Doador

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Doutor Gerônimo foi chamado para diagnosticar um paciente que tinha vários órgãos apresentando sérias ineficiências em suas funções. Sua conclusão era que faltava oxigênio.
— Muito estranho! — disse ao que moribundava — Tem dificuldade para respirar?
— Não.
— Então tenho de fazer alguns exames a fim de
O paciente o interrompeu:
— Meu problema é pobreza, doutor. Sou mendigo.
Gerônimo avaliou bem o homem prestes a entrar na terceira idade deitado no leito.
— Mendigo?
— É, eu sei, tenho uma aparência boa demais prum mendigo comum. Tomo banho todos os dias no chafariz da Praça da Estação, e lavo minhas roupas com regularidade também. Detesto mal cheiro.
— Pobreza não causa falhas múltiplas em vários órgãos ao mesmo tempo.
— Mas fome sim.
— Posso te garantir que não.
— Sou doador de sangue.
Gerônimo detestava pacientes que sugeriam demais as causas de suas enfermidades. Quando perdia a paciência costumava lembrar aos ignorantes quem era o médico ali.
— Doar sangue não provoca esses sintomas.
— É que doei cinco vezes nessa semana.
— Você o QUÊ?!?!?
— Doei cinco vezes nessa semana, em hospitais diferente. Fiquei sem opções de como conseguir comida, e eles dão um lanche antes que é muito gostoso.
Doutor Gerônimo levou a mão esquerda ao topo da cabeça num ato de perplexidade. Passado seu estado pasmo, receitou transfusão de sangue. Não julgou o mendigo, sua tarefa era praticar a medicina.
Mas foi com muita irritação que exclamou “De novo?!” quando encontrou o mesmo paciente, com os mesmos sintomas, oito meses depois.

 

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