Fallout: Uma Ironia Que Denuncia o Capitalismo Canibalístico
Nos tempos antigos, a mera menção de adaptações cinematográficas de jogos de vídeo provocava calafrios tanto em espectadores quanto em produtores, trazendo à mente fracassos retumbantes como Super Mario Bros. e Prince of Persia: As Areias do Tempo. Este fenômeno era conhecido como a maldição dos filmes de videogame, algo que não impediu a franquia Resident Evil, de Paul W.S. Anderson, de alcançar um sucesso estrondoso.
A narrativa começou a mudar quando os estúdios viraram-se para animações de videogames, enquanto as adaptações live-action ganharam consistência, especialmente em formato de séries, com exemplos bem-sucedidos como Gangs of London, Halo, The Last of Us e Twisted Metal. E agora, Fallout se junta a esse seleto grupo de adaptações live-action seriadas de alto orçamento.
Baseada no franquia de jogos de mesmo nome, a série Fallout, criada por Lisa Joy e Jonathan Nolan, desdobra-se num cenário pós-apocalíptico onde a Terra adotou uma estética retro-futurista após avanços tecnológicos pós-Segunda Guerra Mundial. A corporação Vault-Tec criou bunkers subterrâneos para proteger as pessoas de ataques nucleares, evento que se concretiza logo no início da série.
A narrativa avança cerca de 200 anos e nos apresenta a Lucy MacLean, moradora do Vault 33, que se conecta aos Vaults 31 e 32. Quando seu pai, Hank, é sequestrado durante uma cerimônia de casamento arranjado por uma saqueadora chamada Moldaver, Lucy se lança na paisagem hostil para resgatá-lo. Em sua jornada, ela encontra Maximus, membro da organização religioso-militar conhecida como Irmandade do Aço, e Cooper Howard, o pistoleiro vingativo conhecido como The Ghoul. À medida que a série progride, fica claro que seus caminhos estão interligados.
Confesso que os primeiros quatro episódios de Fallout não me inspiraram confiança quanto à qualidade da série. Os roteiristas pareciam mais preocupados em avançar a trama e desenvolver os personagens sem nos dar motivos para nos importarmos com eles. O diálogo, embora não fosse ruim, era simples e desprovido de emoção. No entanto, a partir do quinto episódio, a narrativa tomou um rumo impressionante, com desenvolvimentos bizarros e intrigantes que realmente capturaram minha atenção.
A série não apenas apresenta uma aventura cativante, mas também tece críticas profundas ao capitalismo canibalístico, ilustrando um futuro fictício onde corporações e exércitos operam como cultos religiosos com livre arbítrio para decidir o futuro da humanidade. Esta mensagem é irônica, considerando que a série é transmitida pela Amazon Prime Video, uma gigante corporativa.
Visualmente, Fallout é impecável. Apesar de um começo lento, a série eventualmente demonstra o potencial de uma adaptação live-action com recursos praticamente ilimitados. Os efeitos visuais e especiais, o design de produção, o figurino e a maquiagem são todos de primeira linha. Após o quinto episódio, a série realmente começa a brilhar com uma narrativa envolvente e uso inteligente de mecânicas de jogo que enriquecem a trama sem subtrair sua credibilidade.
No aspecto das atuações, Walton Goggins brilha intensamente como The Ghoul, mostrando uma versatilidade que sustenta sua distinta filmografia. Ella Purnell e Aaron Moten, que começam com performances tímidas, evoluem significativamente ao longo da série. O elenco de apoio, incluindo Moisés Arias e Frances Turner, também merece destaque, adicionando profundidade e variedade à rica tapeçaria de personagens.
Em suma, Fallout supera suas primeiras impressões e se estabelece como uma série digna de maratonas. A série não só entretém mas também provoca reflexões críticas sobre as práticas capitalistas que permeiam nossa sociedade. É uma chamada para o despertar, especialmente para os funcionários da Amazon, que podem ver a série como uma crítica direta às práticas de sua empregadora.
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