Bloqueio uretoniano

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Tínhamos uma viagem de dez horas pela frente.

Meu tio Beto, que dirigiria, teve a brilhante ideia de evitar paradas tomando um remédio para infecção de urina, desses que retém a vontade de mijar.

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Na van que a família alugou embarcamos minha mãe, meu pai, minha… bem, não preciso dizer um por um. Éramos vinte e quatro no total.

Já estávamos em MG quando a primeira pessoa comentou que precisava ir ao banheiro. Meu tio recusou, alegando que não podia parar sempre que alguém quisesse evacuar.

Lá pelas tantas, o pessoal já reclamava em coro.

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— Para naquele posto ali, amor, pra gente ir no banheiro.

— Eu falei pra irem no banheiro antes de sair.

— Isso foi há seis horas, Alberto.

— Corrigindo: cinco horas e meia.

— E que diferença faz?

— …

— Para logo, Alberto!

Todos se juntaram ao coro, inclusive eu.

Ele não teve alternativa senão parar na parada seguinte. Corremos todos para o banheiro enquanto ele ficou. Fui chamar ele pouco depois, porque decidimos que almoçaríamos ali mesmo.

— Só vamos parar agora quando EU quiser ir no banheiro — ele falou, quando todos voltamos à estrada.

Bebeu litros e mais litros de água, suco e refrigerante, se gabando de ter uma bexiga de ferro.

— Sabe aquele filme, o homem de aço? — ele perguntou, rindo — Pois então.

— Titio, preciso ir no banheiro.

Meu tio virou-se para minha priminha, irritado:

— Cruza as pernas, Renatin…

Batemos no carro da frente.

Todo mundo ficou bem, mas meu tio começou a urrar de dor. Corremos até o hospital mais próximo e ele foi internado.

A bexiga dele, cheia pra caralho, estourou.

Ele não morreu, mas quase.

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