Suco de Ameixa

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Não tinha um pirralho sequer que não ansiava por um pirulito PLOC. A guloseima cancerígena tinha sabor de ameixa, deixava a língua roxa, possuía uma bolinha de chiclete no meio, vinha com figurinhas colecionáveis com os rosto dos jogadores da seleção de futebol e prometia, quase nunca sem cumprir, causar a sensação de ferimento na língua como aqueles que surgem ao comer frutas muito cítricas.

Mas meu atrativo principal do pirulito eram os palitos apito.

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Tinha vários, tais como miado de gato, grasnado de ganso, peido de velho e assovio de passarinho. Os apitos só funcionavam enquanto havia pirulito. Tornavam-se inúteis sem o que chupar no topo.

O PLOC custava $3.50, e na minha família criança nenhuma tinha o privilégio de ganhar $3.50 sem provar ser merecedor cumprindo uma série de tarefas enfadonhas. Coisas como exterminar cada grão de poeira da casa, providenciar um brilho invejável ao Sol em cada peça de alumínio ou ferro na cozinha e forçar as aranhas que residem nas quinas das paredes a encontrar um outro lugar pra montar suas arapucas.

Teve um dia que alcancei a graça de convencer minha mãe de que a casa estava tinindo o suficiente para me render um PLOC. Saí da padaria do Seu Joaquim admirando meu tesouro e me perguntando em quem faria inveja naquele dia. A resposta não demorou a vir: o filho da puta do Pedrinho. Não que a mãe dele fosse puta. Era tão religiosa que sugeri-lo é incoerência pura.

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O desgraçado havia desfilado com cinco PLOC’s pelo bairro na semana anterior, preocupado demais em provar o quão fodão era em relação aos amigos da favela. Acabei tomando conhecimento de que ele levou uma surra por larapiar $20 para comprar aqueles pirulitos. Na época, no entanto, fiquei perguntando a deus porque ele providenciava tanto para uns e era desleixado para com a necessidade de outros.

Encontrei o Pedrinho perambulando pela rua, olhando para o alto, preocupado com os papagaios que passeavam pelo céu. Coloquei meu PLOC na boca e chupei.

pruuur

— Pô, véi! Vem peidar perto de… Ah, é você!

Chupei como quem diz “sim, sou eu”, e isso foi transmitido em sons de peidos.

— Sabia que o pirulito PLOC tem um segredo que quase ninguém sabe? — Pedrinho perguntou, com ar de mistério.

Crianças adoram segredos que quase ninguém sabe, e eu em especial era um dos mais fervorosos na adoração. Pergunte ao meu pastor.

De cara indaguei, ansioso:

— O quê?

— Se você colocar um PLOC num copo de água por três dias, vai virar o suco mais gostoso do mundo.

Eu queria provar do suco mais gostoso do mundo, e estava animado com a ideia dele ser de ameixa.

Fui pra casa e coloquei um copo com o pirulito imerso em água dentro da geladeira. Queria um suquinho geladinho.

Três dias depois experimentei o suco mais medonho que já tomei até hoje. Pensei em espancar o Pedrinho, mas sempre fui muito bundão.

Fiquei feliz, no entanto, quando ouvi dizer que ele faltou à aula por estar com úlcera. Nada me tira da cabeça a certeza de que isso se deu por ele chupar cinco PLOC’s seguidos.

 

 

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