[Do editor] Os cinco melhores livros que li em 2018
Dois mil e dezoito foi um ano, no mínimo, controverso. No cenário político (caos como sempre), cultural, educacional e por aí vai… No blog Recorte Lírico não foi diferente. É certo que já nos tornamos uma importante marca no cenário cultural nacional (quiçá), entretanto passamos por altos e baixos nesse fatídico ano.
Porém, 2018 não foi só de lamentar-se. Conheci novos autores (outros não tão novos assim) e algumas obras importantíssimas, sobretudo nacionais. Dito isso, fiz uma breve seleção com os cinco melhores livros que li no ano – todos nacionais – e comentarei um pouco sobre os títulos.
5 – A imensidão Íntima dos Carneiros, de Marcelo Maluf (Editora Reformatório)
Romance intenso do Marcelo Maluf, primeiro do gênero, porém o autor do interior de São Paulo já escreveu outros, como uma coletânea de contos Esquece tudo agora e outro infantojuvenil. Resenhei sobre o livro no blog (leia clicando aqui) e eu gostei bastante da história.
A multiculturalidade como o romance é conduzido e os contextos desses lugares abordados no decorrer da trama é fundamental para o livro estar entre os meus cinco favoritos do ano. Eu indico muito a obra e tenho muito interesse em ler mais Marcelo Maluf em 2019.
4 – 51 Mendicantos, de Paulo de Toledo (Editora Éblis)
51 mendicantos é um livro despretensioso, sobretudo. Uma coletânea com dezenas de tercetos que prendeu a minha atenção de uma forma impressionante. Não tive a oportunidade de resenhar, comentar nada sobre a obra aqui no blog, mas sem demérito algum (tempo de baixo, entre os altos e baixos do blog já citado).
Mas faço questão de parafrasear Ronald Augusto, meu igual, quando escreveu sobre os mendicantos do Paulo no “Sul 21” (leia aqui): “51 mendicantos sabe principiar (“o choro vem do fundo do lixo”), e também pôr um término em seu curso (“coração pára no tórax”)”. Os cantos até atende a função self service, para leitura homeopática, mas sua intensidade e verdade contida em cada verso toma de súbito o leitor.
Dentre todos os livros desta lista, 51 mendicantos é o que mais me surpreendeu, por isso o apontei como despretensioso, no início. Foi uma leitura espetacular e sua intensidade o colocou como quarto lugar entre os livros favoritos que li em 2018.
3 – Identidades, de Felipe Franco Munhoz (Editora Nós)
Esteticamente é o livro mais bonito. Identidades, do paulista Felipe Franco Munhoz é um livro experimental. Uma releitura do Fausto, como nunca antes lido. O Fausto do Século XXI. O autor lança mão de toda a sua inventividade e dá um verdadeiro espetáculo.
Felipe utiliza de recursos linguísticos pouco comuns, mas claro, Natalia Borges Polesso já avisara na orelha do livro: “(…) sugiro que façamos um pacto. Porque para ler o que apresenta aqui, Felipe Franco Munhoz, é preciso de uma generosa dose de incompreensão”. Evandro Affonso Ferreira também “alertara”: “(…) Felipe Franco Munhoz, por exemplo, sabe, coincidentemente à semelhança do poeta português, arredondar a palavra – a frase, o parágrafo, o livro todo”.
Eu os cito pela precisão, Identidades é um livro único, com abordagens ímpares e formas de emprego de linguagem igualmente únicas. Fiz alguns apontamentos sobre o livro, leia-o neste link: https://bit.ly/2EW02VQ.
2 – Grito, de Godofredo de Oliveira Neto (Editora Record)
Tardiamente li o Grito, do professor Godofredo de Oliveira Neto, que é de 2016. O autor dispensa comentários: escreveu mais de dez obras de ficção, entre as quais O bruxo do Contestado e Amores exilados. É vencedor do Prêmio Jabuti e professor da UFRJ. Um currículo vasto.
A obra em si é espetacular. Eu escrevi “Um ‘Grito’ que ecoa dos tempos áureos do nosso teatro” para contar as minhas impressões sobre essa obra-prima moderna. Um outro Fausto, contemporâneo, negro, que sonha em ser ator e se junta à Eugênia, uma atriz octogenária.
A relação dos dois é intensa, profunda e interessante. O suficiente para ser o segundo livro favorito que tive a sorte de ler em 2018.
1 – O peso do pássaro morto, de Aline Bei (Editora Nós)
O peso do pássaro morto é o grande livro de 2018, mas não na minha lista. Aline Bei ganhou com o seu Pássaro o Prêmio São Paulo de Literatura (Melhor Livro do Ano – Estreantes / menos 40 anos). Aclamado pela crítica e um sucesso entre os leitores, Bei já visitou alguns países latino-americanos para apresentar aos hermanos a sua obra de estreia.
O livro conta toda a história, por assim dizer, de uma personagem comum, com perdas, com dor. O peso não martiriza o leitor, é um fardo que se pode carregar, compartilhando um com o outro. E foi assim que Aline alçou voos intensos e altos, como o prêmio recebido recentemente. Eu até cheguei a “prever” o óbvio sucesso que o livro teria numas linhas que escrevi sobre a obra (leia clicando aqui).
O mais incrível é que a “proesia”, como eu defino o livro, da Bei não é parecida com ninguém e nem com nada. É única. Talvez um dos livros e uma das escritas mais particulares em que eu já li na minha curta função de editor. O meu livro favorito lido em 2018.