“As bestas” desafia os limites de tensão nas relações humanas
Um dos filmes mais interessantes do ano passado, “As bestas” (Las Bestias, 2022), dirigido Rodrigo Sorogoyen, que co-escreveu o roteiro com Isabel Peña, é um thriller de suspense com uma história tensa, humana e contemporânea.
A história acompanha Antoine (Denis Menochet, também em Bastardos Inglórios) e Olga (Marina Foïs), um casal francês, que se muda para uma vila no interior da Galícia, buscando uma vida bucólica. Lá, valorizando esse contato direto com a natureza, eles trabalham diretamente com a terra, plantando e vivendo diretamente da terra. Além disso, o casal trabalha na restauração de casas abandonadas.
O pacato vilarejo em que eles vivem passa por um momento importante onde os poucos habitantes, que no geral vivem com poucos recursos, recebem uma boa oferta em dinheiro para deixarem as suas casas para a construção de uma usina eólica no local.
Todos só não esperavam que um dos moradores que se negaria a sair da residência era justamente o “francês”, que só estava no vilarejo a pouco mais de dois anos, o que causa uma enorme tensão nos moradores, que frequentemente se encontram em um bar local.
As bestas trabalha muito bem as tensões humanas, pois a partir desse conflito que está posto, a simples presença de Antoine já é motivo suficiente para inflamar, principalmente, dois moradores locais, os irmãos Xan e Lorenzo, a ponto de uma hostilidade aberta ser trabalhada durante o longa.
Já na primeira cena de As bestas vemos alguns homens estragulando um cavalo, em uma composição com muita tensão e violência, o que acaba por ditar o ritmo do filme e, de certo modo, o que o destino reserva para os personagens.
Sem dúvida alguma “As bestas” é certeiro ao trazer o tema do xenofobismo e como ele é velado nas relações humanas, sobretudo com o atual movimento imigratório de populações inteiras da Ásia, por exemplo, para a Europa.
O preconceito e o conceito de não-pertencimento dos irmãos para com o casal francês, contrastando com o grande sonho dos imigrantes de viverem naquele local da Espanha é um fator extremamente relevante que os roteiritas abordam no tema.
O único “porém” do longa, que foi indicado a vários prêmios e foi exibido no Festival de Cannes de 2022, é o fato da sua duração ser maior do que se mostrou necessário.
Com suas 2 horas e 17 minutos, “As bestas” mostrou que em determinadas situações alguns núcleos da história poderiam “acontecer” com maior velocidade. Sobretudo quando alguns fatos determinantes acabam acontecendo.
Dito isso, “As bestas” entrega muito mais do que se tinha de expectativa, por todos os temas sociais e filosóficos discutidos, e é um dos melhores filmes de 2022.
fiquei com vontade de assistir!
Vale muito a pena, Rafael. Um dos melhores que vi ano passado, junto com Speak No Evil.