Eros e Tanatos: um artigo (satírico?)

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Freud e todos os seus colegas são unânimes em afirmar que amor e morte são coisas indissociáveis. Bem, não é preciso ser muito brilhante para entender o porquê. São os dois acontecimentos humanos mais importantes que se revelam na vida de alguém. O autor que vos escreve, particularmente, não crê no amor e acha isso coisas adolescentes românticas que beijam, com batom, fotos de ídolos e youtubers no Instagram.

Minha visão é muito mais ‘seca’, ‘fria’, chamem como preferir: o amor é o sentimento ‘dos deuses’ e, portanto, os humanos (imperfeitos) não conseguem alcançá-lo. O máximo que lhes é permitido é um sentimento cheio de sentimentos que se assemelha ao amor, mas completamente imperfeito: tesão, paixão, ciúmes, atração, etc. Para mim, a coisa é muito mais ‘humana’.

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E recordo os dois episódios que completam um dia de L. Bloom: a ida ao enterro do pobre Dignam (Hades), pela manhã, em que houve até uma pequena contribuição financeira por parte dele e a ida ao puteiro no final da noite (Circe), onde as alucinações corriam soltas. Aqui, para não dizer sexo, preferirei usar o termo favorito de Mencken, o amour é cru, frio e impessoal.

A morte e o amor erótico fazem parte de todos nós. Como afirmava o Millôr: “De todas as taras sexuais, a mais estranha é o celibato.” E este fica dedicado a alguns poucos (e honestos) padres velhos e impotentes, velhas frígidas, malucos e estudantes de informática (estou sendo irônico, pelo amor de Deus! Não me processem!)

Vamos, primeiro, ao amour. Uma das grandes verdades é que ninguém mais transa. As pessoas estão fazendo ‘sexo virtual’, um negócio completamente impessoal, que deixaria a prostituta mais exigente no chinelo. Como não se transa mais naturalmente e, sim, por cabo USB, as pessoas andam mais deprimidas e irritadiças. Começam a pensar que são bi ou entram para alguma ONG feminista. Mesmo os homens.

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O sexo é démodé. Tornou-se algo chato, uma brincadeira entre conversadores de Tinder que culmina nuns beijinhos e ne plus rien. O que é must it são as conversinhas quentes pelo Instagram e troca de nudes. Freud ficaria preocupado. Mas, de todo modo, tanatos está lá; a libido está lá; sim, deformada. Mas, está. O que se pode fazer em um mundo onde preciso entrar de máscara preta, num banco, sem precisar ser confundido pelo assaltante. Pelo contrário: o segurança, armado, cumprimenta-me com simpatia. Qualquer dia, é perfeitamente possível entrar com uma nove milímetros.

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Freud explica?

Eis o eros de hoje. Um amor estranho, virtual e uraniano (se formos parar na astrologia. Como este não é artigo ‘acadêmico’, uso-me dos argumentos que bem entender…) que as pessoas não querem mais contato físico. A masturbação basta. Quem sabe um pouquinho de Freud, entende que a masturbação é normal entre adolescentes. Ou seja, temos uma horda de moleques de 30-40 anos que pagam uma webcam girl para satisfazer suas necessidades, que anos antes, era feito num puteiro, matando um mastodonte ou – pelo menos – escrevendo uns sonetos decentes.

Sem falar nas mulheres… Um bando de menininhas mimadas que preferem um poodle cortado em pompons e um vibrador a arrumar alguém com quem se relacionar. Dizem que as relações são tóxicas. Claro. Elas são veneno puro. Não conseguem viver sem suas festinhas, drinques caros, música eletrônica e outras bobagens que ninguém irá lembrar daqui a vinte anos. Aliás, nem elas lembrarão que tiveram vinte anos e – too late – aos trinta, vão procurar um namorado alcoólatra que lhes bate todos os dias. Graças a Deus ainda há ladies por aí e, se você namora ou é casado com uma, é um homem de sorte. Muita sorte.

Olhemos o tanatos. De primeira, pode-se perceber que ele é completamente ignorado pela sociedade atual. As pessoas sempre tiveram medo da morte. Isso é normal. Mas, as de hoje, têm aversão. Anestesiam-se de pó, maconha, álcool e festas. Quando escutam que alguém está morrendo de câncer ou que morreu num acidente de automóvel, logo viram o rosto, dizem que podem ajudar no que precisar e trocam o chip do celular e somem.

O ser humano atual está criado para viver o prazer. Um prazer gordo e capitalista, à espera, sempre, do novo iPhone (mesmo que ele custe o preço de uma moto razoável…), com seus óleos de barba, cerveja artesanal e cigarros eletrônicos, andando de HB-20. Quando ele houve falar de luto, acham que é a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo lutar. E logo pensam em crossfit ou muai thay.

Não, tanatos é o luto em que você vela por alguém, paga as calças para fazer um velório e cobrir o indivíduo de terra. Em que você chorar (ainda se chora, hoje, pelos mortos?), em que você procura usar, ao menos, uma peça preta para mostrar que sua mãe morreu. Como remorso, culpa e desespero por si mesmas, as pessoas – no começo – até prestam alguma solidariedade. Vão à sua casa, até emprestam algum dinheiro e depois somem. “Pronto, fiz minha parte.” E vão para o puteiro, quer dizer, o pub irlandês que serve cerveja verde ou IPA mais próximo.

Não. Eros e Tanatos estão muito além disso. Estão evidentes em Shakespeare e Dante. Salientes em Wagner, Mozart e Rossini. E uma lista inumerável de artistas poderia ser incluída aqui. Alguns, até com uma ideia platônica de amor, como disse Roger Scruton, certa vez. Algumas vezes, é possível percebê-los implicitamente, numa peça sagrada de Bach ou no Réquim de Mozart. Nos últimos quartetos de Beethoven ou na última piano sonata de Schubert. Nas esculturas de Bernini e Michelângelo. Na pintura de Poussin ou Fragonard. Na poesia de Goethe, Schiller, Elliot e nos romances todos. Até no de Joyce, que nem é um romance. Aliás, Finnegans Wake, que é um romanceameba, chamemo-lo assim, trata justamente de um velório.

Nossa sociedade é tão irremediavelmente fracassada que conseguiu destruir ou anular os dois sentimentos mais importantes do seres humanos: a morte e o amour. O que nos resta depois disso? Uma IPA? Prefiro comer direto a grama.

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