Memory: [Review] | Jessica Chastain e Peter Sarsgaard Arrasam
Memory, o mais recente drama de Michel Franco, estrelado por Jessica Chastain e Peter Sarsgaard, é uma imersão profunda nas vidas de duas pessoas que parecem estranhas uma à outra. Este filme não apenas desvenda suas histórias dolorosas, mas também nos faz refletir sobre o tempo e como ele molda nossas vidas.
Uma Vida Simples Despedaçada
Sylvia (Jessica Chastain) é assistente social e leva uma vida simples e estruturada. Frequentemente, ela participa de reuniões dos Alcoólicos Anônimos (AA), onde compartilha suas experiências. Fora dessas reuniões, ela mantém uma rotina ordenada, dedicando-se à filha Anna (interpretada por Brooke Timber em sua estreia no cinema). Ela se mantém distante das pessoas, exceto por sua irmã Olivia (Merritt Wever), que também ajuda a cuidar de Anna. No entanto, tudo muda quando ela encontra Saul (Peter Sarsgaard) em sua reunião de escola.
Um Encontro Inesperado
O filme Memory descola a partir desse encontro inesperado. Sylvia, já visivelmente desconfortável na reunião, se vê na presença de Saul, um estranho que se senta à mesma mesa que ela. O encontro é silencioso, e Sylvia decide ir embora imediatamente. No entanto, a tensão aumenta quando Saul decide segui-la e acaba dormindo na rua sob a chuva. Preocupada, Sylvia chama ajuda, mas mantém sua distância.
A reviravolta ocorre quando descobrimos que Saul sofre de demência e luta contra a confusão em sua vida. Enquanto a clareza sobre a mente de Saul ajuda a entender como ele acabou na porta de Sylvia, ainda há muito que não sabemos sobre o seu passado. Sylvia confronta Saul em um tranquilo passeio pelo parque, aprofundando-se em detalhes sobre por que ele a seguiu. Ela acredita que eles compartilham um passado doloroso, mas Saul está confuso e incapaz de fornecer respostas concretas. Isso nos deixa com a possibilidade de que ele tenha cometido alguma ação que agora não pode mais lembrar.
Um Caminho Complexo em Direção à Cura
É nesse ponto que Memory se destaca. Embora não seja excessivamente otimista, o filme nos conduz por um caminho complexo em direção à cura. Lida com temas difíceis, como abuso e trauma, de maneira sensível e reflexiva. Michel Franco, o diretor, aborda a narrativa com paciência e sem exageros, permitindo que os detalhes das vidas dos personagens se desenrolem organicamente.
Uma observação aparentemente casual de Saul sobre o estado deteriorado de um parque que ambos costumavam frequentar em seus passados ganha relevância. Eles percebem que o parque está em ruínas devido à falta de manutenção, e Saul comenta que isso ocorre porque ninguém se importou em cuidar dele. Essa observação não se refere apenas ao parque, mas também à vida de ambos os personagens. Cada um deles, à sua maneira, foi deixado à deriva na vida. Sylvia nunca teve o apoio de sua mãe para enfrentar o abuso que sofreu, enquanto Saul, apesar de ter algumas pessoas em sua vida, como seu irmão, se sente isolado, pois sua mente continua a se deteriorar.
Atuações Poderosas
O sucesso de Memory repousa, em grande parte, nas atuações impressionantes de Jessica Chastain e Peter Sarsgaard. Ambos entregam performances emocionalmente poderosas que nos fazem sentir a angústia dos personagens. Cada momento compartilhado na tela é carregado de intensidade e profundidade, fazendo com que o espectador se conecte profundamente com a história.
Se Memory não tivesse atuações tão fortes, a trama poderia facilmente desmoronar. Felizmente, com dois veteranos atores em seus melhores momentos, a história ganha vida. Chastain e Sarsgaard criam momentos de intensa empatia e catarse, nos envolvendo nas muitas agonias que permeiam o filme.
Conclusão
Memory é um filme excepcional que desafia convenções narrativas e nos leva a uma jornada emocional intensa. Com atuações impressionantes e uma narrativa cuidadosamente construída, é uma experiência cinematográfica que vale a pena ser explorada. Não perca a oportunidade de assistir a este filme nos cinemas e deixar-se envolver pela sua beleza devastadora. Sua exploração de temas difíceis e sua abordagem sensível tornam-no um filme memorável que ficará em sua mente muito tempo depois de terminar. É uma reflexão sobre como o tempo molda nossas vidas e como confrontar o passado pode ser o primeiro passo em direção à cura.