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Adalberto De Queiroz: Os Fios da Escrita

Texto crítico escrito por Miguel Jorge,da Academia Goiana de Letras É preciso reconhecer que Adalberto Queiroz, nosso escritor-filósofo, é articulista de  méritos, teórico importante e

Texto crítico escrito por Miguel Jorge,
da Academia Goiana de Letras

É preciso reconhecer que Adalberto Queiroz, nosso escritor-filósofo, é articulista de  méritos, teórico importante e que, agora, impulsionado pela assimilação estrutural da crítica tornou-se de vital importância para o mundo literário de Goiás e do Brasil. E, na continuidade do processamento teórico-prático, racional e consciente, construiu um processamento crítico de vários textos que ultrapassaram barreiras para constituir seu próprio pensamento incorporado ao corpo total da obra, muitas vezes de cunho religioso. Sua manifestação de leitor-atento-observador se faz com a associação de vários elementos de determinação histórica e filosófica; Implica-se aí, em acreditar desde logo no valor da poesia em confronto com as anormalidades de um mundo caótico e nas estruturas modificadas da prosa, principalmente do romance. Além disso, poeta, Adalberto anda em círculos com a tensão entre a realidade dos versos e a realidade de um grande mundo, cuidando de, deliberadamente, fazer o ressurgimento de excelentes nomes que de há muito sustentam o ser-se – poesia, como entidades ativas, acessíveis à nossa “intuição intelectual”. O foco provocativo de Adalberto, tal como concebeu sua visão crítica, fundamenta-se nas teorias modernas impregnadas de pensamentos voltados para a religião judaica cristã. Mas, existem também outros enfoques da poesia aparentemente simples, natural e lírica, como a de Manuel de Barros, o poeta do Pantanal, que se revelou tão bem em suas configurações pantaneiras, que não deixa de ser também uma oração. Observam-se aí, neste particular, as inclusões das visões reflexivas de Goiandira Ortiz e Franklin de Oliveira, que de qualquer modo ressaltam a importância do nosso grande poeta, amante da natureza. No entanto, é de se notar, em outra parte do livro, a poesia forte e intrínseca de Jorge Luis Borges, e sua “obra desafiadora, e complexa”, que da voz não somente à poesia do vate argentino, como diz também do homem, de seu posicionamento no mundo, e de sua gradual cegueira, como “um lento crepúsculo”.  

“Eu penso nas letras e nas rosas.

Penso que se pudesse ver a cara, 

saberia que sou na tarde rara”.

Cabe ao homem cego, inteligente, empreender a fuga de sua doença; e,  através da escritura, trabalho modernamente poético, buscar a cura de seus conflitos. Então, e diante disso, Adalberto Queiroz nos dá exemplos das relações entre a cegueira e o homem Borges. “Luis Borges foi desses seres que fez um voo importante para fora do seu “momento histórico”.  Há versos de profunda sensibilidade em face da realidade cruel do poeta indispensável e fundamental ao seu conhecimento.

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Os fios da escrita

O que, no entanto, é de se notar, ao longo do livro de 258 páginas, são os nomes por ele selecionados, como os de: Kafka, Walter Benjamim e Gershon Scholem, filósofo e historiador israelense, nascido na Alemanha. Foi o primeiro professor de misticismo judaico na Universidade Hebraica de Jerusalém.  São três das mais renomadas figuras de origem judaica e o modo pelo qual essas criaturas lidam com a “descoberta do futuro no passado”. Todavia na segunda parte do livro: Entradas e Bandeiras. Temas Brasileiros. O crítico dirige suas reflexões críticas sobre autores brasileiros muitos deles bastante conhecidos como: Nelson Ascher, Affonso Romano de Sant`Anna, Alexei Bueno, Bruno Tolentino e tantos outros de reconhecimento e visibilidade formal e estética diferenciada, e com sensibilidade consciente na modernidade. Parece-nos que a imersão crítica nesse seleto grupo se baseia na filosofia da realidade vital corrompida, ou sufocada pelas convenções, se assim podemos dizer, ou, ainda, para recordar as palavras de Nietzsche. “A criança escondida em todo homem verdadeiro faz questão de brincar”. Então, os poetas dessa geração, importante por sinal, usaram de plena liberdade para tecer a poética de seu imaginário. Compreende-se agora a personalidade individual e religiosa de alguns dos poetas referendados por Queiroz e, pode-se, compreender as confluências e divergências entre vários deles, mas, principalmente entre dois dos maiores nomes citados: Jorge de Lima e Murilo Mendes- São tempos místicos circulares, que voltam sobre os dois poetas, não como mera aparência,  mas, com a força criativa de situações e estruturas definitivas, isso vale tanto para a prosa como para a poesia e tantos outros poetas de elevação da mística citados no livro.

“Sim é preciso dizer e repetir, para que as novas gerações tomem conhecimento da grandeza destes dois poetas: Jorge de Lima e Murilo Mendes”, no dizer do nosso crítico.  Apreciador das matérias de psicanálise, Adalberto Queiroz volta-se também para os romances de Lúcio Cardoso. A realidade descoberta. A consciência do escritor, preferido de Clarice Lispector, ao enfocar seus personagens, como se fossem seus retratos. Os jogos de dentro e de fora, situam Lucio Cardoso e seus romances em ambientes, em que no plano de fundo se nota o seu misticismo, “horizontes de possibilidades e expectativa”. E para fechar esse círculo do trabalho crítico de Adalberto Queiroz busca-se Virgílio, o Poeta Insuperável cuja fama atravessa séculos.

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“Então tu és Virgílio, aquela fonte que expande de eloquência

Um longo rio?”  Vem em seguida  Giacomo Leopardi e Herberto Helder. Foi Leopardi quem disse:

“Os melhores momentos do amor

são aqueles de uma serena e doce melancolia,

em que choras sem saber porquê, e quase aceitas

tranquilamente uma desventura que não conheces”

E Herberto Helder, a certa altura de seu poema diz o seguinte:

Sobre Um Poema

“ Um poema cresce inseguramente

na confusão da carne,

sobe ainda sem palavras,

só ferocidade e gosto,

talvez como sangue

ou sombra de sangue pelos canais do ser”.

Pode-se pensar em hermetismo. Pode-se apresentar uma das muitas possíveis faces da psicanálise, pode-se ainda levar-se em conta a metamorfose criativa. Uma carruagem veloz sobre o imaginário convencional, tradicionalismos e modernidade desses dois grandes e intrincados poetas citados em os Fios da Escrita.

Então, é muito rico de crítica e informações o livro de Adalberto Queiroz. O  meu texto é apenas um chamamento para o todo grandioso do livro. Todavia sabemos o tanto que é difícil abranger os achados, as minúcias de um livro de crítica, principalmente pelo respeito que desperta em seus leitores. O nosso crítico, acolhe com igual carinho todos os escritores estudados por ele em Os Fios da Escrita. A sua narrativa obedece ao padrão da busca, pesquisa, estudos e desejos de abarcar o máximo possível de sua visão como escritor e crítico, adotando o processo da atualização de teorias e experiências próprias.

Antes de colocar ponto final nesse artigo. Gostaria de citar ainda a presença do poeta W. B. Yeats (poeta, dramaturgo e místico irlandês. Autor de O Crepúsculo Celta e que foi o Nobel de Literatura de 1923). Então, Yeats, com a serenidade e a sabedoria, forças poderosas para a significação da sua realidade, foi motivo para o autor se ocupar longo tempo desse poeta ainda presente na atualidade. Pode-se pensar na exaltação da capacidade de William Butler Yeats em suas visões poéticas, principalmente místicas.

“Juro que antes que a aurora se apresente

Eu descubro a cancela

E abro o cadeado.”

Nas últimas páginas do livro Adalberto Queiroz se ocupa dos mitos da “Árvore Sangrada”, da “Montanha Cósmica”, da “Árvore da Vida”. E de tantos outros.

O  livro é mais que isso. É amplo de fertilidade e de perspectivas para as transformações da escritura. Ao mesmo tempo enriquecido de expressões verdadeiras de integridade entre os indivíduos e o mundo. E tudo se integra e se harmoniza no padrão geométrico das enfocações geradas a partir deste volume. Esse é o grande momento do lançamento de Os Fios da Escrita de Adalberto Queiroz/ primeira edição/ Mondrongo/ Bahia/ 2020.  As atenções do mundo das letras estão voltadas para ele e as informações literárias contidas em seu livro.  Há algo de sentimento e empolgação impulsivos, de intensidade de vários mundos históricos e reais libertados pelos desdobramentos no tempo que segue seus misteriosos caminhos.


Miguel Jorge, escritor, nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no dia l6 de maio.  Muito cedo veio para Inhumas, Goiás, com seus pais comerciantes, e lá cursou o primário, no Grupo Escolar l9 de Março. Fez o ginásio em Goiânia, no Ateneu Dom Bosco, e terminou o científico no colégio Marconi, em Belo Horizonte.

Formou-se em farmácia e Bioquímica pela UFMG, Direito e Letras Vernáculas pela UCG, lecionou Farmacotécnica na Faculdade de Farmácia da UFG e Literatura Brasileira no Departamento de Letras da Universidade Católica de Goiás.

Foi um dos fundadores do GEN (Grupo de Escritores Novos) e seu presidente por duas vezes. Também foi por duas vezes presidente da UBE, seção de Goiás. Dirigiu também por duas vezes o Conselho Estadual de Cultura e integra os quadros de críticos de arte da ABCA E AICA, ocupada a Cadeira de número 8, na Academia Goiana de Letras.

Como escritor, possui obra numerosa e variada, cujo mérito vem sendo atestado em sucessivas premiações. Recentemente foi incluído no Dictionary of international Biografhy.Tenty-Third Edition, England, por convite de seus organizadores.

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[…] SOBRE “OS FIOS DA ESCRITA”, LEIA TAMBÉM: Adalberto De Queiroz: Os Fios da Escrita […]

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