Assassinos da Lua das Flores: A Épica Corrupção nas Terras dos Índios Osage [Review]
A ganância não conhece limites. Ela pode corroer amizades, relacionamentos conjugais e até laços familiares. Esse mal é uma constante na história dos Estados Unidos, desde o momento em que os colonizadores ingleses despojaram as tribos nativas americanas de suas terras ancestrais. Essa ganância está no cerne do mais recente filme do lendário diretor Martin Scorsese, “Assassinos da Lua das Flores”, baseado no livro de David Grann.
É uma história épica que se encaixa perfeitamente nas sensibilidades de Scorsese: corrupção, crime e personagens complexos enredados em circunstâncias que testam sua moral. Com o maior orçamento de sua carreira e reunindo seus atores favoritos, Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, que contracenam pela primeira vez desde “This Boy’s Life” em 1993, Scorsese transforma o que poderia ter sido traduzido em um podcast ou minissérie de televisão em um épico de 206 minutos sobre o crime americano, que remonta à fundação do país e permite ao mestre explorar territórios familiares e novos.
A História de Assassinos da Lua das Flores:
A trama de “Assassinos da Lua das Flores” se desenrola na década de 1920, quando membros da tribo indígena Osage, residente no Condado de Osage, Oklahoma, são assassinados após a descoberta de petróleo em suas terras. O FBI decide investigar esses crimes e traz à tona um enredo sombrio de cobiça, traição e poder desmedido.
O Elenco:
O elenco é estrelado por talentos consagrados como Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone, Jesse Plemons, Brendan Fraser e John Lithgow. Esses atores talentosos dão vida aos personagens e oferecem interpretações profundas que enriquecem a narrativa do filme.
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A Equipe:
A direção e o roteiro de “Assassinos da Lua das Flores” são liderados por Martin Scorsese, um diretor renomado conhecido por sua habilidade em contar histórias envolventes e complexas. Eric Roth é o co-roteirista, contribuindo para a criação de um roteiro envolvente e cativante.
Duração do Filme:
Com 206 minutos de duração, “Assassinos da Lua das Flores” é uma obra que mergulha profundamente na narrativa, permitindo que os personagens e a trama se desenvolvam de maneira detalhada, proporcionando uma experiência imersiva ao público.
A Narrativa:
A narrativa de “Assassinos da Lua das Flores” é, à primeira vista, aparentemente direta. Não há grandes mistérios ou reviravoltas chocantes no enredo. Desde o início, sabemos quem está por trás dos assassinatos. No entanto, Scorsese está mais interessado em explorar os temas e os personagens dessa história do que em criar uma narrativa convencional.
Essa atenção aos personagens permite que Leonardo DiCaprio, Lily Gladstone e Robert De Niro entreguem performances profundas que enriquecem a experiência de “Assassinos da Lua das Flores”. DiCaprio interpreta Ernest, um homem que aparenta ser bom e amável, mas que esconde uma escuridão que é imperdoável aos olhos do público. Sua interpretação é complexa e cheia de nuances, lembrando seu trabalho em “The Departed,” outro filme de Scorsese. A ingenuidade do personagem, combinada com o estilo de diálogo afiado de Scorsese, proporciona momentos de humor inesperado quando Ernest é colocado em situações desconfortáveis por figuras de autoridade.
Robert De Niro, interpretando William Hale, é magnífico em seu papel. Sua atuação é sutil e imponente, e ele representa o tipo de autoridade que exerce controle sobre Ernest. A química entre De Niro e DiCaprio quando compartilham a tela é magnética.
Lily Gladstone, por sua vez, oferece uma atuação poderosa como Mollie Burkhart, uma personagem trágica que enfrenta sofrimento inimaginável. Sua interpretação transmite uma dignidade e força que honram a personagem e o espírito de resiliência da tribo Osage diante da maldade que os cerca.
A Produção:
A produção do filme é notável, com cenários práticos construídos do zero para imergir o público na visão de Scorsese. O design de produção de Jack Fisk é altamente detalhado, e as cidades inteiras foram construídas do zero. A cinematografia de Rodrigo Prieto, em sua colaboração com Scorsese, é impressionante e varia de filme para filme. Em “Assassinos da Lua das Flores”, as paisagens ensolaradas dos campos de petróleo contrastam com a escuridão encontrada nas casas dos personagens, destacando os monstros que habitam as ruas cotidianas.
Edição e Trilha Sonora:
A edição de Thelma Schoonmaker é mais reservada em comparação com “The Irishman,” mas mantém o foco no elenco fenomenal. No entanto, uma edição mais enxuta teria sido possível, já que algumas cenas parecem prolongadas e desnecessárias.
A trilha sonora de Robbie Robertson confere a “Assassinos da Lua das Flores” uma personalidade distinta com suas composições de blues e rock. A música complementa a narrativa e cria uma atmosfera única para o filme.
A Reflexão Final:
“Assassinos da Lua das Flores” se apresenta inicialmente como o filme mais romântico de Scorsese até o momento, destacando o romance entre Ernest e Mollie. No entanto, à medida que a verdadeira natureza de Ernest é revelada, o filme mergulha em território sombrio, explorando as verdades cruas da nação e da vida. A mensagem é clara: o dinheiro e o poder prevalecem, e os ricos farão de tudo para manter aqueles que consideram inferiores em seus devidos lugares.
O final do filme oferece uma reflexão ousada e poderosa sobre como consumimos histórias como essa hoje em comparação com o passado, como essas histórias foram apropriadas e até mesmo a própria natureza cúmplice de Scorsese nessa narração. É um encerramento corajoso que torna “Assassinos da Lua das Flores” mais do que apenas um filme, mas uma obra que ecoa muito tempo após os créditos finais.
Com esse filme, Martin Scorsese, aos 80 anos, demonstra que ainda tem o toque mágico e continua encontrando novas maneiras de impulsionar a linguagem cinematográfica, mantendo o cinema vivo. “Assassinos da Lua das Flores” é um testemunho da habilidade do diretor em contar histórias envolventes e complexas e da capacidade do cinema de provocar reflexões profundas sobre a sociedade e a natureza humana.
Em última análise, “Assassinos da Lua das Flores” é uma obra-prima que cativa, emociona e faz o público refletir sobre a ganância, o poder e a justiça em uma nação que muitas vezes esconde seus pecados mais sombrios sob a superfície do progresso. É um filme que se destaca não apenas pelo seu elenco talentoso e produção impecável, mas também pela mensagem duradoura que deixa para trás. Martin Scorsese, mais uma vez, prova ser um dos grandes mestres do cinema.
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