Dias Perfeitos: Uma Reflexão sobre a Felicidade e Simplicidade

Cássio de Miranda

Em “Dias Perfeitos”, dirigido por Wim Wenders, somos convidados a mergulhar na vida cotidiana de Hirayama, um zelador japonês, cuja existência aparentemente mundana revela profundas reflexões sobre a felicidade e a simplicidade. O filme, com seus 123 minutos, nos afasta da agitação tecnológica do mundo moderno e nos guia por uma jornada de contentamento nas pequenas alegrias da vida. Contrariando a noção de que a felicidade está na acumulação de bens ou experiências extraordinárias, Wenders nos apresenta a um homem que encontra prazer na rotina e na natureza, enfatizando a ideia de que a perfeição reside na simplicidade do dia a dia.

Hirayama vive sozinho em um modesto apartamento e começa seu dia ao som do varredor de rua, um simples detalhe que o preenche de esperança. Sua rotina matinal de cuidar das plantas e escolher a música perfeita para acompanhar o nascer do sol reflete uma apreciação pelas coisas simples da vida. Ele mantém uma devoção quase espiritual aos cassetes, ignorando as tendências tecnológicas em favor da autenticidade dos sons analógicos. Essa escolha simboliza sua resistência à efemeridade do consumismo e sua busca por conexões mais significativas.

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No trabalho, apesar da natureza pouco glamourosa de seu ofício, Hirayama encontra satisfação na dedicação às tarefas cotidianas e na observação das sombras dançantes das árvores. O filme sugere que sua escolha profissional está ancorada no desejo de cuidar de espaços negligenciados e na necessidade de solitude. Um encontro casual com um menino perdido em um banheiro público e a reação apressada da mãe ao resgate revelam as complexas dinâmicas sociais e a invisibilidade frequentemente imposta aos zeladores.

Dias Perfeitos: Uma Reflexão sobre a Felicidade e Simplicidade
Dias Perfeitos: Uma Reflexão sobre a Felicidade e Simplicidade (Imagem: Reprodução)

Fora do trabalho, Hirayama se dedica a capturar momentos de beleza na natureza com sua câmera, encontrando companhia na constância do mundo natural e nas figuras periféricas de sua vida diária. A chegada inesperada de sua sobrinha, Niko, traz à tona questões sobre as escolhas de vida de Hirayama e a distância emocional entre ele e sua família. Através de Niko, exploramos a desconexão entre os mundos materialista e simplista, e a influência de Hirayama sobre sua visão de mundo.

O clímax emocional do filme “Dias Perfeitos” se desenrola quando Hirayama enfrenta um encontro desconfortável com o ex-marido da proprietária de um restaurante, levando a uma reflexão sobre as sombras da vida e a simplicidade das soluções. Essa interação, embora breve, destila a essência da filosofia de vida de Hirayama: a vida é tão complicada quanto permitimos que seja.

Ao fim, enquanto Hirayama escuta “Feeling Good” de Nina Simone, somos confrontados com a complexidade de suas emoções. Suas lágrimas misturadas a sorrisos não apenas ressaltam a dificuldade de suas escolhas de vida, mas também celebram a liberdade encontrada na simplicidade. “Dias Perfeitos” é um testemunho poderoso da capacidade humana de encontrar alegria nas pequenas coisas, desafiando a corrida desenfreada por mais e sugerindo que, talvez, a verdadeira felicidade resida na capacidade de estar contente com o que temos.

“Dias Perfeitos” não é apenas um filme; é uma meditação sobre a vida, uma ode à simplicidade e um convite para reconsiderarmos nossas próprias definições de felicidade e sucesso. Hirayama, com sua existência humilde e sua apreciação pelo momento presente, nos ensina que a felicidade verdadeira não está nas grandes conquistas, mas na beleza e tranquilidade do cotidiano.

Veja o trailer do filme Dias Perfeitos:

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