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A (má) influência de um filósofo bigodudo sobre dois filósofos ranzinzas

Nietzsche/Heidegger/Wittgenstein Sobre o problema de se chegar demasiado cedo às festas “Nel mezzo del camin”. Anúncio                                                                                                                                               Dante Alighieri M. H. Em movimento

Nietzsche/Heidegger/Wittgenstein

Sobre o problema de se chegar demasiado cedo às festas

“Nel mezzo del camin”.

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                                                                                                                                              Dante Alighieri

M. H.

Em movimento lentos, como um Cephalopada (aqui, usamos o antigo grego, mas ele é o inventor do novo grego) cabeçudo e esponjoso, o professor/funcionário espraia-se satisfeito. Toca com seus dedos macios os livros sobre a mesa e secreta, lentamente, sobre todos nós, sua tinta negra e pegajosa. Seus longos tentáculos, dedinhos infantis, brincam com a forma das coisas, esvaziam crianças e mulheres de suas vísceras e, com um pequeno arroto de êxtase, acaba por provar que a morada do Ser não está naqueles pequenos corpos sanguinolentos e feios. Está em sua casa.

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A (má) influência de um filósofo bigodudo sobre dois filósofos ranzinzas

Está mais do que PROVADO que somos seres que morrem. Que nossa carcaça se alarga no chão e que tudo isso é o momento supremo. É o momento da preparação. Todo momento medido e raciocinado é o momento da preparação. Isso ressoa nos mais longínquos rincões, até nas mais distantes Alemanhas tropicalistas.

Levanta-se da cadeira, e a sua barriga, plena e esquecida, Aletheia, resvala e derruba o globo terrestre de cima da mesa. É o primeiro sinal de desordem. A primeira mancha branca da vergonha. Mas a morte ainda reina. Só ela escapa dos reinos da metafísica. Apenas Thanatos é o verdadeiro grego.

Enquanto segura o casaco, pronto para ir à Universidade, apresentar-se em Ser, novamente, o grande polvo olha os seus milhares de livros aprisionados em sua estante. Ouve um gemido.

O animal asqueroso preso na casa ao lado, geme. De sua jaula dourada, feita de mais de 1500 páginas de tinta negra e gordura, o animal asqueroso geme e exala o factível cheiro da vida. O professor aproxima os tentáculos e gruda a ventosa à parede, procurando o sentido do som.

Uma gargalhada. Uma gargalhada de saliva fétida e desespero.

Não haverá aula hoje. O velho professor tem um grande trabalho a fazer. Ele senta-se novamente, em sua mesa. Ignora os fragmentos do globo (com sua Alemanha gigantesca, descomunal) caídos a seus pés. O Ser deve se mostrar e se esconder, de novo. E se esconder em seu mostrar. VIRAVOLTA. É necessário reconstruir a Casa. A todo momento.

A (má) influência de um filósofo bigodudo sobre dois filósofos ranzinzas 1

L. W.

O bicho-pau duro e atlético caminha nos corredores da universidade britânica em passos velozes e medidos. Pela manhã, com a sua dureza, espartana, nascida da vitória sobre o desespero interno, já havia nadado e remado, objetivamente. Na universidade, ele é conhecido por sua crueldade e franqueza. Não há o que se pensar além do que se pode falar. E, talvez, ver. O mundo se apresenta em quinas. Farpas. É incrível como se sangra tão pouco em um mundo tão cheio de cantos.

A (má) influência de um filósofo bigodudo sobre dois filósofos ranzinzas 2

O mundo dos prazeres jamais o tocou realmente. Sua carcaça dura (de nogueira ou jacarandá?) permitiu que permanecesse incólume ao visgo mundano. O gozo jamais o seduziu ou deixou manchas brancas em suas roupas. Quem o tocasse, se surpreenderia com a dura tensão e os nós de seus braços e pernas, suas extremidades pontudas. Mas ninguém jamais o tocou.

O mundo interno só tem existência em virtude do mundo externo. E o mundo externo não comunica coisas além de si. Assim, o mundo interno não tem razão para existir. Um pau é um pau. Um pau mais um pau é um pau mais um pau. Não há dois paus. Não há comunicação além daquilo que é.

Mas esse homem que nada ouve ou cheira, que apenas vê, percebe um vulto imperceptível. O que será que vê? Teria visto algo que não fosse duro? Algo a se comunicar furtivo nos cantos? O que poderia (se é que isso é possível) atravessar a dura couraça lógica do seu corpo de pau? Teria lembrado de algo? De algum desenho ignorado ou da imagem de um predecessor há muito exorcizada? De alguém que terminou jogando sozinho o próprio jogo? O vulto teria um bigode?

O bicho-pau estacou. Um momento. Outro momento. Escondido (tem que ser escondido), pensa. Pensa que as coisas talvez se comuniquem. Talvez haja dois, onde ele pensou que só poderia haver (sempre) um. Às vezes, quem sabe, a verdade não seja pau, pedra ou gelo. Às vezes, pode ser um ACORDO. Um JOGO.


LEIA TAMBÉM: As relações filosóficas

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