No universo vasto das produções audiovisuais, é comum encontrarmos histórias que se repetem, seguindo fórmulas já estabelecidas. A série “Mar Branco” (Turn of the Tide em inglês) não foge a essa tendência, apresentando um enredo que remete a narrativas já conhecidas pelo público. No entanto, será que o clichê merece uma chance? Neste artigo, vamos explorar essa questão e analisar os pontos positivos e negativos dessa produção.
Antes mesmo de assistir a série, já é possível fazer algumas suposições sobre a trama. A história de um grupo de amigos que se vê envolvido em uma oportunidade inesperada, enfrentando problemas decorrentes dessa situação, não é nova. Filmes como “Onde os fracos não têm vez” já exploraram essa premissa, e desde então temos visto diversas adaptações com histórias semelhantes em diferentes formatos, países e gêneros. O fato de as histórias se tornarem tão recorrentes chega a ser embaraçoso.
O protagonista assume o papel de líder, há um interesse amoroso e os outros amigos têm suas personalidades moldadas de acordo com as necessidades da trama. Há perseguições, apostas arriscadas e acordos com o diabo que mudam no último minuto. Todas essas características já são esperadas antes mesmo de começar a assistir “Mar Branco”.
No entanto, isso não significa que a série não seja bem feita ou não tenha bons elementos. Ainda que não seja empolgante para quem está cansado desse tipo de narrativa, é preciso reconhecer que ela possui méritos. Uma diferença que se destaca logo de início é a personalidade do protagonista Eduardo. Ao contrário do que se espera, ele não é sempre confiante e destemido, mas sim assustado e nervoso diante das circunstâncias. Sua postura empreendedora e disposição para correr riscos, aliadas à sua humildade, despertam empatia no público.
No entanto, seria interessante conhecer mais sobre sua vida além das dificuldades enfrentadas. Além disso, a série apresenta personagens que parecem constantemente sob a influência de drogas, o que confere a eles personalidades diversas, desde a desamparo até a paranoia. Essa abordagem lembra outras produções, como “Narcos”, e cria uma atmosfera sombria e, ao mesmo tempo, intrigante.
O ritmo acelerado dos episódios é um ponto positivo de “Mar Branco”. Quando algo novo não está sendo tentado, o ritmo faz toda a diferença para manter o interesse do público. No entanto, há também elementos que acabam gerando situações involuntariamente engraçadas na série, como a semelhança do pai de Eduardo com Jesus e as calças de Rafael. Esses aspectos cômicos contribuem para a peculiaridade da produção.
É importante ressaltar que “Mar Branco” busca genuinamente ser divertida e consegue alcançar um sucesso moderado nesse aspecto. Em meio à adição implacável de conteúdo sem sentido presente em muitas plataformas de streaming, a série se destaca ao apresentar uma trama com algum propósito. A abordagem dos negócios e a dedicação dos atores são aspectos que merecem ser destacados. Albano Jeronimo, que interpreta Arruda, se destaca pela sua atuação, trazendo uma camada de urgência movida pela adrenalina à narrativa.
Seu estilo, dentes de aço, crueldade e ameaças desequilibradas adicionam uma dimensão interessante à trama. A negociação de sorvete com as crianças em troca de encontrar drogas no oceano é um exemplo marcante desse personagem. No entanto, é importante mencionar que Arruda está um pouco atrasado em relação à busca pela origem do “pó branco”.
Curiosamente, “Mar Branco” nos faz lembrar da série “Outer Banks”. Talvez seja pelo cenário semelhante e pelo fato de os protagonistas se envolverem em problemas que surgem devido à necessidade e ganância. Em determinado momento, fica claro que abrir mão da riqueza ou fechar um acordo seria o melhor para todos, mas é difícil abandonar os sonhos que sempre impulsionaram esses personagens.
Um aspecto que poderia ter sido melhor explorado é a explicação sobre o motivo de nada de bom acontecer na ilha, conforme mencionado pelo narrador. Seria por causa do tráfico de drogas ou haveria algo mais envolvido? Todos os protagonistas possuem certos sonhos de grandeza, mas como a cultura da ilha contribui para essas aspirações? Essas perguntas poderiam ter sido respondidas na série, fornecendo mais contexto para a motivação de Eduardo e enriquecendo a narrativa.
No geral, “Mar Branco”, clichê ou não, é uma série interessante o suficiente para merecer uma chance. Mesmo que possa parecer desanimadora nos primeiros momentos, a trama melhora ao longo dos episódios. Se nada mais, vale a pena assistir por causa do personagem Arruda, que se destaca pela atuação de Albano Jeronimo. A série pode não ser inovadora, mas apresenta elementos que a tornam cativante em seu próprio estilo.
Trailer e ficha técnica de Mar Branco
2023 | Classificação etária:A16 | 1 temporada | Drama
Um barco repleto de cocaína afunda na ilha onde Eduardo nasceu, e ele vê ali uma oportunidade arriscada de ganhar dinheiro e realizar sonhos impossíveis.
Estrelando: José Condessa, Helena Caldeira, André Leitão
Criação: Augusto Fraga
6 comentários em “Mar Branco: Análise da Série da Netflix | Clichê ou não?”