27.03.1991, 06h37
O pragmatismo de Hugo fazia com que fosse visto como um homem arrogante. Não era o caso, era só um cara que gostava de lidar com as coisas de forma prática e lógica. Detestava supersticiosos e sentia uma antipatia não secreta pela prática.
Hugo foi chamado para uma entrevista de emprego numa empresa de marketing digital. Seu canal de animação no Youtube o tornava bastante conhecido na internet por seu trabalho e contribuía para que estivesse bastante confiante em seu taco. Levou para a entrevista muitas das artes que já fizera: logomarcas, capas de livros, ilustrações, animações…
O irmão dono da empresa responsável pela contratação de novos funcionários ficou tão impressionado com o material que tinha em mãos que chamou Hugo para conversar sem sequer ter lido seu currículo. Após uma excelente entrevista Hugo achava que o emprego estava garantido.
— Estou… estamos realmente empolgados com você — disse o empregador, animado. — Seu trabalho é incrível! Você comentou que tem uma quantidade considerável de seguidores nas redes sociais. Isso é bom até mesmo para a visibilidade da empresa. Qual é o seu Instagram?
— Está aí no currículo.
O sujeito acionou o aplicativo no celular com uma mão enquanto procurava o envelope esquecido num canto com a outra. Encontrou e tirou os papéis de dentro.
Enquanto Hugo comentava algumas outras experiências que o empregador poderia encontrar em seu currículo de onze páginas, viu a expressão empolgada do homem mudar para uma mistura de decepção e preocupação ao passar o olho na primeira.
— Algum problema?
O empregador parecia sem jeito.
— Deve ter ocorrido algum engano, Hugo. O RH não deveria ter ligado para alguém com seu perfil.
Hugo se ofendeu.
— Meu perfil é excepcional!
— É disso que estou falando. Nossa empresa tem o espírito de coletividade, e seu perfil é de alguém singularista, que se toma como centro do universo e que tudo gira ao seu redor. Você é muito bom no seu trabalho, e agora está justificado. Mas com isso vem a arrogância de se achar o melhor. Você tem um espirito pioneiro, o que é bom; mas infelizmente é impulsivo e agressivo.
Hugo achava saber do que o homem falava, mas não queria acreditar em tamanha imbecilidade.
— Mas que merda cê tá falando, cara? — indagou, irritado.
— Sinto muito Hugo, mas não podemos contra…
Parou de falar como quem pensa numa possibilidade. Voltou a olhar o currículo, com uma expressão de curiosidade.
— Diga-me — falou, voltando-se para Hugo —, qual é a sua ascendência?
Hugo acertou um murro no nariz do sujeito. Quebrou.
A empresa reforçou a política interna e nunca mais contratou alguém de áries.
Sensacional esse texto. Parabéns!