Happy Valley: 3ª temporada é um desfecho imperdível
A terceira e última temporada de “Happy Valley” é um dos mais emocionantes capítulos finais que uma série poderia oferecer. Desde que vimos Catherine Cawood (interpretada por Sarah Lancashire) enfrentar um viciado em drogas em um playground público, sua vida aparentemente comum se tornou extraordinária. Ao longo dos anos, testemunhamos suas batalhas contra seus próprios demônios e os criminosos que ameaçam a paz de sua pequena cidade em West Yorkshire. Ficamos fascinados com a brilhante narrativa de “Happy Valley”.
Embora apenas um ano e meio tenha se passado entre a primeira e a segunda temporadas, houve um desenvolvimento significativo nos personagens principais e secundários. Na segunda temporada, Catherine ainda lida com a prisão de Tommy Lee Royce (interpretado por James Norton), mas não se sente completamente à vontade. Seu neto Ryan (Rhys Connah) está cada vez mais curioso sobre seu pai, e um fã obcecado de Royce se infiltra na escola de Ryan para se aproximar dele. Porém, a terceira temporada é completamente diferente, ocorrendo sete anos após os eventos da segunda temporada.
Essa decisão permitiu que o ator Rhys Connah, que interpreta Ryan, se tornasse um adolescente. Agora com 16 anos, Ryan enfrenta pressões enquanto Catherine se aproxima da aposentadoria. Parece que a vida está tranquila, até que uma grande traição coloca Tommy Lee Royce de volta na vida de Catherine, mais próximo do que nunca. Embora possamos reconhecer elementos familiares na trama, a genialidade de Sally Wainwright evita qualquer repetição.
Normalmente, dramas policiais como “Happy Valley” não são lembrados como os melhores da televisão. Geralmente, são as séries da HBO, ambientadas na Casa Branca ou no mundo da máfia, que atraem mais atenção, com enredos mais arriscados do que uma história sobre vingança policial. No entanto, o domínio absoluto de Sally Wainwright supera tudo isso. As apostas de “Happy Valley” nunca se resumiram aos criminosos com os quais Catherine lida. É a complexidade emocional e pessoal que permeia essa família desfeita, abordando passado, presente e futuro.
Catherine ainda é atormentada pela morte de sua filha Becky, questiona constantemente o que é melhor para Ryan e vive com o medo de que, apesar de sua criação, a natureza de seu pai acabe influenciando o destino de Ryan. São questões reais, familiares e humanas que, por meio de um roteiro preciso e atuações fenomenais, fazem com que pareça que o mundo inteiro está sobre os ombros de Catherine. Por isso, “Happy Valley” merece tanto seu tempo quanto “The Sopranos” ou “The West Wing”.
“A última temporada de Happy Valley entrega”.
A terceira temporada de “Happy Valley” está totalmente consciente das expectativas do público e as atende, oferecendo uma despedida satisfatória para esses personagens. Cada um deles enfrenta seus próprios traumas e desafios, mas também encontra momentos de alegria ao longo dos episódios. Ryan lida com pressões em casa, na prisão onde seu pai está e na escola.
O casamento de seu treinador de futebol é o foco de uma subtrama envolvendo um farmacêutico lutando por dinheiro e uma dona de casa abusada comprando pílulas ilegais, o que leva a um desfecho trágico para os personagens mais indignos. Essa é a essência de “Happy Valley”. As vítimas são sempre as pessoas menos merecedoras – nada é justo aqui. Os criminosos corruptos continuam no topo, enquanto aqueles que lutam para sobreviver enfrentam ameaças cada vez piores e, às vezes, um destino cruel. A luz brilha na personagem de Clare, irmã de Catherine, revelando um lado que estava oculto nas duas primeiras temporadas.
Uma das mudanças mais interessantes desta temporada é a perspectiva de Tommy Lee Royce. Nas temporadas anteriores, vimos a história apenas pelos olhos de Catherine – olhos cheios de repulsa, ódio e vingança. Sete anos depois, a série toma a decisão interessante de se distanciar disso e permite que o público reflita sobre a moral de Tommy por conta própria. Será que ele é retratado como uma vítima? De forma alguma. No entanto, “Happy Valley” oferece a oportunidade de refletir sobre a vida desse homem, suas escolhas e como ele chegou onde está. Essa mudança é refrescante e torna a dinâmica entre Catherine e Tommy uma das mais interessantes da televisão atual.
Como mencionado anteriormente, dois aspectos fundamentais destacam “Happy Valley” em relação a outras séries: o roteiro e o elenco. Ao longo dos sete anos, os atores se aprimoraram ainda mais. Siobhán Finneran, como Clare, compreende perfeitamente o papel de sua personagem, acrescentando nuances significativas. Clare pode parecer ingênua e sem noção, mas Finneran mostra que sua personagem é muito mais do que aparenta. James Norton, que se tornou uma estrela desde o início da série, entrega um desempenho impressionante como Tommy. Ele acompanha o ritmo do roteiro com maestria. Ele não o transforma em um herói incompreendido, mas desafia o público a questionar seu ódio pelo personagem.
No entanto, é Sarah Lancashire que brilha em um dos melhores desempenhos da televisão na terceira temporada de “Happy Valley”. Ela interpreta Catherine com tanta autenticidade que é difícil acreditar que é apenas uma atuação. Catherine enfrenta uma montanha-russa de emoções devastadoras ao longo da temporada, e Lancashire entrega cada momento com maestria. Sua expressão habitual de seriedade e controle ao confrontar aqueles que a desafiam é notável. Mas enquanto ela reflete sobre as escolhas que fez em sua vida, vemos sua profunda vulnerabilidade como ser humano.
Às vezes, tememos Catherine, mas Lancashire sempre nos lembra de que, no final do dia, ela é apenas uma mãe, uma avó e uma policial fazendo o seu melhor. Sem spoilers, é emocionante ver Lancashire e Norton compartilhando cenas novamente, o que resulta em um dos finais mais tensos, cativantes e absolutamente imperdíveis da história da televisão. Felizmente, Lancashire continua a nos presentear com sua presença, interpretando Julia Childs na série “Julia”, que foi renovada para uma segunda temporada.
“Happy Valley” pode parecer, à primeira vista, um procedimento policial britânico reconfortante para relaxar depois de um dia estressante. Porém, as duas primeiras temporadas já provaram que esse não é o caso. E a terceira temporada reafirma essa ideia. A série oferece uma visão profunda sobre família, moralidade e as adversidades da vida. Esperamos sete anos por essa temporada, e cada segundo de espera valeu a pena.
No geral, a terceira temporada de “Happy Valley” é um capítulo final brilhante que supera as expectativas. Com um roteiro preciso e um elenco excepcional, a série entrega uma experiência emocionalmente intensa e inesquecível. Não importa se você é fã de dramas policiais ou não, “Happy Valley” merece ser apreciada como uma das melhores produções televisivas dos últimos tempos.