O mais novo longa da AppleTV+ Sharper – Uma vida de Trapaças é um filme daqueles de tirar o fôlego e que faz o espectador roer os dedos com tantas reviravoltas presentes em várias fases da história dos personagens. Já no começo do filme somos apresentados ao livreiro Tom (Justice Smith) que entre poucos leitores que transitam em sua livraria acaba conhecendo a encantadora Sandra (Briana Middleton), estudante de doutorado.
ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS DO FILME SHARPER
Entre um convite despretencioso para jantar, conexões surpreendentes e laços improváveis, logo Tom e Sandra estão envoltos em uma relação que é essencialmente baseada em afetuo mútuo entre duas pessoas que nunca recebeu carinho genuíno e estão repletos de percalços familiares. Sandra, por exemplo, é órfã e precisou durante toda a sua vida pular de casa em casa, com o seu irmão, em busca de sobrivência.
Agora já estabelecida e em busca de crescimento profissional e intelectual, Sandra é constantemente importunada pelo seu irmão, que é usuário de drogas. É a partir disso, quando o seu irmão está devendo 250 mil dólares para um traficante que conhecemos um pouco mais da história de Tom. Filho de um importante magnata bilioário de Nova York. Funcionário de uma livraria? Jamais! Tom é dono dela e só a mantém aberta por conta da grana da família, pois a mesma não dá dinheiro.
A ideia óbvia de um abastado quando vê a sua recente namorada com problemas desse nível é sem dúvidas ajudar com aquilo que pode. E Tom não hesita em dar esse dinheiro, mesmo a contragosto de Sandra. Põe toda a grana em uma mala e um abraço em Sandra para nunca mais encontrá-la.
E é assim que finaliza o primeiro ato desse filme, com Tom tendo sido enganado por Sandra mesmo sem saber as reais motivações dela e o como que ela o escolheu como um alvo, mesmo sem qualquer esteriótipo de rico visto nele.
É no próximo ato que conhecemos a verdadeira Sandra, que na realidade é a Sandy, uma viciada que tenta a todo o custo escapar da prisão, vista que está em condicional. Entre muitos conflitos, ela conhece Max (Sebastian Stan), o seu verdadeiro mentor que fará ela “parecer ser o que não é”, até conhecer o Tom e cometer o grande crime.
A relação de Sandy com Max é de mentor e aluna, de fato, tendo Max um pragmatismo incrível nos golpes que comete, um verdadeiro profissionalismo. É nessa convivência que ela fica “limpa” para imergir na vida de Tom e, durante semanas, imergir em Sandra, com uma construção absurda de personagem para que tudo seja perfeito. Não vale entrar na livraria e simplesmente comprar um livro para seduzi-lo, é necessário fazê-lo citando o seu livro favorito, “Jane Eyre”.
Mas e como Max conhece detalhes da hisória e vida de Tom? Simplesmente ele é filho da atual esposa do bilionário, pai do Tom. É assim que Max traz detalhes e consegue explorar as principais fraquezas do seu alvo, principalmente as familiares.
Mas o que chama mais a atenção em Sharper é como as histórias estão interconectadas e como isso afeta diretamente as vítimas dos golpes e privilegia as ações tomadas pelos golpistas. Max inclusive chega a conhecer Tom, em dado momento, quando o bilionário Richard Hobbes (John Lithgow) emprega o Max, que era também problemático e tinha problemas com drogas, para que ele se distancie da mãe, que sofre com as ações irresponsáveis do filho, chegando a tentar cometer golpes no próprio marido.
Entretanto Sharper nos engana mais uma vez e nos traz até a Madeline (Julianne Moore), que de mãe não tem nada. Tom e Madeline estão juntos e por traz de todo o golpe praticado. Max pede ao “padrasto” 1 ano de salário antecipado e com isso eles aplicam um golpe de quase 1 milhão de dólares.
Depois disso existem outros desdobramentos importantes no filme, como Madeline abondanando Max e depois da morte do seu marido acaba herdando os bilhões deixados por ele, que fez questão de não deixar quase nada para o seu filho. Com o próprio Max abandonando Sandra, que depois acaba reencontrando Tom e se arrepende do golpe cometido.
Entretanto Sharper não é uma história de amor de dois apaixonados por literatura. Não é também uma história de cumplicidade entre dois meliantes que cometem os mais diversos crimes entre bilionários. Sharper nos ensina que podemos ser passados para trás e através das pessoas do nosso ciclo mais íntimo. Claro, o final da história nos reservará o maior dos plot twists presentes em Sharper, mas o que fica é a lição de vida que esse belíssimo filme nos conta.
Sharper é aquele filme bem roteirizado e foi bem produzido pela estreante Julianne Moore, que também atua de forma espetacular, como já lhe é habitual. Indico muito assistir Sharper se você quer ser surpreendido a qualquer e em todos os momentos.
