“O Corvo” em A Queda da Casa de Usher: Um Símbolo da Morte Explorado
A série da Netflix, “A Queda da Casa de Usher”, é uma reimaginação contemporânea da obra de Edgar Allan Poe. O conto original, centrado na tristeza de Roderick Usher pela morte de sua irmã gêmea, Madeline, e a conexão de ambos com a mansão ancestral dos Usher, foi expandido na série para incluir elementos como um pacto diabólico, fraude farmacêutica e outros contos de Poe.
Além disso, a série incorpora os poemas do autor, notadamente “O Corvo,” que desempenha um papel crucial na trama. Vamos explorar como esse corvo, inspirado no poema de Poe, é reinterpretado na série e o que ele simboliza.
O Poema Original: “O Corvo” de Edgar Allan Poe
“O Corvo” é um poema icônico de Edgar Allan Poe que narra a história de um indivíduo desolado lembrando sua amada, Lenore, à meia-noite. Enquanto reflete sobre a perda de Lenore, ele ouve batidas à porta, mas ninguém está lá. O poema evoca um clima sombrio, com cortinas se movendo e o narrador hesitando em abrir a porta. Quando finalmente o faz, encontra apenas a escuridão. Ele murmura o nome de Lenore, ouvindo o eco de seu nome.
Em seguida, uma batida na janela revela a entrada de um corvo, que pousa sobre um busto de Pallas, a deusa grega associada à sabedoria e à arte da guerra. O narrador tenta interagir com o corvo, expressando seu desespero e anseio por esquecer Lenore, mas a única resposta que recebe é o enigmático “nunca mais.” O poema mergulha nas profundezas da melancolia, explorando temas de perda, tristeza e a impossibilidade de escapar da dor do passado.
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“O Corvo” em “A Queda da Casa de Usher” da Netflix
Na série A Queda da Casa de Usher, o corvo é um símbolo que desempenha um papel significativo no desenrolar da trama. Roderick e Madeline Usher encontram um corvo empalhado no bar de Verna após o assassinato de Rufus Wilmot Griswold, o antigo proprietário da propriedade Fortunato. Roderick percebe que manter um corvo em um local de negócios é um presságio de má sorte, enquanto Verna argumenta que em algumas culturas, os corvos são considerados auspiciosos. No entanto, na série, o corvo claramente representa a morte, associado ao personagem de Verna, que desempenha o papel de uma espécie de ceifadora.
À medida que a história se desenvolve, o corvo reaparece em momentos cruciais. Quando Roderick, Madeline, Arthur Pym e Lenore enterram Frederick e Tamerlane, Roderick vê o corvo novamente, o que o faz perceber que está chegando ao fim de sua vida. Ele entende que está no último capítulo de sua existência e que em breve perderá a pessoa que mais ama, Lenore. Ela é a última descendente da família Usher e a única pessoa que restou na imponente casa dos Usher, o que lhe oferece a oportunidade de buscar algum tipo de encerramento.
No entanto, a conversa final entre Roderick e Lenore é desoladora, já que ela descobre o destino trágico que aguarda a família Usher, devido à ganância de seu avô. Roderick opta por não revelar a verdade a Lenore, e ela só descobre quando entra em seu quarto e encontra Verna esperando para pôr um fim à sua vida.
Quando Roderick descobre o corpo de Lenore, vê o corvo dentro da casa e o segue até que ele pousa sobre o busto de Pallas. Nesse momento, a voz desencarnada de Roderick recita o icônico poema de Edgar Allan Poe, sublinhando o que ele sente, enquanto o corvo o observa. No entanto, o corvo apenas grasna e não repete o famoso “nunca mais.”
A Interpretação em A Queda da Casa de Usher
Uma das principais diferenças entre o poema “O Corvo” e sua adaptação na série A Queda da Casa de Usher é a relação entre Roderick e Lenore. No poema original, a situação de Lenore é ambígua, enquanto na série, fica claro que Lenore está morta. Essa distinção torna mais evidente a causa da tristeza do narrador na série. No entanto, Roderick, o protagonista, não é um personagem que inspire compaixão, pois sabemos que ele cometeu atos condenáveis. Nossa compaixão se volta, então, para Lenore, cuja versão literária era mais vaga e que não merecia o destino que encontrou.
É interessante notar que, na série, o corvo não repete o “nunca mais” tão característico do poema de Poe. Isso pode ser interpretado de duas maneiras: como um sinal de que, uma vez que a família Usher chegou ao fim, não representará mais uma ameaça para o mundo, ou como uma representação de como os seres humanos podem criar réplicas de seus entes queridos, mas essas nunca serão iguais às pessoas reais que talvez não tenham valorizado enquanto estavam vivas. A série nos lembra que, embora possamos tentar recriar o passado e as pessoas que perdemos, a realidade nunca corresponderá às nossas memórias e desejos.
O Desfecho da Série
O desfecho de A Queda da Casa de Usher é fiel ao conto original de Edgar Allan Poe, com a casa Usher desabando sobre Roderick e Madeline, enquanto o narrador da série, Auguste Dupin, observa. Embora o poema original não mencione um corvo, a série fecha a trama com Verna no topo dos destroços da mansão dos Usher, transformando-se literalmente em um corvo e voando para longe em uma noite tempestuosa. Isso reforça a natureza mortal e demoníaca do corvo, que se apresentou diante dos Usher para tentá-los a um acordo fatal.
A série nos alerta a não fazer acordos com pessoas cujo nome é um anagrama de “Raven” e que possuem um corvo empalhado em seu bar imaginário. É um lembrete de que nossas ações e escolhas podem nos levar a resultados sombrios e irreversíveis. O corvo, que simboliza a morte e o destino trágico da família Usher, é uma representação poderosa da escuridão que pode assombrar nossas vidas.
Conclusão
A série “A Queda da Casa de Usher” da Netflix oferece uma visão única e contemporânea de uma história clássica, mantendo viva a essência do legado de Edgar Allan Poe. O corvo, como símbolo, permanece tão intrigante e poderoso quanto no poema original, lembrando-nos de que o horror e a tragédia podem assumir muitas formas, mas sua presença é inegável. A série nos adverte sobre a natureza implacável do destino e nos instiga a refletir sobre as consequências de nossas ações.
Assim, enquanto assistimos a esta adaptação moderna, somos lembrados de que o corvo, assim como o narrador de Poe, é um símbolo ambíguo que pode conter muitos significados. Ele representa a morte, a tragédia e o inescapável, mas também nos faz questionar nossas próprias escolhas e a maneira como enfrentamos a perda e a desolação. “A Queda da Casa de Usher” é um lembrete de que, assim como o narrador de “O Corvo,” não devemos subestimar o poder dos símbolos e das forças sombrias que podem habitar nossas vidas, especialmente quando fazemos acordos com entidades sinistras.
Em A Queda da Casa de Usher, somos confrontados com a inevitabilidade do destino e as consequências de nossas escolhas, enquanto a presença constante do corvo nos lembra que o passado nunca está completamente enterrado. A morte e a tristeza podem assumir muitas formas, mas sua influência persiste, assim como o eco do “nunca mais” que ressoa em nossas mentes.
Veja o trailer da série A Queda da Casa de Usher:
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