acometido por uma doença degenerativa. Já com idade avançada e sem lá muita força, Frank decide que viveria o seu último dia de vida.

A contragosto, Bill cede à vontade do seu parceiro e proporciona o melhor dia possível. Eles se casam. Mais tarde, repetindo gestos do primeiro jantar entre os dois, Bill resolve não só colocar os remédios na taça do Frank, mas em toda a garrafa. É um suícidio coletivo e intencional. Um clássico!

Bill como alguém que acabara de jantar e viver os melhores dias de sua vida é taxativo: “estou satisfeito”. E é assim que nos despedimos de um dos momentos mais ímpares da série até o devido momento. Com o amor, mas com dor. É difícil aceitar a dor, mas aqui ela é intrínseca.

Não tarda até Joel e Ellie chegarem a casa dos velhos amigos em busca de socorro. Enquanto Joel procura os seus amigos, Ellie encontra a carta “para alguém, mas provavelmente o Joel”. É ali que Bill confessa o seu profundo respeito por Joel e se despede do quase-amigo. É ali, naquele momento, que vemos, mais uma vez, Joel perder.

Diferente de quando a Tess morre, vemos Joel finalmente confirmar um compromisso com a Ellie e buscar ar fresco. Ele quase chorou. Ele se emocionou, claro. Joel sabe o que é perder desde quando a sua filha o deixou nos braços. Ele só não esperava que pudesse ser daquela forma com Bill e Frank.

Depois de pegar o suficiente, recarregar a bateria e sair com o carro, para muitas surpresas da Ellie, os dois deixa a cena em busca do vazio nesse mundo pós-pandêmico. Vazio também no quarto de Bill e Frank, com o afastamento melancôlico da câmera em direção à janela, cuidadosamente aberta para evitar os maus cheiros.

Vemos um episódio brilhante em “muito tempo atrás”. Vemos a dor, mas somos presenteados com o amor de um casal que soube viver e aproveitar a presença um do outro em meio ao caos. Presença essa cada vez menos sentida.

Adeus, Bill e Frank.


Nós estamos analisando episódio po episódio, como fizemos com o ep 3: “muito tempo atrás”. Leia a análise dos anteriores:

EP 2: Infectados (clique neste link)

EP 1: Quando estiver perdido na escuridão (clique neste link)

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