Pequena Elegia a Campos de Figueiredo

Heloísa Gusmão

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Ópera e Ballet Theatre (Saratov)
Não era mais o tempo de dar frutos
Quando o Senhor pediu maduros figos
Para a figueira em folha e galhos brutos,
E assim, então, tornaram-se inimigos.
De praxe que o divino amaldiçoa
– e isso já se vê desde os antigos –
Aquele que ouve o Verbo e não entoa
O canto que do Verbo tem ouvido.
Se ouvires hoje a voz que te apregoa
Não feches os sentidos, abatido.
Não digas "já não há mais Poesia",
Afina a lira e limpa o seu ruído.
Verás que nesta triste travessia
A graça supre o que in natura falta.
Procura ter a santa teimosia;
Por entre escombros, a Beleza exalta.
Se o tempo da colheita te afigura
Passado, tal cadáver que ressalta
O infértil coração dado à secura,
Que o Verbo se te encarne nas palavras
E colha o fruto e traga, enfim, a cura
Ao campo de tristezas que tu lavras.
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1 comentário em “Pequena Elegia a Campos de Figueiredo”

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