Sou de Virgem (I’m A Virgo): A Desconstrução de Super-Heróis e Capitalismo
O gênero de super-heróis tem conquistado cada vez mais popularidade ao longo dos anos. No entanto, muitas produções desse tipo acabam se tornando previsíveis e limitadas devido ao foco na venda de produtos relacionados. Porém, existem algumas obras que se destacam ao quebrar esse molde, como Watchmen, Invincible, The Boys e Kick-Ass. Agora, temos um novo candidato promissor nessa lista: Sou de Virgem (I’m A Virgo), uma série criada por Boots Riley e sua equipe de talentosos roteiristas.
Resumo da trama:
A história gira em torno de Cootie, um garoto com proporções corporais incomuns que se torna um adolescente de 13 pés de altura. Ele vive com Lafrancine e Martisee, que o protegem do mundo exterior por medo das reações que sua aparência pode causar. No entanto, um dia ele conhece os rebeldes do bairro – Felix, Jones e Scat – e decide explorar o mundo real, após ter conhecido apenas através de quadrinhos, filmes, programas de TV e notícias.
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Devido ao seu tamanho, Cootie acaba chamando a atenção do fascista local, conhecido como Hero. Embora Cootie não possua superpoderes, Hero usa seu dinheiro e inteligência para agir como uma extensão do sistema judicial opressor. Cootie precisa encontrar uma maneira de derrubar Hero sem comprometer sua recém-descoberta liberdade e popularidade.
Análise da obra:
Sou de Virgem (I’m A Virgo) aborda uma ampla gama de temas, como racismo, gentrificação, brutalidade policial, opressão sistêmica, classismo, propaganda, saúde, mercantilização do corpo negro, sexualidade e questões de saúde mental. O diálogo é preciso e consegue transmitir esses pontos de forma contundente, sem parecer moralista. No entanto, o aspecto mais potente da série é sua crítica ao subgênero de super-heróis como um cavalo de Troia para normalizar o capitalismo e enaltecer a violência patrocinada pelo Estado.
A série oferece uma experiência visualmente deslumbrante, com efeitos visuais, design de produção e figurinos de alta qualidade. A construção do mundo é impressionante, desde os detalhes minuciosos no quarto de Cootie até os elementos mais grandiosos, como o arranha-céu de Hero. As sequências animadas são uma mistura de “F is for Family” e “South Park”, acrescentando um toque único à narrativa. Os tons de vermelho, branco e azul são utilizados de maneira marcante para enfatizar a crítica ao sistema capitalista.
O elenco de Sou de Virgem (I’m A Virgo) entrega performances brilhantes. Jharrel Jerome interpreta Cootie com grande vulnerabilidade, transmitindo a angústia do personagem que deseja lutar contra o sistema, mas é obrigado a jogar de acordo com as regras estabelecidas pelos opressores. Olivia Washington traz graça, inteligência e empatia à personagem Flora, e sua química com Jerome é palpável. Allius Barnes, Brett Gray e Kara Young formam um grupo coeso, com nuances que vão se revelando ao longo da trama.
Destaca-se também a atuação de Carmen Ejogo e Mike Epps como figuras parentais exemplares. O desempenho descontraído de Craig Tate é hilário, enquanto Robert Longstreet interpreta um líder de seita que se veste como Steve Jobs de forma brilhante. E, é claro, Walton Goggins se destaca com sua capacidade única de alternar entre calma sombria e arrogância sarcástica.
Sou de Virgem (I’m A Virgo) é uma das melhores séries do ano, trazendo uma desconstrução eficaz do mito dos super-heróis e sua conexão direta com o capitalismo e a propaganda governamental. A série não tem medo de abordar os assuntos que costumavam ser explorados nos quadrinhos. No entanto, algumas subtramas ficam em aberto, o que pode ser um ponto fraco em relação à narrativa principal. Apesar disso, recomendo assistir a “Sou de Virgem” sem hesitação, formar sua própria opinião e compartilhá-la com outros espectadores.