Após conquistar uma legião de fãs com séries como 30 Rock e Unbreakable Kimmy Schmidt, Tina Fey retorna agora com uma proposta mais profunda — e um toque de melancolia — em “As Quatro Estações do Ano”, nova minissérie da Netflix.
A obra, que é inspirada no filme homônimo lançado em 1981, combina elementos de drama conjugal e uma comédia sutil, trazendo uma nova perspectiva sobre as relações que perduram ao longo do tempo e o desgaste que os anos impõem a amizades e uniões matrimoniais.
Sinopse da série As Quatro Estações do Ano (2025)
A narrativa gira em torno de três casais que, há anos, mantém a tradição de viajar juntos a cada estação do ano. No entanto, essa rotina tranquila muda radicalmente quando Nick (Steve Carell) informa que decidiu se separar de Anne (Kerri Kenney-Silver), e começa a levar sua nova e jovem parceira, Ginny (Erika Henningsen), nas viagens.

A escolha de Nick provoca uma crise em cadeia nas demais relações, fazendo com que os amigos reflitam sobre seus próprios casamentos e suas dinâmicas, além do que realmente os mantém unidos — além das memórias que compartilharam.
Crítica de As Quatro Estações do Ano, da Netflix
Tina Fey, que é também criadora e protagonista da produção, realiza aqui um movimento corajoso: deixa o terreno confortável da comédia de esquetes e do ritmo acelerado de 30 Rock para explorar um formato híbrido que combina drama conjugal, crítica social e momentos de tensão silenciosa.
O humor, quando surge, é mais sutil, muitas vezes manifestando-se através de olhares ou comentários irônicos, como a icônica expressão de julgamento da personagem Kate — facilmente reconhecida por qualquer admirador de longa data da atriz.
No entanto, essa mudança de abordagem nem sempre é equilibrada. Em diversos momentos, “As Quatro Estações do Ano” parece insegura, dividindo-se entre ser uma comédia sobre adultos que falharam ou um drama sério acerca da crise emocional que acompanha a meia-idade. Como resultado, algumas situações soam deslocadas, principalmente quando tentam arrancar risadas em meio a cenários emocionalmente carregados.
Relações desmoronando: entre o trágico e o insignificante

A série encontra sua essência na decisão de Nick de deixar Anne após 25 anos juntos — uma escolha que surpreende a todos, incluindo a esposa. A partir desse ponto, cada episódio (ou melhor, cada estação) transforma-se em um pequeno campo minado emocional, onde ressentimentos são expostos, frustrações surgem e nenhuma relação sai ilesa.
Mesmo os casais que parecem “funcionais”, como Kate e Jack (Will Forte), ou Danny (Colman Domingo) e Claude (Marco Calvani), apresentam fissuras. Kate e Jack encarnam o típico casamento passivo-agressivo, onde queixas substituem a intimidade. Enquanto isso, Danny e Claude vivem um casamento aberto, mas não sem suas turbulências, especialmente quando a questão da saúde entra em cena como um novo ponto de conflito.
A série acerta ao não transformar nenhum personagem em vilão. Cada um possui suas falhas — algumas bem evidentes, como o estereótipo ambulante que é Nick em sua crise de meia-idade —, mas são apresentados com uma dose rara de empatia. Até mesmo Ginny, que inicialmente parece ser uma caricatura de “namorada jovem e superficial”, adquire complexidade ao longo dos episódios.
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Diálogos incisivos e atuações cativantes

Apesar dos tropeços no tom, “As Quatro Estações do Ano” se destaca em seus diálogos. Existem falas que expressam de maneira precisa a exaustão emocional presente em relacionamentos prolongados, como quando um personagem descreve o casamento como “dois colegas de uma usina nuclear monitorando telas diferentes na mesma sala”.
Há também momentos de silêncio desconfortável, onde as aflições são comunicadas apenas por meio de olhares — algo que o elenco entrega com maestria.
Steve Carell alcança um equilíbrio entre o cômico e o vulnerável, enquanto Kerri Kenney-Silver oferece uma atuação tocante como Anne, vivenciando uma mistura de dor e constrangimento. Colman Domingo e Tina Fey apresentam uma química cínica e deliciosa, especialmente quando trocam farpas sobre os outros casais com uma acidez digna de nota.
Direção estética e ritmo: uma questão de identidade
Do ponto de vista visual, a série carece de uma marca distinta. Apesar de utilizar as quatro estações como pano de fundo, com direito a trilha sonora de Vivaldi e cartões de início elegantes, os episódios apresentam uma estética genérica e pouco inspiradora. A falta de uma trilha sonora mais impactante, combinada a um ritmo irregular, prejudica o impacto emocional de algumas cenas.
Ademais, o tempo de tela dividido entre os três casais impede que os conflitos mais intrigantes sejam explorados em profundidade — especialmente a relação entre Anne e Ginny, que promete bons momentos, mas acaba sendo subdesenvolvida em prol das discussões repetitivas entre os demais.
Conclusão
“As Quatro Estações do Ano” é uma série que busca amadurecer junto ao seu público — e em diversos aspectos, consegue. Ao abordar as pequenas tragédias da convivência íntima com sinceridade e um toque de humor seco, ela apresenta momentos genuinamente emocionantes. Contudo, a tentativa de equilibrar drama e comédia nem sempre se concretiza com sucesso, e a estrutura episódica limita a profundidade emocional que a narrativa merece.
Ainda assim, graças a um elenco afiado e diálogos perspicazes, a serie proporciona uma reflexão agridoce sobre o que sucede quando o amor persiste, mas se transforma — ou simplesmente se esgota.
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Onde assistir à série As Quatro Estações do Ano?
A série pode ser assistida na Netflix.
Trailer de As Quatro Estações do Ano (2025)
Elenco de As Quatro Estações do Ano, da Netflix
- Tina Fey
- Steve Carell
- Colman Domingo
- Will Forte
- Kerri Kenney-Silver
- Marco Calvani
- Erika Henningsen
Ficha técnica da série As Quatro Estações do Ano
- Título original: The Four Seasons
- Criação: Tina Fey, Lang Fisher, Tracey Wigfield
- Gênero: comédia, romance
- País: Estados Unidos
- Temporada: 1
- Episódios: 8
- Classificação: 16 anos